Gali é o novo nome artístico da empresária Camila Garófalo. Idealizadora da Sêla, a cantora e compositora diz ter feito a mudança de nome para ter mais liberdade criativa.
Inspirada pela viola caipira, resgata suas raízes no interior de São Paulo, Ribeirão Preto, e mistura também o que aprendeu em dez anos radicada na capital paulista. Aborda em suas letras a temática da mulher lésbica e de sua desconstrução dentro da questão de identidade de gênero.
Gali escolheu o Festival Psicodália para uma de suas primeiras apresentações. Para a edição 2019, já estão confirmados nomes como Elza Soares, Pepeu Gomes, Tom Zé, Dona Onete, Anelis Assumpção, Xênia França, Mulamba, Azymuth. O festival vai de 1º a 6 de março, em Rio Negrinho (SC).
Nesse show de estreia apresenta mais do que as novas músicas que virá em forma de álbum visual. Ao lado da coletiva Casarelas de mulheres performáticas criam cenas e cenários durante o espetáculo, convocando entidades inventadas para subirem no palco e também para interagir com o público.
As performances são inspiradas nos clipes que serão lançados ao longo do ano e que funcionam como capítulos de um “roadie movie”.
O primeiro clipe da música Raiz foi gravado em Tabuleiro (MG) e será lançado em fevereiro, antes do festival.
Leia nossa conversa com a artista ribeirão-pretana:
Que mudanças as pessoas podem esperar da Gali em relação à Camila?
Gali – GALI não é mulher, nem homem. Também não é bicho. É uma espécie em (des)construção, que na medida que adentra sua natureza desenvolve novas capacidades criativas: sente o cheiro da água e segue seu instinto em direção ao sol. A mudança nasceu do miolo do meu antigo nome artístico lido ao contrário – CAM*ILAG*ARÓFALO – *GALI*).
É um mergulho às minhas raízes e à minha infância em rodas de viola caipira com sertanejo. Mas também é uma consciência de que essas raízes são mais profundas que nosso passado terreno. É um personagem em constante espiritualização, que encontra nos elementos naturais a força da sua identidade.
Como é pra você ser uma referência para meninas que estão surgindo?
Gali – Talvez a Camila Garófalo tenha encontrado na SÊLA uma ferramenta para comunicar um feminismo mais abrangente sobre a liberdade da mulher na música. Já a GALI encontra na comunidade LGBTQ+ seu maior discurso, porque levanta questões de identidade de gênero. Acredito que essa também é uma forma de conscientizar meninas que buscam por sua liberdade de expressão no mundo, afinal, a mensagem é de que você pode ser quem quiser, usar a roupa que quiser e se comportar da maneira mais natural que lhe sugere seu instinto.
Você concorda que o rock não morreu, ele apenas mudou de gênero?
Gali – (risos) Já não sei mais o que é rock e o que não é. Talvez se a gente pensar que cada artista carrega sua individualidade então o que morreu foi essa história de gênero musical. Me intitulei e me intitularam roqueira quando eu era Camila Garófalo.
Agora quero justamente me aventurar pelas intersecções da música, aceitar a sua fluidez e principalmente me deixar levar por meus impulsos e referências, como é o caso da música caipira.
Não sei se o que estou fazendo agora é sertanejo, MPB ou indie rock, sei que tem a ver com o que eu me tornei visitando todas essas referências. O rock pode continuar vivo mas eu confesso que quero me distanciar um pouco dele.
O que está rolando de mais interessante na música hoje na sua opinião?
Gali – Assim como disse na pergunta anterior, as coisas estão se misturando, as ideologias tem se mesclado com outras que não necessariamente são a continuação da anterior. Por exemplo Tuyo que faz você chorar e dançar ao mesmo tempo. A banda curitibana é uma grande inspiração pra GALI porque mistura o orgânico e contemporâneo na medida certa. É bonito ver o processo de resgatar raízes com a ideia do que aprendemos por nós mesmos. Posso citar Romero Ferro de Recife que une o brega ao moderno ou ainda Anavitória que apesar de estarem imersas no pop trazem traços do sertanejo nas melodias. Amo Pabllo Vittar. É impressionante seu processo de mistura de universos diferentes.
Que característica crê que seja mais marcante na sua geração?
Gali – O vício em redes sociais. Tá tudo tão ciborgue e cibernético que a gente se questiona todos os dias se está sendo tão feliz quanto aquela ideia estereotipada de felicidade que vemos nos posts dos amigos.
Quais são suas referências estéticas?
Gali – Minha estética sonora tem muito de Zé Ramalho e Alceu Valença. Apesar de trazer referências da música caipira incorporada na viola também mistura muito do que aprendi em dez anos de São Paulo.
Quais são seus valores essenciais?
Gali – Busco nunca julgar o(a) próximo(a).