Você é autista? “Não” é a primeira resposta que vem à mente para pessoas não diagnosticadas com a condição. Mas uma pesquisa online no Reino Unido está provando o contrário e mostrou ao mundo que o autismo é muito mais comum do que os números registrados em estatísticas médicas oficiais. O autismo é um transtorno complexo que envolve habilidade social, comportamento, comunicação e fala. Os sintomas se manifestam de formas e em níveis diferentes e é por isso que, segundo as criadoras da pesquisa online, o subdiagnóstico é frequente.
No Reino Unido, 87 mil participantes do questionário, do total de 750 mil, foram diagnosticados autistas, o que representa mais de 11% do grupo. Dados oficiais, porém, apontam que apenas 1% da população do Reino Unido tem autismo. O projeto Are You Autistic? foi criado pela advogada de direitos humanos Georgia Harper, a artista Sam Ahern e a desenvolvedora Anna Richardson com o objetivo de mostrar que o autismo passa despercebido, quando estaria presente na vida de uma a cada 100 pessoas no Reino Unido. Georgia e Sam apresentam um documentário sobre o assunto em que contam como descobriam ser autistas.
“Essas pessoas fazem parte de uma geração perdida, que sentem dificuldade em entender as próprias condições”, explicaram as criadoras. O questionário reúne informações sobre comportamentos ligados ao autismo e combate a ideia de que autistas são pessoas super inteligentes, com características e capacidades raras, como a figura do personagem Raymond, no filme Rain Man. “Autismo tem significados diferentes para diferentes pessoas. É uma condição neurológica e o cérebro das pessoas funciona de forma particular. Não significa que há problema no cérebro, apenas que ele funciona de forma diferente”, afirmou a diretora do Centro de Pesquisa e Educação em Autismo da University College London Liz Pellicano.
O diagnóstico positivo requer a combinação de uma série de características e leva uma média de dois anos no Reino Unido. O projeto Are You Autistic? foi desenvolvido com foco em interação social, organização e senso, em quatro questionários curtos, e auxilia em um estudo mais profundo sobre cada caso. O documentário produzido pelo projeto mostrou que o subdiagnóstico é ainda mais comum entre mulheres, pois elas são treinadas para fingir sociabilidade, “como rir de piadas que acham sem graça e manter contato no olhar”. O projeto colocou mulheres autistas para conversarem “usando a máscara social” com quatro homens e nenhum deles notou algo “diferente” nelas.
O projeto gerou um movimento nas redes sociais e pessoas começaram a desabafar sobre os desafios do autismo usando a hashtags #AreYouAutistic e #ActuallyAutistic. “Eu fui um dos milhares de adultos enfrentando dificuldade na vida pela falta de diagnóstico” postou a usuária @UndercoverAutie. Saber que é autista foi a “‘única coisa que melhorou a saúde mental” dela. Internautas discutiram o preconceito em relação à condição, falta de suporte médico e barreiras sociais. “Conhecimento não é o suficiente, precisamos de aceitação. Não sou um quebra-cabeça a ser resolvido, não estou quebrada, não estou fingindo, não estou tentando chamar atenção, não quero cura, não quero pena, eu só quero ser compreendida”, compartilhou @Krystal.