Veja fotos de Desenrola, com Kayky Brito


Créditos: divulgacao

Rosane Svartman, diretora de Desenrola, conversou com o Virgula. Ela
falou um pouco sobre como foi comandar a garotada do longa-metragem e
também da dificuldade de filmar algumas cenas, principalmente as
quentes, por envolver menores de idade.

Svartman também comentou o tema do filme, o sexo na adolescência. Rosane falou até em que década ela mesma perdeu a sua virgindade e que deu uma de professora “ranzinza” para cima dos atores.

Assista ao trailer de Desenrola e, logo abaixo, leia a entrevista na íntegra.

Os temas juvenis há um tempo dominam o cenário cinematográfico brasileiro. Temos filmes como As Melhores Coisas do Mundo, Os Famosos e os Duentes da Morte. Qual foi a sua motivação e por que você decidiu trabalhar com o tema “sexo na adolescência”?

Todos esses filmes foram produzidos mais ou menos na mesma época e provavelmente chegaram à mesma conclusão que a gente: faltam ou faltavam filmes com essa temática no Brasil. Dizem que os adolescentes são o grande público da cinematografia mundial, é importante (re) conquistar esse público para o cinema brasileiro.

É importante que eles se vejam na tela. Mas, na verdade, o tema primeira vez sempre me interessou e quando começou a pesquisa para o filme, através de uma série de documentários chamada Quando Éramos Virgens, eu percebi que queria falar desse assunto através dos adolescentes que estão vivendo isso hoje, e não fazer um filme de época, ou nostálgico. (tá, minha primeira vez foi na década de 80). Então demos início a um longo – e super prazeiroso- trabalho de pesquisa na web, nas escolas, fizemos literalmente centenas de entrevistas e lemos o roteiro com alunos de mais de dez escolas entre Rio e São Paulo.

Não é normal o brasileiro ver adolescentes em cenas picantes no cinema, principalmente quando se trata de um filme nacional. Qual foi o seu cuidado para não tornar o filme ousado demais, o que muitos pais poderiam reprovar?

É um equilíbrio delicado entre tentar ser fiel ao universo retratado e ao mesmo tempo não valorizar atitudes que poderiam causar a rejeição dos pais e/ou aumentar a classificação indicativa e impedir que o público alvo visse o filme. Foi bacana ouvir dos próprios jovens que assistiram ao filme em fase de edição que a falta de palavrões era bacana, por exemplo. Bem, tem alguns, mas é que eu achei importante não alterar (muito) o jeito do Vitor Thiré “incorporar” o Amaral.

Tentamos também evitar as drogas, até porque esse não é o foco do filme.  Como o tema já é bem delicado, e como meus atores são menores de idade, tivemos um cuidado especial com as cenas mais ousadas. Elas tinham que parecer reais, mas não podiam ser explícitas. Por isso a cena da Priscila com o Rafa na canoa, por exemplo, foi feita através de detalhes de beijos, pés, pedaços do corpo.

E como foi filmar essas cenas com eles? Chegou a barrar algumas coisas ou deixou tudo fluir naturalmente?

Tudo é muito marcado e ensaiado, apesar do objetivo final ser que pareça natural. Geralmente os adolescentes me perguntam como fizemos a cena da canoa, nos debates.  Eu acho, espero, que isso seja sinal de que eles acharam real. Bom, filmamos a noite, em película, então tinha o problema do foco, que era muito difícil. Por isso combinávamos com os atores cada movimento, e filmávamos de forma bem fragmentada. Outro problema era a continuidade.

Teoricamente o Rafa e a Priscila tinham acabado de sair da água, então a gente precisava borrifar os dois o tempo todo. E eles estavam vestidos o durante a cena, com roupas de banho, que cismavam em aparecer no meio do take, mais um motivo pra a marcação de cena e câmera. Não é nada romântico filmar cenas quentes com adolescentes.

Como foi trabalhar com um elenco tão jovem? E como é dirigir Kayky Brito? Quem deu menos trabalho durante a sua direção?

Os jovens atores são muito disponíveis, sempre animados, de bom humor, é contagiante. Ao mesmo tempo, se desconcentram muito rápido e eu às vezes me sentia aquela professora ranzinza do primário, pedindo silêncio ou ameaçando separar dois bagunceiros que falam demais. O Kayky Brito é muito experiente, mas também é bastante jovem e quando filmávamos cenas de grupo, eles viravam uma grande turma, como nas cenas do camping.

Isso foi ótimo pro filme. Mas lembro que na cena da fogueira, por exemplo, tive que dar algumas broncas, por que eles esqueciam que aquilo era uma filmagem, com todas as “chatices” que uma filmagem exige: foco, marcação, som, continuidade etc.

Você dirigiu um filme sobre descobertas sexuais na adolescência do jovem e o lado homossexual de um personagem foi tocado brevemente. Por que Desenrola não se aprofundou neste tema?

 O personagem do Caco nasceu nas leituras em sala de aula, a gente percebeu que os adolescentes queriam muito conversar sobre orientação sexual. A questão da gravidez na adolescência também. Mas essas histórias não eram a história principal, na verdade surgiram depois.

O Caco e a Tize deram muito trabalho, porque a gente às vezes achava que estava demais e às vezes achava que estava fraco. Chamamos mais um roteirista para ajudar nesse equilíbrio. Mas foram as próprias leituras em sala de aula e principalmente os debates que vinham depois dessas leituras que ajudaram a gente a perceber que essas histórias não precisavam se fechar com o filme.

Fizemos uma sessão muito bacana no SESC Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, para 480 alunos. E naquele auditório cheio de adolescentes do Brasil inteiro (os alunos moram na escola) foi muito gratificante quando a primeira participação foi justamente de uma estudante do Piauí agradecendo pelo filme ter um personagem como o Caco.


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Confira uma entrevista exclusiva com a diretora de Desenrola, Rosane Svartman

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