O cinema brasileiro entrou nesta terça-feira 911) na mostra competitiva do Festival de Berlim com o longa Praia do Futuro, uma história de amor homossexual que começa em fortaleza e se desenvolve na capital alemã.

Da praia brasileira às exibições de corpos com ares de calendário “gay” sob o céu de Berlim, o filme de Karim Aïnouz, que traz Wagner Moura no papel do salva-vidas Donato, transita por conceitos de virilidade e de super-herói a partir da ligação entre dois irmãos.

“Adotei algo da lição de coragem que nos deixou (Rainer Werner) Fassbinder. O medo que nos paralisa, algo oposto à coragem que necessitamos para vencer e olhar para frente”, explicou o diretor franco-brasileiro sobre seu filme, um dos 20 candidatos aos Ursos de Ouro.

A partir de uma trágica passagem – a morte de um motorista alemão afogado na praia que dá nome ao filme -, Donato criará uma forte conexão com seu amigo sobrevivente (interpretado pelo ator Clemens Schick), quem lhe tirará de sua praia e o transformará em um limpador de aquários gigantes em Berlim.

“É uma história de amor que não fica só nisso, mas também aborda os medos de quem se arrisca a viver em um entorno que não é o seu”, acrescentou Wagner Moura ao falar de seu personagem, um imigrante brasileiro perdido pelas ruas de Berlim.

O tema central envolve a saudade do imigrante de uma praia repleta de parques eólicos e contêineres industriais, mas, como as aparências enganam – sobretudo em cinema -, o eixo acabará sendo mesmo o irmão menor que o salva-vidas deixou em fortaleza.

Aïnouz reside em Berlim, Wagner Moura é um velho conhecido da casa – após seu papel em Tropa de Elite, Urso de Ouro em 2008 – e seu filme é “tão de Berlim como de fortaleza, as duas cidades que mais amo”, explicou o diretor.

Além de “Praia do Futuro”, que pode assegurar o terceiro Urso de Ouro ao Brasil – o primeiro foi com “Central do Brasil” -, a mostra competitiva também apresentou o filme “Zwischen Welten” (“Inbettween Worlds”), de Feo Aladag, o quarto representante do cinema alemão.

O cenário agora é o Afeganistão, enquanto seu protagonista é um bom soldado em uma guerra equivocada: ou seja, um alemão nas tropas internacionais (Isaf).

Aladag coloca Ronald Zehrfeld, um dos protagonistas do romântico filme sobre (Friedrich) Schiller, “Die geliebte Schwester”, em um recital de dilemas morais, inserindo-o na mesma região onde seu irmão morreu em um atentado.

O filme é um catálogo de boas intenções, onde cada frase do soldado ou de seu intérprete – Mohsin Ahmady – pretende trazer ao público os desatinos da guerra, a injustiça do mundo e, inclusive, como a população afegã observa esse teórico “aliado”.

Já o longa “Stratos”, que encerrou a jornada de hoje, é um daqueles filmes que o único momento prazeroso que possui é o do final, após exatos 137 tortuosos minutos de puro negativismo.

Seu diretor, Yannis Economides, reflete através de Stratos – um homem enxuto que alterna o trabalho de padeiro com o de matador de alugel – a decadência de uma sociedade (a grega, neste caso) que renunciou todos os seus princípios.

O diretor do Festival de Berlim, Dieter Kosslick, incluiu este filme na competição com o argumento de que o mesmo retratava uma sociedade empobrecida pela crise e foi muito criticado por isso, assim como pela inclusão de quatro representantes alemães – sem se esquecer de outras seis co-produções com participação alemã, do total de 20 aspirantes ao Urso -, considerada abusiva para um festival internacional.

A paisagem em que se desenvolve Stratos, interpretado por Vangelis Mourikis, se insere em um mundo sem escrúpulos, ao redor de uma trama entre pistoleiros e uma mãe de família transformada em prostituta, que desemboca nessa música final, certamente agradável, como se o diretor pretendesse “se desculpar” por esse entorno tão atroz revelado.


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Brasil entra na competição do Festival de Berlim com filme de Karim Aïnouz

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