Remédios para emagrecer viram febre entre adolescentes e preocupam especialistas (Foto: KatarzynaBialasiewicz | CO Assessoria)
Na timeline das redes sociais, o corpo magro voltou a dominar o desejo adolescente — e, com ele, uma nova onda de inseguranças e comportamentos de risco. Aos 14, 15 anos, muitas jovens passam a comparar seus corpos com influenciadoras que exibem cinturas finíssimas e falam de fórmulas “milagrosas” para emagrecimento rápido.
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Entre elas, a tirzepatida — princípio ativo do Mounjaro, medicamento originalmente indicado para diabetes tipo 2 — virou uma das soluções mais buscadas. O problema: sua procura por menores de idade, sem qualquer indicação clínica, tem se tornado cada vez mais comum, acendendo um alerta entre médicos e especialistas.
Na Clínica Leger, referência em tratamentos estéticos e metabólicos, a médica nutróloga Dra. Karla Confessor relata que adolescentes têm procurado consultas pedindo pela medicação. “É uma preocupação real. Recebemos semanalmente jovens que, influenciadas por vídeos virais, vêm pedir por esses medicamentos, muitas vezes sem entender os riscos envolvidos”, afirma.
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A tirzepatida atua diretamente na saciedade e no controle glicêmico, promovendo rápida perda de peso — mas seu uso é recomendado apenas para adultos com diagnóstico de obesidade ou diabetes tipo 2. Segundo a especialista, nos adolescentes, os riscos se multiplicam: distúrbios gastrointestinais, alterações hormonais e impacto direto no desenvolvimento físico. “O corpo adolescente ainda está em formação. Atalhos químicos não são apenas perigosos, podem deixar marcas permanentes”, alerta.
Dados recentes apontam que cerca de 11 milhões de adolescentes brasileiros estão acima do peso, sendo 4,1 milhões já em estágio de obesidade. A pressão estética, somada à facilidade de acesso à informação (nem sempre correta) nas redes, vem fazendo crescer o consumo de medicamentos como Mounjaro por conta própria ou até por meio de manipulações clandestinas. A Anvisa passou a exigir receita médica controlada para compra da substância, mas nem isso tem impedido que versões paralelas circulem.
Além dos efeitos colaterais já conhecidos — como náuseas, vômitos, diarreia e risco de hipoglicemia — médicos relatam atendimentos de emergência por complicações decorrentes do uso indiscriminado. E como muitos desses medicamentos são obtidos sem acompanhamento profissional, os perigos incluem desde reações alérgicas a substâncias manipuladas até uso de produtos falsificados.
Para a Dra. Karla, o problema vai além do medicamento em si. “O que preocupa é a velocidade com que essas meninas querem atingir um padrão. Elas não querem saúde, querem o corpo ideal agora. Isso revela um descompasso entre o que o corpo precisa e o que a sociedade impõe”, explica.
Ela defende que o tratamento de jovens com sobrepeso deve ser conduzido de forma multidisciplinar, com orientação nutricional, suporte psicológico e acompanhamento médico. “Essas medicações podem até ser indicadas em situações específicas, mas jamais como solução rápida ou motivada por estética. As clínicas têm responsabilidade nisso e precisam se posicionar com clareza nas redes”, diz.
“Em alguns casos de adolescentes com sobrepeso e obesidade, as canetas emagrecedoras até podem ter indicação”, relembra a nutróloga. Atualmente, a única medicação desse tipo que conta com aprovação para uso em jovens a partir dos 12 anos é o Wegovy (semaglutida). O Monjauro ainda está em fase de estudo para esse público.
O uso precoce de medicamentos injetáveis para emagrecimento levanta uma questão ética e de saúde pública. Com algoritmos que premiam corpos irreais e filtros que distorcem a autoimagem, adolescentes acabam expostas a um ciclo de comparação e frustração. Para os médicos, o caminho deve ser outro: educação, informação e acompanhamento próximo. “Mais do que emagrecer, essas jovens precisam se reconhecer e se proteger. A saúde precisa voltar a ser o objetivo”, finaliza a especialista.