Nascido a partir do encontro de produtores locais de Brasília que se reuniram para fazer um evento que fomentasse a nova safra da região e estimulasse o turismo, o Festival CoMA, realiza a segunda edição entre 10 e 12 de agosto.
Ele é dividido em duas frentes: shows e conferência. A parte musical do evento destina 50% da sua programação a bandas brasilienses, a outra metade é preenchida com artistas que têm chamado atenção no país.
Elza Soares, Céu, Maurício Pereira, Xênia França, Chico César, Marcelo Jeneci, ÀTTØØXXÁ, Maglore, Mundo Livre, Vanguard, Linn da Quebrada, Vitor Araújo estão entre os nomes da extensa programação.
Leia entrevista com Maurício Pereira sobre o álbum Outono no Sudeste, lançado este ano por ele, retomada da canção, cena de Brasília e entre outros assuntos.
Por que quis fazer Outono no Sudeste e como o conceito apareceu?
Maurício Pereira – Desde os anos 90 eu tenho feito discos de canções. A cada safra nova eu trato de fazer um disco, “Outono no Sudeste” é outra dessas safras. É um disco de um cara mais velho, mais tranquilo e mais angustiado ao mesmo tempo. O “outono no sudeste” é uma estação de transição, uma ponte da extroversão do verão pro recolhimento do inverno.
Meu disco anterior Pra Onde Que Eu Tava Indo, de 2014, já tinha isso. O outono vai mais fundo, inclusive musicalmente. A intimidade da banda com o meu trabalho e a mão do Gustavo Ruiz na produção deram uma força pro disco, talvez então o conceito seja esse: canções internas, pessoais, fotos de um meio de caminho…
Qual é a importância de uma convenção como a CoMa em Brasília?
Maurício – Essa cena de festivais independentes desse começo de século aqui no Brasil é muito importante, além de apresentar a produção de novas bandas, tem sempre a discussão sobre como sobreviver fazendo música, sobre produção, sobre o jeito como o mundo tá mudando e pensando e propondo novas maneiras de trabalhar. A troca de experiências é muito forte. Eu venho de outra época, aprendo muito com os moleques, E trago coisas que podem ser úteis pra eles também.
Metade da programação é com artistas de BSB, que características acha mais marcante da cidade e como isso relaciona com a música?
Maurício – Vital a cena local estar presente, seja pra mostrar a cara, seja pra trocar com quem vem de fora. Prum paulistano da gema como eu, Brasília é um lugar intrigante. Uma cidade nova, aparentemente menos caótica do que uma cidade rica, gigante, veloz e multicultural como SP. Ser a capital e estar no centro do país deve botar o Brasil dentro de Brasília dum modo diferente de SP, né? Para a minha geração Brasília é importante pelas bandas de rock dos anos 80, que me trouxeram um feeling diferente do país, e o que veio depois também tem um mix interessante (falo isso pensando em bandas como Natiruts, Raimundos ou Móveis Coloniais de Acajú). Enfim, sinto que a música de Brasília tem uma dose bruta de Brasil dentro dela.
Por um tempo se imaginou o fim da canção, crê que com esta nova retomada ficou provado que é algo cíclico?
Maurício – Uma coisa básica e popular que nem a canção não acaba nunca. Tem épocas de alta e baixa. Tem safras melhores, tem época em que está mais na moda. Muda um pouco na estrutura aqui e ali. Mas certamente os últimos 10 anos mostraram uma moçada com muita criatividade, conhecimento e liberdade pra fazer canção, e que vem com a noção de que tem que tornar seu trabalho sustentável. Sem falar na cena mais comercial, que mostra vigor no funk ou no sertanejo pop, consigo ver inovação também na indústria.
O que tá rolando de mais interessante na música hoje na sua opinião?
Maurício – Como eu disse, vejo uma cena autoral talentosa. Tem essa safra que vem de uns 10 anos atrás, tipo Metá Metá, Tulipa Ruiz, Karina Buhr, muita gente. E outra mais recente, essa geração de O Terno ou Liniker, por exemplo.
Vejo o pop que vem da periferia ocupando a indústria com força, seja o funk, seja o rap, conversando sobre empoderamentos, de raça, gênero ou segmento social, com ideias musicais simples, diretas, criativas. Vejo os jovens artistas usando o mundo digital com muita naturalidade: as redes, as facilidades de gravação e distribuição, a possibilidade de se associar.
Enfim, acho que a música brasileira tem coisa interessante em todos os seus segmentos, desde o mais indie ao mais comercial, e olhando pra ela sem muito preconceito, sinto que ela tá viva e forte, tentando ser sustentável mesmo num país de renda concentrada e educação ruim, coisas que dificultam muito a criação um mercado forte que permita a um artista sobreviver de arte sem a necessidade de ser subsidiado pelo estado.
SERVIÇO
CoMA
Convenção de Música e Arte Data: 10 a 12 de agosto Locais: Complexo CoMA: – Gramado da FUNARTE – Centro de Convenções Ulysses Guimarães – Clube do Choro – Planetário Vendas Gerais (a partir de 23 de maio): Acesso – 11/08 (sábado): R$ 20 meia/R$ 40 inteira (1ºlote) Acesso – 12/08 (domingo): R$ 20 meia/R$ 40 inteira (1ºlote) Passaporte Festival: R$ 35 meia / R$ 70 inteira (1º lote) Passaporte Conferência + Festival (Sábado + Domingo + Conferência): R$ 125 (1º lote).