Que pode ser mais apropriado para liderar um festival de terror do que a estreia do primeiro curta-metragem feito por um morto? Foi o que pensaram os diretores de “After Death”, que estreia nesta quinta-feira no Porto Rico Horror Film Fest 2013.
O roteiro foi elaborado pelo espírito de uma mulher e transmitido através de uma famosa médium durante uma sessão de espiritismo. “Pensamos que o melhor para anunciar o festival era criar algo que desse realmente medo; que, inclusive, desse medo até na gente”, explicou a Agência Efe, Mariano Germán-Coley, um dos diretores criativos da produção.
Assim, junto ao resto da equipe, Juan Camilo Valdivieso, David Padierna, Cándida Massielle Asencio, Jonathan García, Fernando Suárez e Juan Carlos Rodríguez, “chegamos à conclusão que a história que mais nos aterrorizava era esta: rodar o primeiro filme jamais feito por um morto”.
A equipe de produção, que conta com profissionais de Argentina, Colômbia, Espanha, Porto Rico, República Dominicana e Uruguai, contatou a médium Angie Gutierrez, muito famosa em Porto Rico, e propôs a ideia.
“À princípio Angie teve reservas sobre como íamos tratar este projeto. Não queria que fosse uma piada, que ridicularizasse ou tratasse (o assunto) de maneira superficial”, explicou Germán-Coley. Finalmente, “nos disse que faria a proposta a seus guias espirituais para ver se algum aceitava”.
Foi assim que entraram em contato, afirmam, com María Mercé, espírito de uma mulher escrava de origem africana que viveu em Porto Rico há duzentos anos e que propôs contar o que teria sido uma história real relatada a ela por outro espírito.
É a história de um casal que se conhece escutando uma canção e inicia um romance, mas ele morre em um acidente.
Do mundo dos mortos, ele volta para vê-la frequentemente e sempre põe essa mesma canção para ela dançar. No entanto, chega um dia em que ela já não quer mais, o que desencadeia toda uma série de conflitos.
“O filme realmente dá medo e agradou muito os coordenadores do festival, que inclusive estão pensando em levá-lo para outras mostras”, contou o diretor, que afirmou que o curta se manteve fiel ao relato desse particular roteirista salvo por um detalhe: a canção protagonista do filme era originalmente um bolero, mas “por problemas de direitos”, o transformaram em um tango russo.
A sessão de espiritismo foi gravada, transcrita e se transformou em película, sob a produção da empresa uruguaia Salgado e dirigida pelo argentino Nico Lacouzzi.
“O que nunca pudemos transcrever é a voz de uma menina que entrou no meio da sessão, e que só nos demos conta depois, quando escutamos a gravação”, conta, misterioso Germán-Coley.
Durante a pré produção a equipe documentou e consultou especialistas, como o psicólogo clínico e especializado em fenômenos paranormais Jesús Soto, a jornalista e diplomata Virgínia Gómez, dedicada também ao tema, e o produtor e fotógrafo Jochy Melero, por ser santeiro (religião muito comum na América Central que mescla elementos católicos com iorubás).
“Antes de rodar queríamos estar seguros que um espírito podia, de verdade, dar o roteiro de um filme. As reuniões, mais outros estudos e consultas que realizamos nos confirmaram que o que íamos fazer era real”.
Com os depoimentos também foi feito um documentário de apoio que será exibido durante a estreia da quarta edição do Porto Rico Horror Film Fest 2013, que acontece na capital porto-riquenha até no domingo.
Com variedades que vão desde os clássicos “gore” até o gótico tropical da Colômbia e mais de uma centena de trabalhos difíceis de encontrar nos circuitos comerciais, este é o evento de cinema de terror mais importante do Caribe.
Brasil, Argentina, México, Uruguai estão entre os 60 países representados em uma oferta “pensada para satisfazer a demanda de um público jovem, ansioso de ver este gênero, quase inexistente nas salas comerciais”, argumenta o diretor do festival, que homenageia este anos o cinqüentenário de “Os pássaros”, de Alfred Hitchcock.
Tippi Hedren, protagonista do longa do mestre do terror, está em San Juan para receber uma homenagem a sua carreira.