A rejeição de uma lei que obrigaria o uso de camisinha e óculos de proteção em filmes pornográficos em Los Angeles causou polêmica nos últimos dias. Produtores chegaram a prever a falência da indústria caso a determinação fosse aprovada, pois o público não se interessaria mais nas produções. Exageros à parte, mas o temor dos profissionais é justificado, já que o estigma da camisinha como diminuidor do prazer e a preferência por deixar o preservativo de lado na hora da transa é válido tanto para voyeurs como no ato na vida real. “Homem que vai ver pornô, está atrás de sacanagem pesada, é quase como quebrar uma regra. Com a camisinha, parece que existe regra”, afirmou João.
Ele, assim como Bernardo, é consumidor assíduo de produções eróticas e ambos compartilham da opinião que o preservativo “tira a graça da coisa toda”. “Prefiro ver filmes que não usam, e vejo que essa é a preferência”, disse Bernardo. O gosto, porém, não está nada aliado à falta de informações sobre DSTs, pelo contrário: “esses atores e atrizes fazem testes a cada duas semanas, então, acho que está tranquilo”, justificou Andressa que opta pelas produções norte-americanas, pois não têm aquela “coisa brilhando no pênis do rapaz”. Carolina, apesar de apoiar a obrigatoriedade do uso de preservativos em filmes pornográficos, confessou que, para ela, camisinha diminui o prazer.
Carolina faz parte de uma maioria que tem informações sobre as doenças transmitidas por relações sexuais, mas que não usa camisinha na hora do sexo. Segundo a ginecologista Paula Fettback, 90% dos pacientes que ela atende são contra o preservativo. “É assustador como são resistentes ao uso, mesmo com todas as informações, a pessoa acredita que nunca acontecerá com ela e, se acontecer, dá para tratar”, afirmou a profissional. Entre adolescentes, é comum o relato de que pedir o uso do preservativo “corta o clima”, já pessoas em relacionamentos sérios não enxergam necessidade de proteção, explicou Paula.
Camisinha só na 1ª transa
O que Paula observa é que as pessoas iniciam a vida sexual com alguém fazendo uso do preservativo, mas abandonam no decorrer da relação. Um dos motivos é a diminuição do prazer, mas a médica atende pacientes que acham desnecessário o uso de camisinha quando estão com parceiro fixo. “Só no começo”, respondeu Bernardo. “A cada três transas, em duas uso”, contabilizou João. “Quando estou namorando há mais de seis meses, passo a fazer sem”, disse Andressa. “Quando estou com um cara só, não uso”, afirmou Carolina.
Uma pesquisa feita pelo Ministério da Saúde, usando dados de 2013, mostrou que 94% da população sexualmente ativa reconhecem o preservativo como método de prevenção a DSTs, por outro lado, 45% não usam. A preocupação maior dos pacientes de Paula é gravidez indesejada e, para isso, existem outras opções que não influenciam na transa em si. “Quando você faz sexo sem camisinha, sente na pele e dá mais prazer”, justificou Carolina. O mercado, porém, tem se adaptado e já existem opções finas e resistentes que quase não tiram a sensibilidade, rebateu o dono da produtora de filmes eróticos Brasileirinhas, Clayton Nunes.
Brasileirinhas adotou camisinha e deu certo
Clayton e sua equipe convivem com esse estigma da camisinha ser vilã do prazer há anos e sempre foi um problema pensar em inserir o preservativo nas produções. Mas o que ele chama de “lenda” não afetou os negócios da empresa que passou a obrigar os atores a usarem camisinha nas cenas desde janeiro. “Tínhamos bastante receio de perder clientes, pois é uma lenda que já vem do mercado internacional. Mas essa teoria do caos não aconteceu”, contou.
A mudança não foi planejada e se deu por conta da substituição de uma atriz de última hora, por outra que não havia passado pelos exames obrigatórios dois dias antes da gravação. Como a Brasileirinhas não estava mais licenciando filmes para os mercados americano e europeu – lá são aceitos filmes eróticos com preservativos -, decidiu incorporar a novidade nas filmagens seguintes. Além da possível desmistificação da camisinha e conscientização do uso para quem está assistindo, a nova regra facilitou a vida da produção: “ocupa menos tempo da galera, não precisamos mais levar os atores e atrizes ao laboratório antes das gravações”, contou Clayton.