Ela já foi copiada em filmes, novelas, minisséries e seriados de TV, e até ganhou musical da Broadway (!!!), continuação no cinema (credo) e um recente remake (argh!). Mas nada supera a versão original, o clássico absoluto Carrie, a Estranha (1976).

Tudo começou com o livro Carrie, lançado em 1974 – é o primeiro da carreira do endeusado Stephen King, mestre da literatura de suspense e horror. Rapidamente o livro foi transformado em roteiro de cinema por Lawrence D. Cohen, e chegou às telonas dirigido por Brian DePalma – o filme acabou consagrando o diretor como o principal discípulo do mestre do suspense no cinema, Alfred Hitchcock (1899-1980).

A história é mais do que conhecida: a tímida e introspectiva adolescente Carrie (Sissy Spacek, que tinha 26 anos ao rodar o filme) sofre com a vida escolar, sendo desprezada pelas colegas cruéis, e vive sem amigos. Ainda por cima, mora numa casa sinistra em companhia da mãe, uma fanática religiosa que aterroriza a filha com suas repressões e loucuras.

A sequência de abertura mostra Carrie sofrendo mais um ataque das colegas, que acabam punidas pela direção da escola – provocando assim a ira de uma das garotas, Chris (Nancy Allen), que cria um plano diabólico para se vingar da pobre Carrie.

O plano envolve o baile de formatura do colégio. Carrie acaba sendo convidada para ir em companhia de Tommy Ross (William Katt), um dos galãs da escola. Mas o tal plano macabro vai explodir no clímax do filme, em pleno baile. Carrie irá então se vingar de todos, usando seus ilimitados poderes telecinéticos. Sim, esquecemos de mencionar este “detalhe”: Carrie possui incríveis poderes paranormais, como é comum em inúmeros personagens criados por Stephen King.


Como vemos, o grande tema do filme é o bullying escolar. Se você sofreu algum tipo de bullying na escola, com certeza já quis se vingar – quem nunca? Carrie é a projeção de todas as vítimas de bullying: graças a seus poderes paranormais, tem a chance de dar o troco. Toma lá dá cá? Pois é…

Atualmente, vivemos a luta contra o bullying. O termo está na ordem do dia, e aliás, o próprio uso do termo é recente. Antigamente, ninguém nem sequer falava essa palavra. Hoje, quando os nerds, gays, gordinhos e esquisitos (vítimas preferidas do bullying escolar em décadas passadas) já estão se impondo com muito mais força, o cenário é outro, muito melhor do que na época do livro e filme de Carrie. Mas a luta continua, ainda há muito o que fazer.

Por isso, Carrie, a Estranha (o título português acabou acertando na mosca!) está muito mais moderno do que há 40 anos. Tanto em termos de cinema, quanto de temática. A linguagem pop e quase de HQ (telas divididas como nas histórias em quadrinhos), pré-Tarantino, utilizada por DePalma é até hoje visionária. O próprio excesso de sangue e a violência explícita do final são pistas para o que Tarantino faria anos depois.

Quanto ao tema, muito se pode dizer. Além do bullying, temos a questão da repressão sexual através da religião – a louca mãe de Carrie, Margareth (vivida com brilho por Piper Laurie), define o sexo como pecado, claro. No trecho final, ela chega a admitir que na única vez em que fez sexo com o marido (quando Carrie foi gerada), acabou gostando daquele prazer.

Perturbada com seu próprio prazer, a personagem passa a combater aquilo, chegando ao ato final de tentar liquidar a filha, quando esta se recusa a seguir os passos da mãe. A mãe de Carrie é um símbolo perfeito de certos religiosos que andam por aí hoje em dia, alguns a bordo de cargos políticos, tentando interferir na vida sexual de todo mundo…

Por fim, vale dizer que é uma emoção, um frisson, um calor assistir Carrie, a Estranha numa tela de cinema. A oportunidade é agora: o filme é a atração da semana do projeto Clássicos Cinemark, e terá mais uma sessão nas salas da rede, nesta quarta-feira (22/07), em várias cidades do Brasil. Confira no site do Cinemark, e vá – como dizia o trailer original do filme: “Se você tem um gosto por terror, você tem um encontro com Carrie”.


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Em tempos de luta contra o bullying, "Carrie a Estranha" é mais moderno do que nunca

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