Consumido em barra, derretido, adicionado a bebidas, em sorvetes, o chocolate é praticamente uma unanimidade! Na Europa e nos Estados Unidos, além de consumir a iguaria de todas as formas possíveis e imagináveis, algumas pessoas estão optando por cheirar a matéria-prima do alimento em forma de pó em busca de um ‘barato’. De acordo com os adeptos, quando aspirado, o cacau dá mais energia, aumenta os níveis de endorfina e serotonina, provocando sensação de bem estar e relaxamento.
O Dr. Alexandre Kawassaki, pneumologista do Hospital 9 de Julho, explica que o cacau possui, sim, substâncias estimulantes para o sistema nervoso central conhecidas como as metilxantinas, e estão presentes também no café e em chás, no entanto, o uso do pó para esse fim, mesmo o europeu, não é recomendado em hipótese alguma.
A moda, que já não é tão nova assim, surgiu há cerca de 10 anos em baladas eletrônicas de países da Europa, e o hábito acabou propagado pelo chocolatier belga Dominique Persoone que criou um instrumento especial para que os usuários possam cheirar o pó de cacau como se fosse cocaína, com a diferença que, neste caso, a substância é lícita e supostamente saudável.
Se engana quem pensa que os cheiradores usam o mesmo alimento comercializado em supermercados. O produto que causaria a euforia momentânea é vendido em seu estado bruto misturado a especiarias como hortelã e gengibre. No site da Chocolate Line, empresa criada pelo entusiasta Dominique Persoone, é possível comprar um kit composto pelo dispositivo próprio para cheirar o pó e duas porções prontas para serem usadas por 45 euros, cerca de 174 reais.
“Como é uma prática ainda pouco disseminada, principalmente por aqui, os riscos não foram estudados e são desconhecidos. Acessei um relato de uma criança que aspirou inadvertidamente a quantidade de uma colher de chá de cacau em pó e apresentou insuficiência respiratória grave. Felizmente a intercorrência foi tratada e o paciente evoluiu bem, mas, teoricamente, o quadro foi grave o bastante para colocar a vida dela em risco. Com a disseminação do uso, provavelmente casos de problemas associados à aspiração de cacau passarão a ser relatados”, alerta o pneumologista.