No pano de fundo, o paraíso em branco e preto, o céu vermelho e a maçã do pecado iluminada. Em cima dos amplificadores, três bonecos parecidos com imagens religiosas, talvez em madeira, um tanto sinistros. Na frente, Jack e Meg White, como missionários do rock, transformando a turnê brasileira do White Stripes em um ritual inesquecível de iniciação para um disco ainda inédito.

“Vocês não conhecem essa música, mas vão aprender agora, comigo”, disse umas duas vezes o vocalista, de chapéu preto escondendo boa parte do rosto.

A platéia de fiéis, na noite de sábado no Credicard Hall, em São Paulo, não deve ter decepcionado a dupla de Detroit em momento algum, batendo palmas quando parecia não saber a letra, fazendo o backing vocal quando podia.

Os dois estão em turnê do quinto disco da banda, “Get Behind me Satan”, com lançamento internacional na segunda-feira. Assim como algumas letras e atitudes da dupla, o nome tem um sentido ambíguo em inglês, valendo tanto como um pedido de proteção para Satanás, como uma interjeição do tipo “vade retro, Satanás”.

No começo da semana, a dupla fez uma passagem avassaladora por Manaus, quando tocou no lendário Teatro Amazonas, fez uma apresentação surpresa no meio de uma praça e Jack White se casou com sua namorada no encontro das águas dos rios Negro e Solimões. Na sexta, tocaram no Rio de Janeiro, único lugar do país por onde já haviam passado, em 2003. São Paulo foi o ponto final da parte brasileira da turnê.

Do novo trabalho, Jack “ensinou” o público a cantar “The Nurse”, “Blue Orchid” e “Red Rain”. As músicas seguem a mesma linha dos trabalhos anteriores da banda, uma mistura de blues, country, gospel e rock à la Led Zeppelin, com a bateria seca e agressiva de Meg, às vezes um piano suave de Jack e muitas improvisações com uma guitarra elétrica distorcida.

Meg White, de olhos fechados como em transe, sem se levantar da bateria, deu o ar da graça cantando a inédita “Passive Manipulation” duas vezes, com uma voz quase que de criança, meio angelical, mas também perturbadora.

Em outros momentos, sacudia os longos cabelos pretos, disputando cada nota com a guitarra de Jack, numa sintonia hipnotizante. Na bateria, a imagem de uma mão oferecendo uma maçã, um dos símbolos do disco.

Jack, de calça branca com detalhes em vermelho nas laterais e camiseta preta justinha, estilo cowboy, não parou um minuto de circular pelo palco, que contava com uma estrutura de mais de quatro microfones para que ele pudesse cantar e tocar de qualquer lugar, fosse dedilhando o piano, ou tocando xilofone perto de Meg.

A dupla guardou hits do disco anterior, “Elephant”, para o bis. Antes dos dois voltarem ao palco, a platéia sussurrava “Seven Nation Army”, uma das músicas mais conhecidas do White Stripes e, portanto, uma das mais bem recebidas da noite.

Outras canções de destaque foram “You’ve Got Her in Your Pocket”, “I Just Don’t Know What To Do With Myself”, cover de Burt Bacharach, e “Jolene”, outro cover, de Dolly Parton, lançado apenas em single.

Perto do final, o vocalista exibiu o novo CD como se fosse uma relíquia em cima de um altar, desceu até os “mortais” na pista, passando pelos seguranças, e entregou o trabalho nas mãos de um felizardo escolhido por ele.

“Que Deus abençoe o Brasil”, finalizou Jack, após seis bis, uma hora e quarenta minutos de show e a promessa de voltar a São Paulo “o mais rápido possível”.

Veja fotos do show que rolou em SP!


int(1)

White Stripes faz