O Detonautas Roque Clube, depois de passar por um momento muito difícil com a perda do guitarrista Rodrigo Netto, está em uma ótima fase. O vocalista da banda, Tico Santa Cruz, falou sobre o novo disco, suas influências, os planos futuros e o VMB.

“Realmente estamos prestando de figuração para a festa deles, mas não estamos muito envolvidos com esse tipo de celebração que soa um pouco viciada”.

O novo disco do Detonautas foi lançado em março desse ano. Psicodeliamorsexo&distorção foi praticamente produzido Edu K e por Netto e mostra
uma banda muito mais espiritualizada.

Virgula – Vocês se conheceram pela Internet e hoje são uma das principais bandas de
rock nacional. Como é a relação da banda com os sites de download de música?
Tico – Não temos uma relação utópica com a internet, é um caminho sem volta. Não inventaram a tecnologia ? Então agora aguentem. Se as pessoas por uma questão de respeito aos direitos autorais dos artistas resolverem comprar uma música pela Rede ótimo, mas se não quiserem, ninguém tem como obriga-las, nem a lei, nem fiscalização nenhuma, nem nada. Tudo por que a internet é o caminho revolucionário na ausência de fronteiras.
A menos que os poderosos se reunam e criem uma censura como se fosse uma ditadura da informação, o que seria absurdamente desrespeitoso a liberdade que temos, nenhuma instituição conseguirá barrar o crescimento do conhecimento em prol de alternativas
que possibitem o acesso irrestrito a todo conteúdo humano disponível na REDE. Não seria a internet o sonho dos comunas ????? Aprendam a lidar com a liberdade que receberam !!!! Viva a sociedade alternativa.

Virgula – Quais as maiores influências do grupo?
Tico – Nesse momento estou respondendo esta entrevista ouvindo Led Zeppelin. Temos influências variadas, cada um desenvolveu uma relação diferente com a música. Posso falar o que tenho ouvido: Bloc Party, Killers, Subways, STP, Jane’s addiction, Guns n’ Roses, Queens of the stone age, The Doors, Nirvana, Metallica, Hendrix, Igg Pop, Mutantes, Tropicalia, Raul Seixas, Cazuza, Legião Urbana. Creio que um pouco de tudo, como músico e interessado em poesia, tenho procurado ouvir também grandes poetas: Chico Buarque, Vinícius de Morais e por ai vai.

Virgula – Quais os principais obstáculos que vocês enfrentaram para atingir o nível de
hoje?
Tico – O maior obstáculo que temos por incrível que pareça somos nós mesmos. Digo isso em geral, para tudo, não só para música. Muitas vezes limitamos as possibilidades por não termos segurança para olhar para um determinado destino.
Quando te convences que o limite quem dá e vc para suas aspirações e resolve lutar por seus sonhos confiando em suas escolhas. A falta de incentivo do país a cultura, as péssimas condições oferecidas para as bandas novas, a falta de respeito com o artista, o duro caminho de se chegar a uma rádio, tudo isso passa a servir mais como um combustível do que um atraso. Usar o problema como um degrau.

Virgula – Em “Psicodeliamorsexo&distorção” vocês estão mais explosivos. O que mudou na sonoridade da banda desde o lançamento do “Detonautas Roque Clube”?
Tico – Muda tudo sempre. Não estamos disponíveis para um congelamento no tempo.
Gostamos de aprender, de buscar novas informações, resgatar abordagens interessantes
para o rock. Somos uma banda de Rock nacional, criada sob todas as dificuldades que conhecemos, com suas limitações é claro, mas acima de tudo com a intenção de fazer algo diferente, artístico, com qualidade, levando um trabalho melhor até quem curte o nosso som ou aos que se interessem pelas fases da banda. Depois que vc atravessa a ponte, fica complicado não querer se enfiar pelos caminhos infinitos que a arte possibilita. Hoje temos acesso a mais conhecimentos, mais livros, mais música,
cria-se um senso crítico maior e também uma busca por coisas fora do convencional oferecido hoje no MainSteam.

Virgula – Como surgiu a idéia de fazer o livro? Quem escreveu?
Tico – O livro é o caminho natural de um blog. Na verdade os blogs possibilitam as pessoas que escrevam seus livros ao longo da vida. É um excelente exercício de literatura e um caminho natural para o futuro das informações escritas. Creio que em breve não teremos só os grandes jornais ou instituições controlando a infornação, hoje já temos essa possibilidade e a medida que for conquistado o crédito e a confiança dos leitores os blogs serão muito úteis para a sociedade. Partindo disso resolvemos envolver estes escritos com fotos da banda, individuais, momentos difíceis, alegres, divertidos, inesquecíveis e agregamos a linguagem dos quadrinhos para tornar ainda mais diferente a abordagem do leitor. Todo mundo participou dos
textos, é um livro coletivo.

Virgula – O livro é biográfico?
Tico – Não se propõe a ser uma biografia, apenas o livro de uma banda.

Virgula – Vocês estão concorrendo à categoria Escolha da Audiência no VMB 2006. Vocês
tem uma preocupação com as mensagens que são passadas nos clipes de vocês?
Tico – Realmente estamos prestando de figuração para a festa deles, mas não estamos
muito envolvidos com esse tipo de celebração que soa um pouco viciada. É bom estar com os colegas, compartilhar da compania dos amigos nas festas, mas por se tratar de um prêmio, soa hipócrita dizer que não existe o interesse em se ter reais possibilidades de ganha-lo. Tendo em vista os últimos resultados dos últimos 2 anos fica bem previsível. Ai não tem graça.

Virgula – Quais os próximos planos da banda ?
Tico – Manter a sanidade mental.


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Tico Santa Cruz sobre o VMB: 'Não estamos muito envolvidos com esse tipo de celebração um pouco viciada'