Um filme mudo, Blancanieves, foi neste domingo o grande vencedor dos Prêmios Goya do cinema espanhol com dez estatuetas, em uma festa na qual se falou muito de política e da situação na Espanha e na qual a fita cubana Juan de los Muertos levou o prêmio de melhor filme ibero-americano.
O primeiro filme cubano de zumbis, dirigido por Alejandro Brugués, derrotou 7 Cajas (Paraguai), Después de Lucía (México) e Infancia Clandestina (Argentina).
Brugués assinalou após receber o prêmio que com ele se abriu “uma porta para o cinema independente cubano que ninguém vai poder fechar”.
O sucesso do filme se deve, segundo seu diretor, a que o público além dos zumbis soube entender todo o subtexto e a crítica social de Juan de los Muertos.
Além disso, Brugués disse à Efe que o cinema independente de sua Cuba natal vai “por um caminho muito bonito” e, embora tenha antecipado que seu próximo filme não será sobre zumbis, brincou sobre a possibilidade de uma sequência.
Um prêmio que o filme cubano conseguiu em uma edição na qual a política se misturou com o cinema e na qual o presidente da Academia de cinema espanhola, Enrique González Macho, desfraldou o protesto com um discurso no qual exclamou: “O cinema não pertence a nenhum partido político (…) É um direito dos cidadãos”.
No outro lado, um conto hipnótico, uma abstração poética de Pablo Berger, Blancanieves. Um drama lorquiano, bombeiros toureiros e, certamente, o célebre relato dos irmãos Grimm, se afastavam da atualidade e apelavam para a fábula.
Blancanieves levou dez prêmios Goya (só superado por Mar Adentro, com 14, e ¡Ay, Carmela!, com 13), entre eles melhor filme, roteiro e atriz, o segundo de Maribel Verdú, por sua antológica madrasta.
Verdú aproveitou para falar sobre a crise econômica, ao dedicar seu prêmio às pessoas que “perderam suas casas, suas ilusões e inclusive sua vida em um sistema quebrado, injusto e obsoleto”.
A atriz falou depois de Candela Peña, que ganhou o prêmio de melhor atriz coadjuvante por Una Pistola en Cada Mano, que disse sobre o palco: “Peço-lhes trabalho. Tenho um filho para alimentar”.
Ela disse que estava sem trabalhar há três anos. “Nestes três anos vi morrer meu pai em um hospital público onde não havia cobertores e tínhamos que levar água para ele”.
Javier Bardem subiu ao palco como produtor do documentário Hijos de las Nubes, sobre o Saara, e não perdeu a oportunidade para falar sobre suas causas.
“No Saara não se pode cortar gastos em saúde porque não há hospitais, nem em educação nem fechar escolas porque não há colégios. Nem jogá-los na rua como aqui, porque ficaram sem esperanças há 35 anos. Não podemos deixar que nos aconteça isso aqui”, expressou.
O Impossível, de Juan Antonio Bayonne, parecia o único filme que podia “afogar” com seu tsunami Blancanieves, e o mérito de coordenar sua espetacular façanha ganhou o prêmio de melhor diretor.
O filme traduziu seu recorde de mais de 42 milhões de euros em cinco prêmios, pois na parte técnica conseguiu o de melhor edição, melhor som, melhor direção de produção e melhores efeitos especiais.
Grupo 7 ficou com dois prêmios para interpretações masculinas: abriu a noite com o prêmio ao melhor ator revelação, para Joaquín Núñez e a completou com o de melhor ator coadjuvante para Julián Villagrán.