No dia 6 de julho de 2023, morreu José Celso Martinez Corrêa, dramaturgo, ator, escritor, agitador e uma das figuras mais lendárias do cenário cultural brasileiro. Fundador do Teatro Oficina, Zé Celso foi símbolo do tropicalismo e da antropofagia criativa nacional. Tanto sua vida como também sua morte deixam marcas eternas. Por causa dessa importância a 17a CineBH – Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte, que acontece entre 26 de setembro e 1o de outubro, vai promover um recorte especial dedicado a ele, dentro da seção Diálogos Históricos, com a presença de críticos e pesquisadores convidados para comentarem cada filme.
> Siga o Virgula no Instagram! Clique e fique por dentro do melhor do Entretê!
Predominantemente vinculado às artes cênicas, Zé Celso teve também importantes presenças no cinema, forma de expressão que era uma de suas favoritas e com a qual também muito se relacionava. Foram selecionados três longas-metragens que, de certa forma, resumem a presença de Zé Celso nas telas. “Vários foram seus trabalhos na área, então o recorte de três obras é apenas representativo dessas facetas do Zé Celso que impregnaram as telas com sua presença vulcânica”, afirma Marcelo Miranda, curador da mostra Diálogos Históricos junto com Cléber Eduardo. “A trinca de filmes, se não esgota o tamanho de Zé Celso nos palcos ou nos cinemas, expande no público a compreensão do gigantismo desse artista e o quanto ele extravasava quaisquer dos espaços que ocupou”.
O primeiro filme, no dia 27 (quarta-feira), é “Prata Palomares” (1970), dirigido por André Faria e que teve roteiro de Zé Celso, marcando sua primeira participação num projeto de cinema. O elenco ainda conta com atores do Teatro Oficina e de toda a filosofia de performance que era importante ao grupo, capitaneado pelo dramaturgo. No enredo, dois guerrilheiros em fuga se escondem na igreja de uma pequena cidade. Um deles (Renato Borghi) se disfarça de padre enquanto o outro (Carlos Gregório) prepara a rota de fuga. O primeiro aos poucos adentra por demais o personagem e rompe com a guerrilha, acreditando que a religião pode ser um ponto de salvação. A roda de conversa logo depois da sessão será com o pesquisador de cinema Hernani Heffner e com o diretor André Faria.
No dia 28 (quinta-feira), é a vez de “O Rei da Vela”, único filme dirigido por Zé Celso, aqui em parceria com Noilton Nunes. É um retorno à sua encenação mais famosa, mas nem de longe um “teatro filmado”. O título tem por referência a famosa adaptação do Teatro Oficina em 1967 da peça original de Oswald de Andrade de 1933. Na época, o espetáculo foi censurado pela ditadura e somente voltou aos palcos em 1971, quando Zé Celso passou a filmar algumas das apresentações no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro. Esses registros audiovisuais se perderam por anos, depois que o dramaturgo precisou se exilar fora do Brasil para escapar da violência dos militares. Ao retornar ao Brasil no começo dos anos 1980, Zé Celso decidiu fazer um filme a partir das imagens de “O Rei da Vela”, mas reconfigurando tudo e inserindo outras reflexões, num verdadeiro épico tropicalista de quase duas horas e meia. O bate-papo após a sessão será com a crítica e pesquisadora de artes cênicas Soraya Belusi e com o diretor Noilton Nunes.
Por fim, no dia 29 (sexta-feira), o documentário “Fédro” (2021), de Marcelo Sebá, fecha a Diálogos Históricos mostrando o próprio Zé Celso na tela. O filme reúne o dramaturgo a um de seus antigos pupilos, o ator Reynaldo Gianecchini. Os dois não se encontravam há duas décadas, desde quando este último se desligara do Oficina. Num apartamento, acompanhados apenas pela pequena equipe de filmagem, Zé e Reynaldo falam sobre arte, vida, corpo, sexo, gozo, política e outras intimidades. Desnudam-se, provocam-se, tocam-se, numa comunhão de afetos ainda mais comovente diante do atual contexto da ausência abrupta de Zé Celso. A roda de conversa em seguida será feita com a crítica e pesquisadora em artes cênicas Júlia Guimarães e com o diretor Marcelo Sebá.