Blake Farber


Créditos: Divulgação

Com um currículo que inclui o vídeo de Countdown, de Beyoncé, o novaiorquino Blake Farber, tem uma forte relação com o Brasil, tanto por ter dirigido o clipe de Meiga e Abusada, o primeiro empurrão sério para a carreira de Anitta em direção ao pop, quanto por ter morado quatro meses no país em 2012.

Blake conta em entrevista ao Virgula Música, que a entrega de Anitta ao trabalho já era uma pista de que ela logo explodiria. “Instantaneamente, se tornou óbvio para mim que todo aquele trabalho duro iria compensar em algum tempo”, afirma.

O diretor, que trabalhou também com nomes do peso da diva Alicia Keys, o hitmaker Nile Rogers e o pianista de jazz Hank Jones, falou, entre outros assuntos, sobre como ficou surpreso com Beyoncé grávida de seis meses dançando de salto por 14 horas e que pretende trabalhar com Sepultura, Dead Fish e Seu Jorge

Como foi trabalhar com Beyoncé, ela é mesmo a chefe?

Beyoncé não é só a chefe, ela é A CHEFE. Ela foi a cantora mais incrível com quem já trabalhei. Ela é muito profissional, tão gentil e ainda assim capaz de dançar 14 horas grávida de seis meses, o que me deixou espantado.

Ela estava ainda de salto alto! Trabalho duro e talento com certeza compensam. Ela também é muito doce com seus colaboradores. Percebi que quanto mais famosas as celebridades, mas amáveis e quentes eles são. Parece que nomes novos assumem mais a postura de rock stars ou diva, que aqueles mais conhecidos.

Então, para todos os novos artistas, mostre profissionalismo de verdade, gentileza e trabalho duro. Acredite em mim, compensa.



Que características um bom vídeo deve ter, na sua opinião?

Antigamente era sexo, drogas e rock and roll, mas na nova era de vídeos, ele precisa ter uma mistura forte entre comédia, danças incríveis ou algo louco e único. Quando artistas e selos deixam você ser criativo e dar tudo é a melhor coisa, sendo sincero. Os vídeos musicais são o último meio artístico em que quase tudo pode acontecer.

Quando você rodou o clipe de Meiga e Abusada, a Anitta ainda não era a grande popstar que ela se tornou com Show das Poderosas. Você sentiu naquela época que ela iria crescer?

Durante os dois clipes da Anitta com quem eu trabalhei, tive um sentimento muito forte de que ela iria crescer e se tornar o que ela é hoje, a artista brasileira de maior vendagem. Pela quantidade de trabalho duro que ela e sua equipe de gerenciamento (K2L) fazem. Isso instantaneamente se tornou óbvio para mim que todo aquele trabalho duro iria compensar em algum tempo.

Afinal, o Brasil precisa deste tipo de estilo de música pop americano, então foi na hora certa. Trabalhei com muita gente no mundo todo, de cantores conhecidos a promessas. E aqueles que sobrevivem e passam para o próximo nível são os que mais trabalham no negócio.

Recentemente, outra cantora que tanbém veio do funk carioca, a Valesca Popozuda, lançou o clipe de Beijinho no Ombro e se tornou uma febre graças à internet. Você acha que isso confirma que o YouTube é a nova MTV e para novos artistas se tornou mais importante ter um bom clipe que um álbum completo para fazer sucesso?

Lembro de um grande amigo me falando sobre a Valesca (na verdade, eu estava interessado em trabalhar com ela). Muita coisa do YouTube, no entanto, modas virais tendem a desaparecer rapidamente . Gangnam Style, Ai Se Eu Te Pego, Leke Leke etc… Da mesma maneira que a MTV foi lançadora de tendência o YouTube é a nova forma. O que eu vejo, contudo, é que os artistas mais espertos fazem é se reinventar mercadologicamente, então, eles estão sempre no topo.

Entre os anos 80 e o 00, Madonna descobria o que era popular e se reposicionava a cada single. Foi algo difícil de manter, mas um negócio superesperto. Mais recentemente, Beyoncé emplacou toneladas de hits ao longo de 15 anos, mas sempre imaginou como iria se apresentar como algo novo o tempo todo.

É muito importante que um artista ter um vídeo forte para reprentá-lo. Basta perceber que às vezes um vídeo obtém mais visualizações que o número de fãs daquele artista no Facebook. Às vezes, até mesmo vídeos num estilo louco ou engraçado conseguem vender uma banda desconhecida da noite para o dia. Veja como  um vídeo levou Ylvis – What Does The Fox Say a se tornar internacionalmente conhecido.

Qual é a diferença entre os artistas brasileiros com quem você trabalhou e os de outros lugares?  

A coisa mais interessante de trabalhar pelo mundo é encontrar pessoas fantásticas, novas culturas e todos os tipos diferentes de personalidades. A beleza de fazer files e vídeos, no entanto, é que você trabalha como um time ou família para tentar criar algo valioso.

 No Japão, aprendi sobre a importância da festa após a filmagem. Na Itália, que é preciso fazer um almoço muito bom no meio do trabalho.  No Catar e Oriente Médio, como a religião desempenha um papel importante no planejamento do seu dia. No Brasil, encontrei  meus melhores amigos e segunda família apenas trabalhando e viajando por aí. De modo que, às vezes, me sinto mais em casa no Brasil que nos Estados Unidos.

Estive envolvido em algumas histórias insanas no Brasil, equanto estava em pré-produção de trabalhos com Negra Li e Sepultura. Nesta época foi difícil me limitar ao trabalho quando foi atacado pelo noticiário e quase morri (também estive no prrograma de TV Pânico por duas semanas seguidas. Talvez você se lembre da história que aconteceu comigo e com meu cachorro Zeca (Nota da reportagem: Blake foi vítima de um arrastão enquanto estava no apartamento de um amigo, foi assaltado e o cachorro, que na verdade era do amigo, foi levado pelos bandidos. O animal acabou recuperado e está em São Paulo).

Você continua conectado com o que acontece no Brasil? Com que outros artistas daqui gostaria de trabalhar?

Sou bem ligado no que acontece no Brasil porque o país ainda é a minha segunda casa. Até mesmo apoiei os protestos no Brasil aqui em Nova York. Aqui está cheio de brasileiros e eu adoro praticar o português com eles. Estou tentando voltar para trabalhar com novos grupos e cantores no estilo de Anitta ou mesmo com bandas consagradas ou que ainda vão se tornar conhecidas.

Sou muito amigo dos caras do Sepultura e do Dead Fish, mas ainda não trabalhamos juntos, o que eu adoraria. Também encontrei Seu Jorge algumas vezes e gostaria de fazer algo incrível com ele, até mesmo um filme. Acho que seria interessante fazer algo junto com Emicida. Então vamos ver o que acontece. Realmente estou ansioso para  voltar (espero que logo) e fazer o próximo artista brasileiro mais popular que Anitta. Quem é o próximo?

Como você escolhe os projetos em que vai trabalhar. Você já fez coias que vão do punk rock ao pop.  Acha que isso ajuda a criar sua assinatura?

Cresci na cena do CBGBs, de hardcore e punk, em Nova York, e me tornei aberto a todos os tipos de música. Realmente gosto de trabalhar com todos os estilos e trazer uma fronteira criativa para cada projeto. Ter contato com todos os tipos diferentes de culturas do mundo trazem ideias novas do que a música significa.

Adoro conhecer músicas novas de grupos americanos e estrangeiros. Sou superaberto a todo tipo de música que existe neste mundo.

A real assinatura pessoal é a experiência de trazer a vida cotidiana para o formato de vídeo musical. Dirigir é uma coleção de histórias pessoais e trazê-las da vida junto com a sua equipe é a coisa mais bonita. Como filme e vídeo são uma linguagem universal, todos podem entender.


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