Pôsteres e imagens da animação Rio, de Carlos Saldanha
De férias no Brasil, “em dois meses sabáticos”, como ele mesmo diz, o cineasta Carlos Saldanha, diretor de grandes blockbusters de animação, como a trilogia “A Era do Gelo” 2 e 3, “Robôs” e “Rio”, aproveitou para lançar esta semana o DVD de “Rio 2”. O filme já está no posto de segunda maior bilheteria do país no primeiro semestre de 2014, com um público estimado em 5 milhões, e arrecadou mais de 400 milhões de dólares no mundo todo. “Foram três anos de realização, mas passou rápido. Quando você pisca, já está lançando o DVD”, disse o cineasta em entrevista exclusiva ao Vírgula. A partir de agora, Saldanha encerra a etapa “Rio 2” e mergulha em novíssimos projetos, que inclui a sua estreia na direção de atores, em longa com Rodrigo Santoro e Bruna Linzmeyer.
Na seara da animação, sua especialidade, ele está há dois anos preparando “Ferdinand”, desenho que tem como protagonista um touro carismático. “É um clássico da literatura americana, dos anos 30, que conta a história de um touro que não quer lutar. Tentam fazer com que ele se torne corajoso, mas Ferdinand é sensível e prefere cheirar as flores do campo”, conta. “A história fala sobre como devemos ser respeitados pelo que realmente somos. É muito bonita”. Como quase tudo o que Saldanha faz, o filme também tem prazo longo para ficar pronto: 2017. Enquanto isso, aguarda o lançamento de “Rio, eu te amo”, previsto para setembro.
Ele foi o primeiro dos dez cineastas participantes a filmar seu episódio para o longa – que vai contar dez histórias, de dez diretores, tendo a cidade do Rio como pano de fundo. Saldanha rodou seu pedaço há um ano, com Rodrigo Santoro e Bruna Linzmeyer nos papéis principais, no Theatro Municipal carioca. Os dois atores interpretam um casal de bailarinos que vive um romance. “Eu me diverti muito, foi maravilhoso. Foi a primeira vez que trabalhei com atores em um filme. Achei mais fácil do que animação”, conta. O diretor não resistiu a incluir cenas de animação – uma dança de sombras com motivos do Rio de Janeiro, Arcos da Lapa, calçadão de Copacabana etc.
Carioca exilado em Nova York desde 1991, Saldanha visita o Rio mais de uma vez por ano, já que tem parentes até em Marechal Hermes, bairro do subúrbio onde nasceu e foi criado, e se hospeda no seu apartamento em Ipanema, quase sempre ao lado da mulher e duas filhas. “O meu relacionamento com o Brasil é literalmente meio a meio. Estou lá, mas minha cabeça às vezes está aqui, e minha família está toda no Rio. Eu não me sinto estrangeiro na minha cidade. Me sinto em casa”, avalia. Embora tenha saudades da terra natal, ele não pensa em voltar tão cedo: “Não tem como porque minha vida profissional está toda nos Estados Unidos”.
Na semana que vem, mesmo de férias, Saldanha acompanhará o 22° Festival Anima Mundi, que vai apresentar centenas de filmes animação de vários países no Rio e em São Paulo. “Nos últimos 20 anos, a comunidade de animação aumentou muito no Brasil e este universo mudou bastante. Tem filmes expressivos sendo feitos, embora ainda não haja uma indústria própria. Há uma evolução gradativa, sem dúvida”. Aos 46 anos, o mais reconhecido animador brasileiro da atualidade sabe que é uma referência para as novas gerações, mas rejeita o rótulo: “Eu é que me inspiro neles. Quando vou aos festivais de animação, vou para ver a galera, ver o que está sendo feito de novo, pegar inspiração. Esse intercâmbio de projetos e ideias é que dá gás para a gente continuar”.
DVD “Rio 2” tem cenas inéditas
Empolgado com o lançamento do novo produto de “Rio 2”, Saldanha diz que muito do conteúdo extra do DVD foi pensado e produzido durante a realização do filme. Além de jogos para as crianças, clipes das músicas que fazem parte da trilha sonora do filme e making of, traz ainda algumas cenas inéditas, cortadas pelo cineasta na hora da montagem. “Na hora que decidimos deletar a sequência, fiquei triste porque queria muito colocar no filme. Os animadores reclamaram. Então, é bom ver que ela sobrevive porque entra no DVD”, conta.