O caso de Letícia Franco, 36 anos, médica oftalmologista de Cuiabá, trouxe à tona o debate sobre morte assistida e eutanásia no país.
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Portadora de uma doença autoimune que afeta músculos e articulações chamada Asia (sigla em inglês para síndrome autoimune/autoinflamatória induzida por adjuvantes), a médica já foi internada 34 vezes na UTI.
Doenças autoimunes são aquelas em que o organismo passa a atacar células saudáveis do próprio corpo. Letícia sente tanta dor que precisa tomar morfina de quatro em quatro horas.
“Em 16 dias estarei longe, na Suíça, fazendo o que me deixará livre da dor e do medo. Acho que amanhã ou depois desligo esse facebook […] (sic) Toda minha família deixo meu mais sincero amor”, postou ela no dia 1º de março.
Seu plano de viajar para clínica de morte assistida na Suíça foi suspenso após e-mail de especialista.
Em entrevista à BBC, a médica disse ter suspendido o plano pela a possibilidade de poder ter seu caso estudado e ajudar outras pessoas que têm a mesma doença.
O médico israelense Yehuda Shoenfeld, um dos principais pesquisadores da síndrome Asia no mundo, respondeu a um e-mail de Letícia sugerindo que ela tentasse se submeter a um dos tratamentos recomendados por ele, mas não se compromete a recebê-la para estudar seu caso.
Mesmo assim, ela pretende ir a Israel conhecer o pesquisador, que é professor da Universidade de Tel Aviv.
“Eu não quero morrer cheia de tubos, ter uma morte sofrida, horrível como eu sei que é. Se fosse só eu que sofresse, tudo bem. Mas é a família inteira que sofre. A coisa mais difícil é olhar para o olho da mãe e do pai e ver a tristeza enorme que eles têm por você estar com dor, ver eles sem esperança de que você vá melhorar, esperando por um milagre”, disse ela à BBC.
“Quantas vezes minha mãe pegou na mão e disse ‘Descansa, que vai ficar tudo bem.’ E eu via aquele olhar cheio de lágrimas. Isso pra mim dói mais que a doença, eu tô matando meus pais com tudo isso. Por isso pensei: se eu não posso voltar atrás e não ter essa doença, o que posso tentar é um final melhor, com dignidade.”
Católica praticante, ela disse que decisão pela morte assistida a deixou dividida. “Tinha medo de Deus não me perdoar. Dizem que quem comete suicídio vai para o inferno.”
Dias após o post de “despedida” no Facebook e desesperada com a negativa da família em levá-la à Suíça, a médica tentou tirar a vida com um bisturi.
Mas ela pensou e agora está disposta a um último sacrifício. “Eu sou médica, minha vida toda foi doação, então pensei que é um final justo eu poder ajudar os outros”, concluiu.
Letícia Franco, 36 anos, médica oftalmologista de Cuiabá
Créditos: Reprodução/Arquivo Pessoal