Setembro Amarelo: conheça a história de Alan Barros que transformou “dor” em “amor” (Foto: Divulgação)

O Brasil enfrenta uma crise silenciosa e alarmante: a depressão. A doença, que afeta milhões de brasileiros, tem se mostrado um dos principais fatores por trás do crescente número de casos de suicídio no país. Os dados são preocupantes e exigem uma urgente mobilização da sociedade e das autoridades.

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Segundo a Fiocruz, A taxa de suicídio entre jovens cresceu 6% ao ano no Brasil entre os anos de 2011 e 2022. Já as taxas de notificações por autolesões na faixa etária de 10 a 24 aumentaram 29% a cada ano nesse mesmo período. O número foi maior que na população em geral, cuja taxa de suicídio teve crescimento médio de 3,7% ao ano e a de autolesão 21% ao ano, neste mesmo período. Esses resultados foram encontrados na análise de um conjunto de quase 1 milhão de dados, divulgados em um estudo recém publicado na The Lancet Regional Health – Américas,desenvolvido pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Friocruz Bahia), em colaboração com pesquisadores de Harvard.

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Os altos índices de depressão e suicídio têm um impacto significativo na sociedade brasileira, gerando perdas irreparáveis e causando um grande sofrimento para as famílias e amigos das vítimas. Além disso, a doença impacta negativamente a economia do país, devido à redução da produtividade e aos custos com tratamento.

Para mudar esse cenário é  fundamental que a sociedade como um todo se mobilize para combater a depressão e prevenir o suicídio. Algumas medidas podem ser adotadas: como desmistificar a doença e quebrar o tabu em torno da saúde mental, investir em  número de profissionais especializados, fazer campanhas de prevenção e família, amigos e colegas de trabalho oferecerem apoio e incentivar pessoas com esse problema a buscar ajuda.

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Setembro Amarelo, campanha que visa conscientizar sobre a prevenção do suicídio, ganha cada vez mais força no Brasil. A iniciativa, que teve início em 2015, busca quebrar tabus, reduzir estigmas e estimular a busca por ajuda.

O suicídio é um problema de saúde pública grave e complexo, com diversas causas. Falar abertamente sobre o tema é fundamental para desmistificar o assunto e mostrar que as pessoas não estão sozinhas. Ao abordar o suicídio de forma aberta e acolhedora, podemos identificar sinais de alerta e oferecer o apoio necessário.

Conversamos com o empresário e palestrante Alan Barros que conseguiu dar a volta por cima de um problema que afeta milhões de pessoas, lançou dois livros, uma peça de teatro e tem feito palestras por todo o Brasil, procurando reabilitar pessoas, através de sua vivência, que passam por situações difíceis relacionadas a depressão.

– Você começou a sentir sintomas de depressão ainda na adolescência. Como reagiu a isso e como buscou auxílio?

Fui diagnosticado com depressão por uma psicóloga familiar aos 15 anos.  Tudo pra mim era muito novo, tão novo que eu não sabia nem o que pensar. Na época, não se falava sobre saúde mental, e muito menos sobre depressão. Lembro-me que o primeiro sintoma que eu pude vivenciar foi a baixa autoestima, e a partir daí, o olhar negativo para tudo, para todos e principalmente para a vida.

Meu olhar já era adoecido naquela época o que me causava pensamentos negativos intensos. Após receber o diagnóstico decidi abandonar a terapia, não consegui lidar com algo que eu sabia que era sério, mas que eu desconhecia completamente. Depois de 2 anos, após ter mudado de cidade (de Cuiabá para o Rio de Janeiro) para fazer faculdade, nos meus 17 anos, percebi que fugir não seria o melhor caminho, eu precisava entender porque eu me sentia tão diferente. Busquei por conta própria uma psicóloga, motivado por uma prima que amo muito e foi meu suporte emocional nessa época. A partir desse momento, tudo foi ficando bem mais “claro” na minha cabeça, e muitas coisas e reações que eu tinha, além de comportamentos que eu apresentava foi fazendo sentido. Mas não pense que foi fácil, eu ainda assim tinha muita resistência a ir á terapia, e a possibilidade de ir até o psiquiatra era algo fora de cogitação, e foi durante longos anos, por puro preconceito (ou falta de conhecimento) da minha parte, e claro, pelo fato de nunca ter tido a oportunidade de falar com alguém sobre saúde mental.

Alan Barros estará presente na Bienal do Livro de São Paulo, que acontecerá de 06 a 15 de Setembro no stand da editora UICLAP (Foto: Divulgação)

– Quantas foram as tentativas de suicídio e que motivos a levaram a tentar praticá-las?

Suicídio é um tema bastante sensível de falar, mas eu escolhi falar com cor, amor e humor.  Por isso, além de atuar intensamente no Setembro Amarelo e no Janeiro Branco, acabei trazendo a prevenção e posvenção do suicídio como um dos meus grandes propósitos de vida. Decidi ir mais além, e estudar sobre o tema de forma mais profissional, e nesses estudos encontrei a Suicidologia, que é a ciência que estuda o comportamento suicida. Que incrível! Hoje em dia parte do meu trabalho é contribuir para que os números estarrecedores dos casos de suicídio diminuam, assim como formar “multiplicadores do bem e da luz” para me ajudar. Quando decidi expor a minha história na internet e quando o conteúdo viralizou até chegar na imprensa, fiz um acordo interno comigo de que eu jamais iria falar em público sobre três assuntos relacionados á saúde mental:

Religião – Entendendo que chegavam até mim pessoas de diferentes religiões e como eu sempre tive um carinho por todas elas, preferi manter a minha em “segredo”, porque entendi que não era necessário para o meu trabalho.

Medicamentos – embora eu fale bastante da importância do medicamento (para os casos que são necessários) e desmistifique os tabus que infelizmente envolvem o assunto, decidi não tornar público os medicamentos que já tomei, quais eu gostei, quais eu não gostei.

Tentativas– detalhar mesmo que seja de forma superficial sobre os meus episódios de tentativas de suicídio, uma vez que me tornei um especialista na arte de “morrer” e pelo fato de eu ser alguém exposto e que de alguma forma exerce influencia negativamente sobre o outro, ainda mais esse outro adoecido, prefiro não revelar. Se alguém teria coragem de tentar ou cometer o suicídio a partir de algo que eu falei? Sim, com certeza. Estamos lidando com uma sociedade altamente doente mentalmente, e principalmente emocionalmente. Respondendo a sua pergunta, houveram tentativas sim, mas existe um poder superior muito mais forte do que a minha dor que me quis aqui vivo para fazer esse trabalho de iluminar mentes e corações escuros.

– Em que momento você virou a chave e decidiu escrever o primeiro livro?

Engraçado que houve uma ruptura importante para que o meu 1º livro acontecesse. Ele foi publicado em 2017, mas hoje em dia eu sei que eu não o escrevi. Ele começou a ser escrito na minha mente e no meu coração alguns anos antes. Havia em mim uma vontade e uma força mais que eu que me dizia que um dia eu iria contar a minha história de dor e do meu processo de superação, porém não sabia como e nem quando. Aos poucos essa vontade de compartilhar com outras pessoas as minhas dificuldades foi tomando conta de mim, até que em um dado momento a ideia do livro se “materializou” na minha cabeça e eu pensei: Pronto! É isso, vou publicar um livro. Compartilhei esse meu sonho e minha decisão com a minha psicóloga da época, porém a mesma foi contra, não achou que seria algo bom pra mim por conta da exposição, na época fiquei chateado, mas entendi o lado dela. Como na minha cabeça eu tinha que publicar esse livro – Tenho Depressão. E Agora? – e como ela não havia me apoiado, decidi finalizar o tratamento e seguir meu caminho. Todo o processo do livro foi literalmente “sobrenatural” de tão especial, tudo para que o livro se materializasse foi acontecendo de forma surpreendente E hoje posso dizer que o orgulho que sinto de ter publicado essa obra de arte não cabe em mim. Na obra tem a participação de pessoas muito especiais que deram os seus depoimentos de Dor & Amor. Eu digo obra de arte porque o livro é todo ilustrado por um artista plástico genial aqui da minha cidade, o Rafael Jonnier, e todas as obras nos levam ao encontro da espiritualidade. Sim! Sou dessa vibe de  energia e espiritualidade.

– Como surgiu a ideia do espetáculo teatral e como foi a experiência?

Sou um grande apaixonado (e suspeito) pela peça teatral – To Off. E Agora? – e muitas vezes eu me pego pensando assim: Caramba! Não pode ser, eu tive o presente de Deus de ter uma peça teatral baseada no meu livro e na minha vida e ainda ter a oportunidade de atuar nela e ser o produtor de tudo isso! Eu acredito que jamais vou ser capaz de agradecer por tudo e por tanto. Quando eu publiquei minha história na internet, quando esse conteúdo viralizou, quando a mídia local (TV, rádio e sites) passou a me chamar para aparições públicas, eu percebi que tudo que estava acontecendo era um indicador muito importante e que eu deveria olhar com carinho, ou seja, percebi que existia uma demanda reprimida enorme por pessoas que falassem abertamente sobre Saúde Mental da forma leve, bem humorada, verdadeira e principalmente transparente como eu falava. Os convites para palestrar logo começaram a surgir, e como o meu propósito sempre foi “Transformar Dor em Amor”, transformar a minha dor em amor na vida do outro, todo lugar que me chamava para contar a minha história lá eu estava. Já realizei dezenas e dezenas de palestras, não saberia quantificar. Estar no palco passou a ser além de um grande prazer, a materialização de uma das minhas grandes superações, a fobia social. Fui aprimorando cada vez mais a forma de contar a minha história, e cada vez mais entrelaçando com conteúdos “técnicos” de saúde mental, porém como sempre utilizei uma linguagem bastante coloquial, próxima, didática, humanizada e bem-humorada, o público se conectava e recebia super bem. Além das palestras e aparições públicas, resgatei uma expertise que eu tinha, o de promover eventos, e passei a promover eventos de Saúde Mental na minha cidade, criei 2 formatos de eventos que foram um sucesso e já tiveram algumas edições. Como todo comunicaDOR, aquele que comunica a dor, minha cabeça pensante nunca para. Preciso dar uma pausa e fazer um adendo para continuar. Em 2017, dentre os convites (empresas públicas e privadas, templos religiosos, projetos sociais) que recebi para palestrar, alguns foram de escola pública, e posso dizer que por mais que eu tenha tentado dar o meu melhor, a situação, o adoecimento, e o desespero emocional daqueles adolescentes mexeu muito comigo e acabei não mais aceitando convites para escolhas públicas (em 2019 voltei a aceitar e faço com prazer). O meu bloqueio na época foi que eu não enxergava uma forma efetiva de ajudar aqueles adolescentes que sofriam tanto, aquela realidade me transformou. Voltando ao assunto peça teatral. Foi a partir dessa “dor” de não ter podido fazer nada naquela época que surgiu esse novo grande sonho que foi materializado em 2023 que é a peça teatral baseado no meu 1º livro e na minha jornada de superação pessoal. A peça ficou incrível, atual e muito emocionante, porém sutil e por que não dizer leve e transparente. Foram 4 cenários, 6 atores em cena (eu inclusive), teve ativação sensorial (com óleos essenciais) e etc.  Os alunos que assistiram deram feedbacks fantásticos, e esse é um dos projetos que mais me emociona. Quero muito fazer novas estreias da peça pelo Brasil. Um dado que me emocionou muito foi que 97% daqueles alunos que estiveram presentes nunca haviam estado em um teatro profissional e nem assisto a um espetáculo com essa estrutura.

  – Que dicas seriam fundamentais para alguém que passe por esse processo a procurar uma solução satisfatória para o problema?

Meu conselho é que antes de mais nada essa pessoa faça um esforço positivo de tirar a palavra – julgamento – do seu vocabulário, pois só assim ela conseguirá ter se entregar verdadeiramente ao tratamento seja com psicólogo ou psiquiatra, que são profissionais capacitados tecnicamente para diagnosticar um tratamento mental e transtorno emocional, nenhum outro profissional pode diagnosticar ou tratar isso. Existe uma premissa que gosto muito de falar que é, o diagnóstico liberta, ou seja, diferente do que a maioria das pessoas pensam, o diagnóstico liberta ao invés de rotular, prender ou se tornar um peso. E só a partir do diagnóstico, tudo começa a fazer sentido e a vida dessa pessoa começa a mudar de fato, para melhor. Receber um diagnóstico nunca vai ser fácil, assim como não foi para mim, e pior, passar pelo processo de aceitação tende a ser mais complexo ainda, falo isso com conhecimento de causa, mas posso te afirmar que é necessário e é o melhor caminho para a superação. Tem algo importante que sempre gosto de sugerir quanto as pessoas me fazem essa pergunta que é: Pensarmos como um ser integrado sendo; corpo, mente, espírito  e tecnologia. E apartir dai, alinharmos essas 4 dimensões em nós.

–  Qual assunto é abordado no segundo livro?

Essa minha 2ª obra recebe o título de – Antes que a [sua] luz se apague – e em linhas gerais eu abordo a saúde mental, conto a minha própria história de superação, porém de uma forma mais madura se comparada ao 1º livro. Esse é um livro que quis trazer a resiliência, mas principalmente e profundamente a esperança. Do começo ao fim do livro eu falo de esperança, em todas as passagens trago a esperança na superação. O meu grande objetivo é que quando o leitor (a) finalizar a leitura, eu possa ter plantado dentro dele (a) uma semente de esperança para que a sua luz não se apague. Escrevi de forma bem leve, divertida e verdadeira, como costumo falar e por isso trouxe uma novidade, o meu livro é como se fosse um podcast, porém em formato de livro, quis trazer esse dinamismo do podcast e o apelidei de Podbook. No livro eu respondo e contextualizo várias perguntas, foram escolhidas a partir das perguntas que mais me fizeram e fazem até hoje. É um livro de consulta, o leitor pode ler de forma contínua ou decidir ler em partes de acordo com o seu interesse em determinada pergunta. Um dos pontos altos do livro é quando trago o conceito inovador das – 4 dimensões da saúde mental – pelo fato de incluir a tecnologia junto com o corpo, mente e espírito. Gosto muito de falar sobre o tema “Dependência Tecnológica” e por isso inclui a tecnologia nessa discussão. Uma das partes que mais me emociona é quando trago vários e vários tipos de tratamentos que eu classifiquei como: Tratamentos Clínicos , Tratamentos Integrativos e Tratamentos Naturais em que eu trago de forma materializada diversos caminhos de “cura” e sinto no coração que a minha contribuição social ganhou forma e fará a diferença na vida das pessoas.

 – Como conduz suas palestras sobre o assunto?

Interessante essa pergunta, eu nunca havia respondido e ninguém nunca havia me perguntado. Intuitivamente, eu acabei criando uma identidade única quando estou nos palcos, quando estou sendo entrevistado ou quando estou mediando o meu grupo de apoio (#Fale). Acredito que como o meu proposito é “transformar dor em amor” e como a minha missão é “Falar sobre temas complexos, tais como depressão, ansiedade, suicídio e bipolaridade, porém com cor, amor e humor, trazendo um jeito dinâmico para contar a minha própria história de dor e superação. Nas minhas palestras sobre Setembro Amarelo, por exemplo, não falo sobre morte, falo sobre vida e sua importância e principalmente do viver. Costumo fazer rir e chorar, e o segredo para gerar a conexão com a plateia é trazer sempre a verdade de forma franca e transparente. Nessa conexão, consigo que todos se entreguem para os momentos de meditação, exercícios sistêmicos e momentos de humor. Utilizo de muitos recursos dinâmicos para reter a atenção da plateia, e posso dizer sem medo de errar que as pessoas ficam magnetizadas e não querem ir embora. Antes quando eu falava isso me sentia prepotente, egóico sei lá, sentia algo ruim, mas hoje depois de tantos anos, depois de tantas palestras, de tantas transformações, consigo assumir isso publicamente e agradecer o quanto sou grato por tudo isso, de ouvirem a minha história e a permissão de entrar em suas vidas e plantar a semente da esperança. Você deve estar querendo saber se sou Psicólogo ou Psiquiatra, e eu te respondo, infelizmente não! (risos) Eu ocupo um lugar ao lado deles, o lugar de um sobrevivente so suicídio e é apartir desse lugar que juntos transformamos o mundo. Trago uma ótica de quem sofreu (e ainda sofre) na pele a Psicofobia, a falta completa de psicoeducação, que sofreu bullying e autobullyng também, que recebeu alguns diagnósticos equivocados até chegar no correto, depressão bipolar e alguém que decidiu aprimorar, estudar e profissionalizar cada vez mais a forma de contar a sua própria história trazendo os conteúdos mais importantes sobre saúde mental e assim iluminando o caminho por onde passa. Prazer, sou Alan Barros. Um vendedor de esperança.

Se você perceber sinais como mudanças bruscas de humor, isolamento social, dificuldade em desenvolver atividades cotidianas,  alterações de sono e apetite, expressões de desesperança e desvalorização, comportamento autodestrutivo e busca por meios de destruir a vida em alguém próximo, não hesite em procurar ajuda profissional. Converse com a pessoa de forma calma e empática, demonstre que se importa e ofereça apoio incondicional.

Existem diversas formas de buscar ajuda como os Centros de Valorização da Vida (CVV) -Disk 188, O Disk Saúde também oferece atendimento através do telefone 136 e procure um profissional de saúde mental para realização de um acompanhamento psicológico.

Alan Barros estará presente na Bienal do Livro de São Paulo, que acontecerá de 06 a 15 de Setembro no stand da editora UICLAP.


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Setembro Amarelo: conheça a história de Alan Barros, que transformou “dor” em “amor”