Quem tem filhos ou convive com crianças sabe que algumas músicas feitas para elas, ou que acabam caindo no gosto infantil, podem proporcionar uma experiência nada agradável. Ainda mais se repetida milhares de vezes, como os pequenos gostam.
Neste sábado (12), Dia das Crianças, o Virgula Música obviamente não ia ficar de fora das ~comemorações~. De presente para vocês, internautas, trazemos uma seleção de artistas que resolveram trilhar um caminho para se aproximar desse público – mas menosprezar a inteligência desses pequenos seres humanos.
Palavra cantada
A dupla formada por Paulo Tatit e Sandra Peres já está há 19 anos fazendo música para crianças, sendo que tudo começou com uma “conversa boba sobre canções para Ninar”, de acordo com o que Tatit disse para o jornal Bem Paraná. Se você foi criança nos anos 2000 e assistia a TV Cultura, provavelmente se lembrará de músicas como Fome Come, O Rato e Pindorama, que tocavam na programação infantil da emissora. Com letras inteligentes, e regravações de clássicos infantis, a dupla cativa tanto o seu público alvo como os seus progenitores. “Acho que os pais gostam de ouvir a gente e têm prazer de ouvir algo que os filhos também estejam curtindo”, disse Paulo Tatit em entrevista para a revista Crescer. “É como se fosse uma viagem de trenzinho, uma experiência junto, emotiva e emocionante. Uma comunhão”.
Música de Brinquedo
Em 2011, a banda mineira Pato Fu conseguiu um Disco de Ouro com o álbum Música de Brinquedo, lançado no ano anterior. Com o trabalho, eles atingiram o público infantil pela sonoridade – usando para fazer as suas músicas, literalmente, instrumentos de brinquedo. Como parte da banda, estavam xilofones, cornetas, cavaquinhos, flautas e kazzos (instrumento de sopro). Quanto ao repertório, ele se deu somente por covers. Em entrevista para o Vírgula na época do lançamento do álbum, o guitarrista John Ulhoa explicou o critério para a escolha das músicas que integraram o disco, dizendo que elas deveriam estar no “inconsciente coletivo”. “E que tivessem as partes instrumentais conhecidas”, ele contou para o Portal. “Esse foi um elemento fundamental. (…) Porque, ao transpor para os instrumentos de brinquedo, uma coisa legal de se ver é como são resolvidas as partes instrumentais”. Criançar participaram das canções, e no palco da turnê dedicada ao disco, fantoches backing vocals marcaram presença.
Adriana Partimpim
Em 2004, a cantora e compositora Adriana Calcanhotto lançou o projeto que havia iniciado uma década antes. Com o heterônimo Adriana Partimpim, ela lançou um álbum voltado para o público infantil. Em entrevista feita por Calcanhotto com Partimpim (sim, isso mesmo), esta disse que queria fazer algo solto das amarras dos gêneros musicais definidos, como rock, pop. Mas durante os dez anos em que o projeto ficou engavetado, ela alegou que a expressão “para crianças” deixou de fazer sentido, pois dava a impressão de que ela queria excluir os adultos do seu público. “E qual era o objetivo, já que não era excluir os adultos?”, perguntou Calcanhotto. “Mudar o mundo”, respondeu Partimpim. E deu ao seu primeiro álbum o rótulo de “Classificação livre”. Ele foi lançado em 2004, e é composto apenas por covers. Os dois trabalhos seguintes, que chegaram às lojas em 2009 e 2012, são constituídos por composições da própria Partimpim.
A Arca de Noé
O boêmio Vinícius de Moraes também dedicou uma parte do seu talento para as crianças. Em 1970, ele lançou o livro A Arca de Noé, com poemas infantis. Dez anos depois, o livro se transformou em um álbum. O sucesso foi tão grande que já em 1981 foi lançado o álbum A Arca de Noé 2. Agora em 2013, ano do centenário do Poetinha, Susana Moraes, sua filha, Dé Palmeira, Adriana Calcanhotto e Leonardo Netto empreenderam o projeto de regravar algumas canções dos álbuns. A versão de 2013 tem nomes como Chico Buarque, Marisa Monte, Chitãozinho e Xororó, Zeca Pagodinho e Erasmo Carlos. “Minha relação com essa obra vem de aporrinhar meu pai”, contou Susana Moraes para o jornal O Globo. “Eu e Pedro (irmão dela) perguntávamos: ‘O que você está escrevendo?’. Ele respondia: ‘Poesia’. ‘E o que é poesia?’. Até que, para se livrar da gente, começou a fazer esses poemas de bichos”.
Pequeno Cidadão
O projeto Pequeno Cidadão foi lançado em 2009, pelos artistas Arnaldo Antunes, Edgard Scandurra, Antonio Pinto e Taciana Barro. Os quatro se juntaram para fazer música com seus filhos. O projeto, que se descrevia como “música psicodélica infantil”, atraiu adultos, obviamente – provavelmente pelo peso do nome dos envolvidos. O primeiro álbum foi um sucesso e se transformou em um DVD, no qual cada uma das 14 canções receberam um vídeo em forma de animação. Houve a participação, inclusive, de um ilustrador de peso e velho conhecido da criançada: Ziraldo, pai de Antonio Pinto, fez a animação para a música Pererê, que ele mesmo compôs. Em 2012, Arnaldo Antunes deixou o projeto, mas o Pequeno Cidadão continuou, lançando inclusive um segundo álbum – que tem composições das crianças do grupo.
Palavrão Cantado
Ok, a nossa última dica não é de música infantil. Bom, na verdade é. Mas o público alvo é outro. Se fosse escolher um subtítulo para o seu álbum Palavrão Cantado, Carlos Careqa optaria por “música infantil para adultos”. O nome do projeto é um trocadilho com o já mencionado Palavra Cantada, e cai muito bem na proposta de Carlos. Aqui não há censura: ele fala palavrões naturalmente, como os adultos fazem, e não há censura de temas também. “Elas são mais inteligentes do que pensamos, acessam internet, veem televisão abertamente, gostam de falar bobagem sem culpa”, o artista disse sobre as crianças à Folha de São Paulo. Na mesma ocasião, ele disse dedicar às músicas “para aquela criança que existe dentro da gente, já que é ela que nos faz sorrir e acreditar em dias melhores”.