Quem gosta ir ao cinema para assistir a filmes que não entram no
circuito comercial costuma encontrar dificuldades. Se esta é uma realidade de
grandes cidades, nas menores então, nem se fala. Felizmente, o Rio de Janeiro
viu vários cineclubes surgirem durante a última década, espalhados por várias
localidades do Estado. Idealizados por jovens que veem no cinema a chance de
levar lazer e cultura ao maior número de pessoas possível, os cineclubes costumam
ter programação intensa.
Um desses espaços é o Cineclube Donana, que funciona
no centro cultural de mesmo nome, em Belford Roxo. Uma de suas organizadoras é
Erika Nascimento, 24 anos, formada em Artes Cênicas e estudante de Gestão
Cultural. O Virgula bateu um papo com ela. Confira:
Como o Donana surgiu em sua vida?
O Centro
Cultural Donana foi fundando pela minha família paterna no fim da década de 80,
era abrigado no quintal da minha avó, Dona Ana. Era movido por festas de
reggae, capoeira e pela Escolinha Donana, onde estudei quando tinha três anos
de idade. Porém, em 96 o Donana fechou as portas por falta de verbas e
falecimento do meu avô. Quinze anos mais tarde meu primo, Diego Jovanholi, e eu
resolvemos fazer um evento voltado ao cinema, música e artes plásticas, chamado
Cinerock. E foi então que surgiu a ideia de realizarmos no Donana. Começamos a
exibir filmes com ajuda de amigos que muitas vezes emprestavam projetor e caixa
de som. Com isso, vieram muitas outras atividades culturais e festas, que
acontecem até hoje.
Qual eram os seus principais objetivos ao formar o cineclube?
O principal
objetivo era poder dar acesso e informação a outras pessoas da região,
principalmente, às crianças, público fiel do Cineclube Donana.
Em que momento está atualmente o Cineclube Donana?
O cineclube
ficou parado por mais ou menos um ano por conta do projetor que havia queimado.
Reiniciamos as atividades há três meses, com um encontro que reuniu
cineclubistas, produtores culturais e artistas. A ideia é exibir um filme ou
curta todo segundo domingo do mês, e também convidar outros cineclubes do
Rio de Janeiro e cineastas para exibirem seus filmes por lá. Queremos ainda tentar
reunir outras linguagens, como música, poesia e artes plásticas. Além disso
pretendemos exibir filmes para crianças com o Cineclubinho Donana duas vezes
por mês. A próxima sessão do Cineclube Donana será no dia 09 de junho às 15h
com o filme “Occupy Love”.
Que tipo de retorno você tem com o cineclube?
É muito gratificante poder exibir filmes que dificilmente seriam exibidos
na região e no circuito dos cinemas. Assim como eu tive acesso a esses filmes,
é legal poder passar para outras pessoas também. Além de me divertir um bocado.
Como costuma ser a receptividade da comunidade aos filmes exibidos? Que
estilo de filme costuma fazer mais sucesso?
O maior público
do cineclube são jovens interessados em cinema e as crianças que moram próximas
ao Donana. Acho que as crianças são as que mais curtem o cineclube, sempre vão ao
Donana e perguntam quando será a próxima sessão. Os filmes que mais fazem sucesso com as
crianças são as animações. Já entre os jovens, são os filmes independentes.
Qual a
importância da existência de cineclubes para comunidades como a de Belford
Roxo?
A cidade de
Belford Roxo é a sexta mais populosa do Rio e não tem uma sala de cinema na
região. Não querendo comparar o cinema com o cineclube, mas acho que este pode
ser um viés de acesso a um novo olhar para o cinema, como é para mim, e pode
servir para outras pessoas que vivem na região e não têm como se deslocar para
outra cidade para ir ao cinema e gastar, no mínimo, R$20,00.
Quais o principal desafio do cineclube?
É a manutenção
dos equipamentos, pois como comentei antes, quando o projetor queimou precisamos
suspender as atividades por quase um ano. Outro fator importante é a formação
de um novo público, principalmente ao redor do Donana, e também manter o
público sempre participando das atividades do cineclube. Aproveito para dizer
que o Donana está com uma campanha de doação on-line aberta até o dia 30 de
junho (Clique aqui para doar).