Não é nada incomum ouvirmos por aí que uma mulher. geralmente com 30 anos ou pouco mais, está com o relógio biológico “apitando” ou até “gritando”. Se você não faz a menor ideia do que seja isso, a gente explica: o termo é associado a idade reprodutiva, ou seja, a idade em que o organismo é capaz de engravidar sem muitas dificuldades.
“A mulher, diferentemente dos homens, que renova a safra de espermatozoides a cada 80, 90 dias, já nasce com todos os seus gametas. Ou seja, aquela metade para se juntar ao espermatozoide e formar o embrião. Todo mês, depois que ela começa a menstruar, há uma safra de 100 deles, em que dez vão se tornar viáveis e um, que é o chama folículo, que vai ovular e liberar o gameta. Então, a gente com o tempo tem perda quantitativa e qualitativa, porque esses gametas que já vivem com a mulher sofrem com a poluição, estresse, doenças, alimentação inadequada”, explicou o Dr. Renato de Oliveira, ginecologista responsável pela área de reprodução humana da Criogênesis, ao Virgula.
“Toda mulher tem relógio biológico? “De modo geral, todas as mulheres tem e não tem como driblar isso, não tem como driblar o tempo. No geral, as mulheres quando estão com 20 semanas de gestação, 5 meses, dentro da barriga da sua mãe, tem 7 milhões de possibilidade de gametas. Quando ela nasce, esse número já cai para 2 milhões. Teve a primeira menstruação, fica por volta de 400 mil, quando ela tem mais ou menos 35 anos, por volta de 125 mil gametas. Na menopausa, que é o nome da última menstruação, tem por volta de mil a 2 mil”, ressalta o ginecologista.
A Dra. Flávia Fairbanks, ginecologista do Hospital das Clínicas da USP e da Clínica FemCare, ressalta ainda que algumas mulheres não sentem esse relógio “apitar” e motivo é muito simples. “Há uma parcela da população feminina que nāo deseja ser māe”, explicou, afirmando ainda que não há nenhum problema físico ou psicológico em relação a isso.
A mesma opinião é partilhada pelo Dr. Carlo Crivellaro, membro da Highway to Health International Healthcare Community. “Não existe consenso se o sentir desse ‘apito’ seja algo real e fisiológico, ou apenas uma vontade consciente de ter filhos. Essa percepção de tempo esgotando é muito variável, não ocorre em todas as mulheres e não indica nenhum problema”, opinou.
Para quem gostaria de ser mãe e está se planejando para isso, a Dra. Flávia faz questão de mandar um recado importante. “Sempre que possível, evitar postergar demais o sonho da maternidade. Nāo é preciso ter alcançado tudo (sucesso profissional, dinheiro, fama, etc) para que se concretize a maternidade. Às vezes, por ficar esperando o cenário ideal, com todas essas conquistas, acaba-se comprometendo a maior de todas elas: conseguir ser māe. Isso é uma opinião pessoal”, reforçou.
Para deixar o assunto mais claro e ainda mais simples de ser explicado, tiramos algumas dúvidas e pedimos aos médicos sugestões de como driblar o relógio biológico e adiar o sonho da maternidade.
O relógio biológico realmente apita nas mulheres? Com que idade isso acontece?
Dra. Flávia Fairbanks: “o que acontece é que, na maioria delas, de repente, vem um desejo pela maternidade. Isso varia entre as mulheres, mas é bastante comum que aconteça próximo dos 30 anos”.
Existe uma hora ou idade certa para ser mãe?
Dr. Carlo Crivellaro: “a hora certa depende de muitos fatores, que só a mulher ou casal podem decidir. Do ponto de vista médico, o ideal seria entre 20 e 35 anos, quando a fertilidade é maior e as chances de complicações menores. Fora dessa faixa, a mulher necessita um acompanhamento médico mais próximo”.
Dra. Flávia Fairbanks: “com os avanços da medicina atual, muitas mulheres têm conseguido bons resultados estacionais até os 40 anos.
Até que idade uma gravidez é considerada segura?
Dra. Flávia Fairbanks: “do ponto de vista geral, para redução de riscos, o ideal é até os 35 anos, mas muitas mulheres têm engravidado até os 40 anos com bebês saudáveis”.
Há riscos de adiar a maternidade? Quais?
Dra. Flávia Fairbanks: “sim, desde a maior dificuldade para conseguir engravidar até aumento dos índices de problemas com a formação e desenvolvimento do feto, bem como maiores chances de hipertensão e diabetes gestacionais”.
Dr. Carlo Crivellaro: “A maioria das mulheres que engravidam após os 35 anos tem gravidez normal e bebês saudáveis. Também há maior risco de aborto espontâneo, gravidez ectópica, placenta prévia e descolamento placentário”.
Existem maneiras de se planejar e driblar o problema do relógio biológico na hora de engravidar?
Dr. Renato de Oliveira: “após os 43 anos, mesmo fazendo os tratamentos mais elaborados, como a fertilização in vitro, a chance de sucesso é de 5 a 8%, são dados da Rede Latino Americana de Reprodução Assistida. Então, a dica é essa, nunca postergar muito. Mulheres com 50 anos podem ter filho? Naturalmente, muito difícil. O que vemos hoje é ovo-doação ou a técnica de congelamento de óvulos, que é muito legal. Essa técnica é preservação de fertilidade social. Isso vale a pena. Eu converso com todas as minhas pacientes quando chega por volta dos 30 anos sobre o desejo reprodutivo”.
Como é o congelamento de óvulos? É muito caro hoje em dia?
Dr. Carlo Crivellaro: “os óvulos são aspirados em um hospital, com a mulher sedada. Em um laboratório, os óvulos são analisados e congelados. A época certa para fazer a aspiração é durante o período fértil, e analisando a maturidade dos óvulos através de um ultrassom”.
Dr. Renato de Oliveira: “o custo é de um fertilização in vitro e aí varia conforme o serviço, tem lugares mais baratos, mais caros. Varia de 8 mil a 20 mil. A média é 10, 12 mil”.
A partir disso, é possível alguém que tem, por exemplo 50 anos, engravide?
Dra. Flávia Fairbanks: “sim, pois os óvulos têm a idade biológica da época em que foram congelados”.