A socialite Kim Kardashian, a cantora Britney Spears, a atriz Cameron Diaz e modelo Cara Delevigne têm algo em comum e podemos afirmar que não é a fama mundial. Todas sofrem de psoríase, uma doença crônica e autoimune – quando seus anticorpos passam a ir contra você mesmo – que atinge, principalmente, a pele.
A doença tem como principal característica lesões avermelhadas e descamativas, normalmente em placas, na pele. Em geral, elas aparecem no couro cabeludo, nos cotovelos e nos joelhos. A psoríase costuma aparecer em jovens e adultos, geralmente antes dos 30 anos, em ambos os sexos.
Durante o reality show Keeping Up With the Kardashians, Kim mostrou as manchas causadas pela psoríase, que descobriu em 2010. A doença se agravou muito após o estresse vivido após seu assalto em Paris, em outubro do ano passado.
Este ano, ela usou o Twitter para dizer que as manchas estavam atingindo seu rosto. Além disso, a socialite afirmou que demorou para aprender a conviver com esse “grande defeito”.
Em cerca de 30% dos casos há incidência genética, mas há outros fatores envolvidos no aparecimento e evolução da doença, como problemas psicológicos e o estresse. A modelo Cara Delevigne, em entrevista ao jornal The London Times, contou que a rotina estressante da profissão a fez desenvolver psoríase.
“O cortisol é o hormônio que o organismo libera quando estamos em situações consideradas como de “vida ou morte”. Ele mexe com todo o organismo inclusive com as nossas defesas. Sendo a psoríase uma doença autoimune, nossas defesas também são afetadas com o cortisol, que é o hormônio do estresse, onde, primeiramente, o organismo libera o cortisol. Porém, em um segundo momento, ele não mais consegue produzi-lo, fazendo uma baixa deste hormônio, facilitando assim as doenças de descontrole da defesa, como doenças autoimunes e alergias”, explica a dermatologista Michele Haikal, em entrevista ao Virgula.
A médica ainda afirma que o cigarro também piora os sintomas da psoríase. “O cigarro é mais diretamente relacionado. A relação das bebidas alcoólicas acontece devido a gerarem um estresse para o organismo”, afirmou.
Convivendo com a doença e o preconceito
Devido às manchas que aparecem na pele, muitos pacientes sofrem preconceito, mesmo a doença não sendo contagiosa. Ana Alice dos Santos tem 51 anos e descobriu que tinha psoríase há mais de 20 anos. Ela tem psoríase artropática, que deforma as articulações. “Tendo psoríase vivo em contato direto com o preconceito, Tive que buscar conhecer a patologia para ter fortalecimento na intervenção do olhar preconceituoso. Mas ser paciente com a enfermidade também me fez mudar hábitos e ações que melhoraram a minha qualidade de vida. Por algumas vezes deixaram de apertar a minha mão”, contou.
“Uma vez na praia, um homem me chamou e disse que havia um bom remédio para impingem (doença de pele causada por fungos). Várias pessoas acham-se no poder de olhar e dizer que é uma doença ou outra e ainda serem médicos de consulta grátis e farmacêuticos de plantão”, relatou.
O paciente Célio Silveira, 58 anos, descobriu aos 17 que tinha a doença e foi ao médico achando que era algo simples, como caspa. “É comum as pessoas ignorantes, ou seja, que não conhecem a doença, fazerem comentários impróprios e preconceituosos, por acharem que a doença ‘pega’. No entanto, é uma doença inflamatória e não contagiosa, e que pode ser controlada, desde que se procure atendimento médico”, afirmou.
“As pessoas que não sabem, tem muito preconceito e discriminam os pacientes. Nosso comportamento muda com o uso de roupas que cobrem o corpo todo, evita-se banhos de piscina ou de mar, etc. Já tive vergonha, no entanto com o passar do tempo, me importava com o que as pessoas falassem ou pensavam, minha auto estima cresceu e pude viver em paz e melhor, sempre procurando tratamento médico adequado”, ressaltou.
Tratamento
É importante ressaltar que o tipo mais comum da doença autoimune é a em placas, mas há diversos outros tipos, como a invertida (localizada nas dobras), gutata (gostas espalhadas), pustulosa (com pus na superfície), entre outras. Apenas dois tipos podem levar a óbito, a Von Zumbusch, que é pustulosa e generalizada no corpo todo, e a eritrodérmica. A doença não tem cura e é de extrema importância procurar um médico para saber que tipo você tem e receber o tratamento adequado.
“Trata-se muito bem hoje em dia. A princípio pequenas lesões são tratadas com pomadas a base de cortisol ou de análogos da vitamina D ou de óleo ozonizado, etc. A acitretina é uma excelente droga usada, ela é derivada da vitamina A, e existem os imunobiológicos nos casos mais graves”, contou a Dr. Michele Haikal.
A médica disse ainda que a vitamina D é excelente aliada nas doenças autoimunes, assim como o Naltrexone em baixas doses (que se chama LDN: low dose naltrexone), e também vitaminas como a vitamina A. “A alimentação correta influi em todas autoimunes também, deve-se cortar alimentos inflamatórios e os que causam leaky gut syndrome, como o glúten e o leite. Mesmo o leite sem lactose deve ser evitado, pois não é por causa da lactose, mas por causa de todas as proteínas do leite. Gestão de stress é igualmente importante pois o hormônio do stress é o cortisol, e ele mexe com toda a defesa do organismo”, afirmou.
Sobre o sol, a dermatologista fez questão de dizer que ele é altamente recomendado e benéfico, assim como hidratação da pele. Porém, vale lembrar que é importante consultar um médico. Há alguns tipos de psoríase, como a pustulosa,que podem inclusive piorar com a fototerapia.
“Qualquer lesão de pele deve-se procurar atendimento médico. A psoríase é uma doença que se confunde com outras doenças de pele, assim as pessoas se automedicando, podem estar prejudicando sua saúde, por fazerem tratamentos errados. Outra questão importante é que, às vezes, um mesmo medicamento é bom para uma pessoa e não serve para outra com o mesmo diagnóstico”, ressaltou o paciente Célio Silveira.
SUS e dificuldades
Há tratamento da psoríase pelo Sistema Único de Saúde (SUS), os medicamentos são gratuito, porém os pacientes relatam bastante burocracia para consegui-lo. “O SUS me fornece todo o tratamento, só que há muita burocracia para se conseguir meu medicamento. Tenho sorte de ter conseguido”, contou Celio. Já Ana Alice não teve a mesma sorte e considera a situação constrangedora. “Busquei tratamento nas secretarias de saúde municipal, estadual, na rede municipal em órgão ligado ao meu trabalho, tive ao tratamento negado”, disse.
Em 2013, o Ministério da Saúde, publicou o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) da Psoríase, que contém critérios de diagnóstico, tratamento e mecanismos de regulação, controle e avaliação (para ler clique aqui). O SUS oferece cerca de 16 procedimentos para o tratamento da psoríase, informou o Blog da Saúde, ligado ao Ministério. Consulte um dermatologista sobre o seu tratamento e peça orientação sobre quais opções são disponibilizados pelo SUS.