Banda criada por Itamar Assumpção (1949-2003), a Isca de Polícia lança seu primeiro disco autoral após a partida do ícone da música brasileira, Isca-Volume 1, com uma apresentação no Auditório Ibirapuera na sexta (11), às 21h.
O show tem participações especiais de Liniker, Arrigo Barnabé, Os Amanticidas e Tulipa Ruiz e contará com interpretação em Libras (Língua Brasileira dos Sinais).
Leia entrevista concedida por Vange Milliet e Luiz Chagas para ao Vírgula Música.
O que sobrevive do Itamar no atual momento da música brasileira?
Vange Milliet – Itamar está mais presente que nunca. Hoje seu trabalho tem uma repercussão maior do que tinha enquanto ele era vivo. Aliás, como ele profetizava desde o início, “Vou ser como Cartola, ser reconhecido depois de morto”. O som do Itamar hoje é reverenciado, suas músicas são gravadas por intérpretes com grande público, novos artistas foram influenciados por ele. Deixou sua marca. Já é.
Luiz Chagas – O que sempre distinguiu o trabalho do Itamar foi a qualidade. Assim, quando ouço música “boa” parece que estou entrando no mundo do Itamar. Todo trabalho que conjuga linguagens novas com tradição, o cuidado musical e literário com espontaneidade, tudo que envolve compromisso e independência, por mais paradoxal que possa parecer, me agrada. E me lembra a música de Itamar.
Como era o Itamar no dia a dia, do que mais sente falta?
Vange – Itamar era um cara genial. Complexo, surpreendente, inesperado e ao mesmo tempo, comum. Falava de comida, cozinha, flores, chás que poderiam curar isso ou aquilo. Falava de música, sobre o mercado da música e sobretudo, compunha, tocava, cantava. Trabalhar com ele era intenso. Não tinha meias palavras, não tinha “vou ali e já volto”. A dedicação era total. Ensaiávamos todos os dias, por meses. Essa convivência foi uma escola. Sacar como ele fazia os arranjos, desde os de base até os arranjos vocais era fascinante. As músicas vinham cruas, voz e violão. Normalmente compostas sobre uma linha de baixo. As divisões, os tempos, os silêncios… tudo ali exposto, escancarado.
Tocávamos em looping um mesmo trecho da música e ele ia concebendo a levada de bateria, de baixo, da guitarra… e as vozes. O arranjo ia mudando… sendo construído ao vivo, com o pulso da banda, com a energia daquelas pessoas. Tudo muito intenso. Sinto falta dessa convivência, das surpresas, de conhecer uma música na passagem de som para ser feita no show, de ficar horas conversando sobre a vida, sobre filhos, sobre Hendrix. Até de seu mal humor e rabugice dá pra sentir falta.
Chagas – O Itamar antes de mais nada era um negro, caboclo do interior de São Paulo. Apesar das roupas, das músicas que assustavam as pessoas mais comportadas, Itamar era um cara de acordar cedo, cuidar do jardim, conversar com pessoas simples. Sua voz era baixa, tocava violão suavemente, não se percebia seus passos. Um cara muito doce e sério. O tempo todo. Essa era a matriz, o cerne para mim. Mas havia o Beleléu, o lado louco, que a maioria das pessoas conhecia. Igual ao Gainsbourg e o Gainsbarre. Dr. Jekyll e Mr. Hyde. A maior parte do tempo convivi com Itamar. Sinto falta dessa seriedade.
Que acha que esteja acontecendo de mais novo na música brasileira hoje?
Vange – O que acho mais interessante nesse momento musical é a possibilidade de uma contemporaneidade entre os diversos sons. Esse “tudo ao mesmo tempo agora”. Está tudo lá, na internet, convivendo, interagindo, na mesma playlist. Músicas feitas ontem tocam na sequência de músicas de 1970, ou 1940, ou qualquer data. As gerações de artistas estão interagindo com nunca. Shows de Tulipa Ruiz com João Donato, Céu com Jorge Benjor, Elza Soares com Liniker…
Nesse caldeirão de possibilidades o que importa é a afinidade musical. Não a idade ou os modismos. Isso é muito rico. O fato de as novas gerações terem acesso aos vídeos de todas as épocas e cantos do mundo através da web, faz com que as possibilidades de influências e trocas sejam infinitas. Resumindo, o mais interessante é o cenário como um todo.
Chagas – Para mim o que mais avançou na nossa música é o trabalho dos produtores independentes, em sua maioria músicos atuantes. É claro que a ênfase está na independência. São muitos, mas podemos falar que os +2 (Kassin, Domenico e Moreno), deram o pontapé inicial.
Que artistas da nova geração mais gostam e indica?
Vange – De novíssimos, gosto de Os Amanticidas e Francisco, el Hombre. Além dos “já na área” Léo Cavalcanti, Karina Buhr, Filipe Catto, Tulipa, Kiko Dinucci, Anelis…
Chagas – Insisto que são muitos, vão surgindo. Durante um período vivi isso de perto tocando com meus filhos, cujo trabalho admiro muito. Gustavo como músico, compositor, produtor, a Tulipa, cantora, compositora, ilustradora, e todo o mix resultantes disso. Acompanhei a geração deles que vai de Jeneci e Karina a Ava Rocha e Negro Léo fazendo coisas novas. Descobri e fui surpreendido por grupos como Porcas Borboletas e Amanticidas que são admiradores confessos do Itamar. Já a Liniker, por exemplo, tem 21, 22 anos. Foi criada ouvindo a Tulipa. O que já é outra coisa. É muita gente. O que eu indico é que as pessoas fucem na internet. Descubram.
O que te motiva a fazer músicas novas hoje?
Vange – O prazer imenso que é fazer música.
Chagas – Demorei para começar a compor. Já tocava há uns dez anos quando assumi uma criação minha como algo que valesse a pena ser mostrado. E nunca parei. Tenho prazer nisso. Posso parecer um compositor bissexto já que tenho poucas músicas conhecidas, mas isso se deve ao fato de que tenho mais prazer em compor do que em tocar algo já feito. Minhas gavetas (mentais) vivem lotadas. E ouvir composições alheias, principalmente de gente próxima (…) me motiva ainda mais.
SERVIÇO
ISCA DE POLÍCIA
Dia 11 de agosto, às 21h
Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada) [livre para todos os públicos] Informações: www.auditorioibirapuera.com.br Tel.: 3629-1075 ou info@auditorioibirapuera.com.br A apresentação contará com interpretação em Libras (Língua Brasileira dos Sinais) Auditório Ibirapuera – Oscar Niemeyer Desde 2011, o Auditório Ibirapuera é gerido pelo Itaú Cultural, em parceria com a Prefeitura de São Paulo Capacidade: 806 lugares Av. Pedro Alvares Cabral, s/n – Portão 2 do Parque do Ibirapuera (Entrada para carros pelo Portão 3) Fone: 11.3629-1075 info@auditorioibirapuera.com.br http://www.auditorioibirapuera.com.br/ Ar-condicionado. Acesso a deficientes. Proibido fumar no local. Estacionamentos / Transporte: Estacionamento do Parque Ibirapuera, sistema Zona Azul – R$ 5 por duas horas. Dias úteis das 10h às 20h, sábados, domingos e feriados das 8h às 18h Ônibus: Linha 5154 – Terminal Sto Amaro / Estação da Luz Linha 5630 – Terminal Grajaú / Metrô Bras Linha 675N – Metrô Ana Rosa / Terminal Sto. Amaro Linha 677A – Metrô Ana Rosa / Jardim Ângela Linha 775C/10 – Jardim Maria Sampaio / Metrô Santa Cruz Linha 775A/10 – Jd. Adalgiza / Metrô Vila Mariana O Auditório Ibirapuera não possui estacionamento ou sistema de valet. O estacionamento do Parque Ibirapuera é Zona Azul e tem vagas limitadas. Sugerimos que venha de táxi ou transporte público
Horários da bilheteria: Sextas-feiras e sábados, das 13h às 22h Domingos, das 13h às 20h Ingressos Sistema Ingresso Rápido, pelo site www.ingressorapido.com.br e pontos de venda espalhados por todo o Brasil. Formas de Pagamento: American Express, Visa, MasterCard, Dinners Club, Aura, Hipercard, Elo, Vale Cultura Sodexo e Vale Cultura Ticket, todos os cartões de débito e dinheiro. Não aceita cheques. O serviço de reservas pelo site do Auditório está suspenso temporariamente para adequação ao aumento da demanda e melhor atendimento ao usuário. Meia Entrada: – Estudantes: apresentar na entrada Carteira de Identidade Estudantil. – Professores da Rede Estadual, Aposentados e Idosos acima de 60 anos: apresentar RG e comprovante. – Menores de 12 anos, acompanhados pelos pais, têm direito a 50% de desconto do valor da inteira, quando Censura Livre.