As Bofinhas


Créditos: divulgacao

Duda e Aline formam As Bofinhas, a primeira dupla gay representante do sertanejo universitário no Brasil, como as próprias intitulam sua recém-nascida experiência musical. Buscando espaço em um meio dominado por homens, as garotas planejam ultrapassar as barreiras do som e levantar a bandeira da liberdade sexual. 

“O preconceito já começa pelo fato de ser uma dupla formada no meio do sertanejo. Nosso diferencial é que assumimos a nossa orientação sexual. É um gênero cheio de homofobia, exatamente pelo fato de muita gente inserida nessa cena não assumir que gosta de uma pessoa do mesmo sexo”, conta Aline Criscolim, 24 anos, estudante de direito.  

A dupla, que se conheceu através de Internet, começou como uma brincadeira. “Aline e eu fizemos uma brincadeira, criamos um banner com a foto das duas, e batizamos como As Bofinhas. Muita gente começou a ligar, a perguntar sobre a dupla, e muitos não acreditavam que era uma brincadeira. Eu já estava pensando em fazer um trabalho nessa linha GLS, mas o grande pontapé inicial foi esse”, explica Eduarda Maria, 40 anos, produtora de shows. 



Veja a entrevista com As Bofinhas na íntegra:  

Como surgiu a ideia de formar uma dupla de sertanejo universitário? 
Eduarda: Nos conhecemos pela internet, porque tínhamos muitos amigos em comum nas redes sociais. A dupla surgiu por acaso. Aline e eu fizemos uma brincadeira, criamos um banner com uma foto das duas, e batizamos como As Bofinhas. Muita gente começou a ligar, a perguntar sobre a dupla, e muitos não acreditavam que era uma brincadeira. Eu já estava pensando em fazer um trabalho nessa linha GLS, mas o grande pontapé inicial foi quando as pessoas começaram a insinuar que deveríamos fazer uma dupla. Muita gente pergunta se somos namoradas, mas na verdade não, somos apenas amigas.  

De onde veio o nome? O que significa As Bofinhas?
Aline:
As Bofinhas foi ideia da Eduarda, e quando ela me falou eu aceitei na hora, nem questionei porque define exatamente o que somos. Na gíria gay, bofinha é a lésbica que faz o papel masculino em uma relação. 

Quais os planos para carreira? Tudo aconteceu muito rápido …
Eduarda: Não tivemos tempo de lançar o disco antes da notícia chegar na grande mídia. Hoje nos mecanismos de busca, já são mais de 50 mil citações sobre nosso nome, e o nome da dupla. É algo extraordinário. O CD fica pronto em junho e terá pelo menos 10 faixas. Claro que não vai faltar a música de trabalho A Onda Agora é Só Ficar, e um outro hit que queremos emplacar chamado Miss Brasil Gay dos compositores Carllos Colla e Paulo Debetio. Posso garantir que em breve vocês terão muitas novidades sobre a gente.

O sertanejo é um gênero homofóbico, como vocês pretendem contornar isso e atingir o grande público?
Aline:
O preconceito já começa pelo fato de ser uma dupla formada no meio do sertanejo. Nosso diferencial é que assumimos a nossa orientação sexual. É um gênero cheio de homofobia, exatamente pelo fato de muita gente inserida nessa cena não assumir que gosta de uma pessoa do mesmo sexo. Somos uma dupla independente, pretendemos fazer algo legal e diferente, e o público que gostar das nossas músicas não vai se importar com isso. Vamos na verdade fazer algo para defendermos uma bandeira, a bandeira da liberdade e do direito de escolha, independente de qualquer coisa. É um gênero homofóbico, porque muitos não querem aceitar sua real condição de gostar de uma pessoa do mesmo sexo, mas de repente com nossa chegada eles resolvem se assumir. Não que as pessoas devam ser gays ou lésbicas, estou falando daqueles que são, mas não aceitam por uma imposição da sociedade, e acabam vivenciando uma dupla personalidade.

Vocês estão afirmando que tem gays no meio sertanejo, mas quem são eles?
Eduarda:
Não posso falar por dois motivos. Primeiro que não nos interessa a sexualidade das pessoas, o importante é o caráter e o respeito que cada um tem pelo outro ser humano, e segundo que não vem ao caso citar porque não é o foco aqui, mas eu, particularmente conheço vários, mas por medo de perder o status, acabam vivendo uma vida de mentira e engano, casando e tendo filhos inclusive, não que isso seja errado, mas essas pessoas vivenciam algo que elas não são. É como um personagem que se traveste para sair à rua, e se desmonta ao chegar em casa, é mais ou menos isso. Mas, uma coisa é fato, vamos tirar muita gente do armário.

Vocês se intitulam evangélicas, não sofrem preconceito dentro da Igreja?
Aline:
Não. Sou de uma igreja inclusiva que aceita as pessoas como elas são, aliás, Deus aceita o ser humano como ele é, porque todos nós somos filhos dele, o preconceito, as mazelas, o engano e a discórdia, é criação da mente fétida de seres humanos maldosos, que querem denegrir a imagem do outro, porque não concorda com seus ideais. Já Eduarda não tem nenhuma religião. 

O que acham de Marco Feliciano e seu discurso contra os gays?
Aline: Acho que ele conseguiu o que realmente queria, mídia e visibilidade nacional com uma pitada de popstar. No Brasil para ficar famoso é preciso apenas criar algo inédito, ou falar algo que possa chocar a sociedade. Achamos que ele está querendo moldar o comportamento e a escolha alheia, de seguir o que bem entende e o que bem quer. Ficamos muito preocupadas com esse homem na Comissão de Direitos Humanos, porque ele está defendendo simplesmente seus interesses pessoais, e esquecendo de defender os interesses da sociedade brasileira a qual paga muito bem este cidadão, para que ele faça um bom trabalho. Ele usa a palavra de Deus como degrau para exteriorizar o seu preconceito.
Eduarda: Como deputado ele não me representa, fala o que quer, não mede palavras e tem que ouvir o que precisa.  Dizer que Deus fulminou aqueles que tentaram colocar palavras torpes na boca das nossas crianças referindo-se aos Mamonas Assassinas, ou falar da música do Caetano Veloso, ou ainda do John Lennon, sinceramente não dá para levá-lo a sério. Nossa nota é zero para ele.


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'Vamos tirar muita gente do armário', diz cantora de As Bofinhas, dupla lésbica de sertanejo universitário