Uma casa de samba em Niterói tem feito muito barulho nos últimos tempos, e seus sons reverberam em domínios além da ponte entre a cidade e o Rio de Janeiro: é a Toca do Gambá, para onde amantes do samba, cariocas ou não, têm ido com cada vez mais frequência, sobretudo nos fins de semana. O lugar existe desde 1986, mas só se abriu verdadeiramente ao circuito dos músicos mais consagrados a partir de 2006. Fundada para ser um espaço de encontro informal entre amigos que, no início, queriam apenas fazer música – sem grandes pretensões -, a Toca é hoje um ponto de referência para o samba produzido no Rio de Janeiro porque, além de receber cantores e compositores já conhecidos, também apresenta novos talentos.

Jairzinho Pacheco herdou o espaço do pai, Jair Lopes, o Seu Jairo, falecido em 2006. Com a morte do dono, a casa fechou. Mas, alguns meses depois, o filho decidiu abandonar o emprego de analista de sistemas para se dedicar apenas à Toca. Não resistiu às investidas dos amigos e reabriu o lugar, a pedido de quem frequentava as rodas informais organizadas por Seu Jairo ali, numa extensão da sua casa, debaixo de uma mangueira frondosa. “Eu não tinha a menor ideia de que a Toca do Gambá se tornaria a referência que é hoje. Tudo aconteceu de forma intuitiva”, conta. O proprietário decidiu melhorar a infraestrutura do espaço e aproveitá-lo para divulgar, em Niterói, novos músicos que surgiam no panorama do samba carioca, principalmente da Lapa e suas extensões. Sambistas como Inácio Rios e Moyseis Marques, entre outros, começaram a apresentar na Toca quando os seus nomes ainda pouco ecoavam nos ouvidos amantes do samba.

Hoje, os domingos são um sucesso, de casa lotada. Comandada por Inácio Rios, a roda de samba recebe convidados afim de mostrar seu trabalho. “Esse projeto completou um ano e se chama Filhos da Roda. É muito procurado por um público mais jovem,” diz Jairzinho. “A filha do Paulinho da Viola, Beatriz Faria, e a filha da Jovelina Pérola Negra, Cassiana Belfort, por exemplo, passaram por aqui, nos Filhos da Roda,” conta. Já entre os mais famosos que cantaram e tocaram na casa de Niterói estão Leandro Sapucahy, Monarco, Mariene de Castro e Neguinho da Beija-Flor. E o público vem de diversas partes: “Atualmente vem até gente de cidades próximas, como Maricá, mas muitas delas são mesmo é do Rio”, conta.

O último sábado de cada mês é celebrado com uma feijoada, acompanhada do samba de Marquinhos Diniz, filho de Monarco, e de um convidado. Na próxima, dia 29, o convidado é o maestro Rildo Hora, principal arranjador e produtor dos mais importantes sambistas brasileiros, entre eles, Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz. “Este evento recomeça em março porque durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro, de pré-carnaval e carnaval, não faz sentido manter. É a época das escolas de samba,” explica Jairzinho. As sextas-feiras são reservadas ao sambista Júlio Estrela, mais um oriundo do circuito da Lapa. “A mídia está muito focada nos grandes nomes do samba e os novos acabam não tendo espaço,” diz o comandante da Toca. “Por isso, acho que estamos fazendo contribuindo para o samba de alguma forma”.


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Toca da Gambá, em Niterói, é referência no circuito de samba do Rio e de cidades vizinhas