JEFF BENÍCIO
Dono da personalidade mais interessante (e histriônica) entre os teledramaturgos da Globo, Aguinaldo Silva, 72 anos, aborda em público a própria sexualidade sem autocensura.
No seu perfil no Twitter e em um blog pessoal, ele lança revelações íntimas dignas de personagem de novela em momento de clímax. A mais recente foi contar para seus 660 mil seguidores na rede social que está em abstinência sexual por vontade própria.
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Num post feito há poucos dias, Aguinaldo, que é homossexual e foi ativista da causa LGBT muito antes de a sigla ser criada, explicou a situação: “Eu poderia falar, por exemplo, de sexo… Se ainda exercesse o metiê, o que não é mais meu caso. Depois de 50 anos de atividade, a gente descobre que quem já viu uma viu todas e aí dá um enfado, uma preguiça de tirar a roupa de graça…”
Sarcástico, o autor de sucessos como Roque Santeiro (1985) e Vale Tudo (1988) escreveu que se o sexo bater à porta de seu quarto, “eu não deixo que ele entre por menos de 20 mil euros”. Na cotação do dia, quase R$ 82 mil. “Aguinaldo está se sentindo a própria Rainha do Nilo”, diria Crô (Marcelo Serrado), o debochado mordomo de Fina Estampa, trama escrita pelo autor em 2011.
Um dos poucos novelistas que produzem conteúdo próprio na internet, ele é adepto do verbo ‘causar’. Seus posts e tuítes repercutem tanto quanto os enredos dos folhetins que cria. “Tudo vale a pena quando a audiência não é pequena”, explicaria o narcisista blogueiro Téo Pereira, de Império (2014), incontestável alter ego de Aguinaldo Silva.
O novelista lançou em horário nobre outros gays que fizeram sucesso com a tradicional família brasileira. Entre os quais, o diretor de grêmio recreativo Adamastor (Pedro Paulo Rangel) de Pedra Sobre Pedra (1992), o guru Uálber (Diogo Vilela) de Suave Veneno (1999), o carnavalesco Ubiracy (Luiz Henrique Nogueira) de Senhora do Destino (2004) e o cozinheiro Bernardinho (Thiago Mendonça) de Duas Caras (2007).
Apesar da vasta galeria de personagens homossexuais, Silva se mostra conservador numa questão polêmica: “Beijo gay, só lá em casa. Nas minhas novelas, não”. Mas em Império, ele colocou um selinho entre Cláudio (José Mayer) e Leonardo (Klebber Toledo). Pelo visto, Aguinaldo Silva aposentou-se do sexo, mas não abre mão das preliminares. “Ui, ui, ui”, zombaria Téo.