Uma década depois do lançamento do aclamado filme Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, um documentário assinado por Cavi Borges e Luciano Vidigal recolhe o sinuoso percurso da vida de 30 de seus atores.
Alguns se transformaram em artistas internacionais, como Alice Braga e Seu Jorge, outros não prosseguiram com a carreira de ator atribuindo o afastamento ao racismo, e alguns levaram à realidade seu papel na ficção, entrando no tráfico de drogas.
O documentário Cidade de Deus, 10 anos depois estreará no final do ano para mostrar o que mudou na vida de seus intérpretes, a maioria deles não profissionais na época, explicou à Agência Efe Vidigal, que apresenta em Lisboa no festival lusófono FESTin seu filme Copa Vidigal.
Os míticos personagens Dadinho, Bené e Zé Pequeno, entre outros, desfilam pelo documentário dez anos após protagonizar o filme que em 2002 “voltou a colocar o Brasil no mapa”, de acordo com a opinião de Vidigal, que colaborou na famosa obra como caça-talentos nas favelas do Rio de Janeiro.
“Muitos deles eram muito pobres, não tinham feito filmes e tinham vontade de ter um status que o filme lhes deu”, relatou o diretor, que também se destaca em sua faceta de ator por seu extenso trabalho em mais de dez filmes.
No entanto, o tempo discriminou os caminhos profissionais e gerou vários abandonos entre os envolvidos, alguns com caráter cinematográfico.
“Uma minoria, de dois ou três atores, desapareceram e parece que entraram no tráfico, se dedicaram a assaltos”, explicou Vidigal.
Cidade de Deus marcou o cinema brasileiro e passou a ser referência para outros bem-sucedidos filmes como Tropa de elite (2008), de José Padilha, lembrou o diretor carioca.
Para Vidigal, é difícil avaliar se a imagem estereotipada das favelas retratada em “Cidade de Deus” repercutiu positiva ou negativamente nos moradores dessas áreas.
“O tratamento da favela se divide em opiniões. Tem pessoas que odeiam, que acham que sempre são retratados de forma sensacionalista e tem pessoas que adoram”, disse.
Luciano Vidigal, que mora no subúrbio do Rio de Janeiro, onde tem vários projetos sociais em andamento, lamentou a situação dos moradores das regiões mais pobres, que são esquecidos pelo poder público, por isso falta a eles acesso à informação e à cultura.
“Só teremos um Brasil melhor quando essas favelas que existem, ricas em poesia, beleza, tenham acesso ao sistema de educação, saúde e cultura”, opinou.
“As favelas são parte do Rio de Janeiro. Quero que se vejam como lugares de seres humanos”, acrescentou.
O diretor espera que seu documentário esteja pronto no início de outubro e possa ser apresentado no festival internacional do Rio de Janeiro, além de conseguir os apoios suficientes para que estreie no festival de Cannes de 2013.