“Eu não sei se sou homem ou se sou mulher. Eu sei que sou bicha, preta e é isso. Por que eu preciso estar me colocando se sou trans? Vamos viver as nossas diferenças”, diz Liniker, de apenas 20 anos, direto de Araraquara, cidade quente no interior de São Paulo. O cantor, que anda chamando a atenção por seu vozeirão grave, sua black music envolvente e jeito ousado de se vestir, é um dos artistas emergentes mais comentados da música brasileira.
Para ter uma ideia da dimensão do que está acontecendo ao seu redor, o vídeo da música Zero foi lançado no Facebook, e em apenas cinco dias já tinha mais de 1 milhão de visualizações. No Youtube os números também são surpreendentes e só crescem. Pessoas de vários cantos do Brasil (e também do exterior) pedem apresentações em suas cidades pelas redes sociais. Em janeiro, vai abrir um show da Tulipa Ruiz e Marcelo Jeneci, no Circo Voador, no Rio de Janeiro, e uma turnê na gringa já está nos planos. Não é, e não vai ser pouca coisa.
“É muito surpreendente tudo isso o que está rolando. De repente, você acorda e todo mundo está te ouvindo. É muito doido. É incrível saber que tem tanta gente que está se sentindo representada e fazendo parte deste movimento. Pra mim, como artista e pessoa, é o tipo de coisa que só agrega e me faz acreditar. Você vê que as coisas acontecem e as possibilidades estão aí”, contou Liniker em entrevista ao Virgula.
Para quem não sabe, Liniker de Barros Ferreira Campos é seu nome de RG, uma homenagem vinda de seu tio ao jogador inglês Gary Lineker. Seu contato com a música vem de berço e seu primeiro canto aconteceu na sexta série. Mas, tudo mudou quando ingressou no musical Os Saltimbancos, realizado em sua cidade natal. “Consegui o papel principal, que era o do cachorro, e eu tinha que fazer umas quatro vozes diferentes. Lembro que foi a primeira vez em que minha mãe me viu cantar. Desde então comecei a compor e a escrever”.
Com os Caramelows, banda que o acompanha, lançou o EP Cru há apenas dois meses, e as músicas são cantadas a plenos pulmões pelos fãs, que crescem a todo momento. “Fizemos um show recentemente em São Carlos, no GIG, e a galera subia nas bancadas, gritava e cantava todas as músicas. Uns choravam, outros até passavam mal. Eu fiquei surpreso, não sabia nem o que falar. Foi muito bonito ver as pessoas se sentindo parte do nosso trabalho”, celebra Liniker.
Sobre o modo se vestir, ele explica: “Eu sou assim no meu dia a dia. Tento me desconstruir em relação a gêneros faz dois anos, e essa é a forma que achei mais sincera e transparente para as pessoas chegarem próximas a mim, do mesmo jeito que eu quero que elas cheguem ao meu trabalho. Estar vestido assim (com roupas femininas) não é uma escolha, não é um personagem. Estar no vídeo, ou no show, com determinada roupa é porque me sinto à vontade com ela”.
Não por acaso, Liniker chama a atenção em um momento em que a música brasileira está com os olhos bastante voltados à artistas LGBTTT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros), como Rico Dalasam, Jaloo, Tiago Pethit, Johnny Hooker, Luana Hansem e mais.”Eu ouço Johnny Hooker, Rico Dalasam e vejo uma representatividade. São pessoas diferentes, com vontade de falar assim como eu. Então, me sinto à vontade para me inserir de alguma forma”, diz ele, e complementa: “Acho importantíssimo ter essas pessoas em nossa cultura, desde o Ney Matogrosso, por exemplo, que causa uma cena de mostrar a diferença. As pessoas veem que ali, assim como elas, também existe um corpo que quer transformar, que quer falar e botar pra fora, e começam a entrar na dança”.
Para 2016, Liniker tem planos, embora não revele muito do que está por vir. “Uma coisa é certa: vamos lançar o nosso álbum debut, Remonta. No momento, estamos morando em Araraquara, mas penso em sair daqui um dia. Já temos algumas coisas em mente, mas prefiro deixar a vida mostrar pra gente como vai ser. O que posso dizer é que pretendo fazer muita música gostosa pra galera dançar, e chegar cada vez mais nos lugares que pedem a gente. Será um ano de movimento, trabalho, dedicação e transparência”.
Talento, alma de artista, carisma, identidade e identificação, Liniker possui de sobra. Ao entrar em seu mundo, está liberado dançar, se emocionar, ser você mesmo e principalmente sambar no preconceito. Segura, 2016!
Para saber mais sobre o Liniker:
Site: www.vulkania.com.br
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Instagram: www.instagram.com/linikeroficial
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