Com seu primeiro álbum da carreira solo previsto para o dia 29, Xenia França é um nome do qual você vai ouvir falar bastante. Ela lançou recentemente o single Pra Que Me Chamas?.
Com produção de Pipo Pegoraro, Lourenço Rebetez e co-produção da própria cantora, a faixa foi composta por Xenia França e Lucas Cirillo.
Navegando entre os ritmos cubanos e baianos, ambos influenciados pela cultura yorubá, o trabalho traz elementos eletrônicos somados à força de instrumentos como o Batá, tambor sagrado da Santeira Cubana, além do Rum, Rumpi e Lé, todos utilizados no Candomblé.
O refrão “Porque tu me chamas se não me conhece?” sintetiza todo o conceito da música. A frase é uma tradução para “Pa que tu me llamas si tu no me conoces?”, oríkì muito usado em Cuba e que faz referência ao orixá Eleguá, equivalente ao Exu no candomblé brasileiro.
Gravado no RedBull Station, Carbono, El Rocha e Caso Raro, estúdios localizados em São Paulo, a track foi mixada por Russell Elevado (Dragon Mix Studios – NY) e masterizada por Dave Darlington(Bass Hits Studios – NY).
Xenia França, que integra o supergrupo Aláfia, chega para ser rainha do afrofuturismo brasileiro. Súditos, ajoelhem-se diante da musicalidade e das ideias desta baiana porreta. Um ícone do futuro que vai fazer muito barulho.
De onde vem a sua música?
Xenia França – Da junção de influências das coisas que ouvia desde pequena até hoje. Vem do aprendizado da minha cultura na Bahia misturado com as experiências de ser uma mulher preta nordestina vivendo em SP. Vem da minha ancestralidade. Vem do chão e do espaço. Da memória e da imaginação.
O que está acontecendo de mais novo na música hoje?
Xenia – Ixe… um milhão de coisas incríveis. Estamos vivendo uma explosão de sabores artística no Brasil. Muito maravilhoso ver a galera fazendo seu som com identidade e sinceridade. Principalmente os trabalhos que se comprometem não só com entretenimento mas que mostram interesse com o que esta acontecendo socialmente no nosso país.
Como é para você ver o negro de um lado ser apresentado na moda e na publicidade como “fashion”, enquanto que de outro lado há a violência e as estatísticas?
Xenia – Acho importante a representatividade estética. O racismo nos ensinou a nos odiarmos e termos baixa auto-estima. E precisamos começar a mudança de algum lugar. Embora esses espaços de representação não seja liderado nem gerenciado por mãos negras. Estamos começando desenvolver um novo conceito de auto-construção da nossa própria imagem.
Mas pra gente de fato começar a se desenvolver em maior número socialmente e estar em par de igualdade com a etnia dominante precisamos estar em mais lugares. Em todos na verdade. Interferindo nas estruturas que não nos representam, como na política, nos tribunais e na educação que não ensina a nossa verdadeira história por exemplo. Tudo ainda é muito discrepante e desigual e resulta na enorme violência contra o corpo negro, na estereotipização da nossa imagem, na invisibilidade nos espaços de poder e no extermínio da nossa juventude pobre e negra.
Que artistas da nova cena mais gosta e indica?
Xenia – Baiana System, Larissa Luz, Afrocidade, B_T_PGdão, Liniker, As Bahias e Cozinha Mineira, Mahmundi, Luedji Luna, Tássia Reis, Zé Manoel, Rico Dalasam, Karol Conká e etc.
Quem são seus heróis musicais?
Xenia – Acho que meu primeiro herói foi o Michael, Jackson, (risos) tenho um altar pra ele em casa, e através da música dele eu conheci e passei a venerar outros artistas como James Brown e Stevie Wonder. A música afro-americana sempre me inspirou muito Whitney Huston, Lauryn Hill, Erikah Badu, Esperanza Spalding. Também cresci ouvindo Os blocos afros da Bahia falando sobre identidade e orgulho de ser preto. Margarete Menezes Carlinhos Brown, Gilberto Gil, Edson Gomes, Djavan, Alcione, Elza Soares e Milton Nascimento… não tem fim.