Se você voltar no tempo, mais precisamente ao ano de 2003, irá se lembrar do The Rasmus, banda finlandesa que estourou nas MTVs e rádios mundiais com o hit In The Shadows. Na época, auge do emo, o grupo já se destacava por misturar o rock de guitarras pesadas e letras tristes com o pop dançante, e apresentava um visual marcante com o vocalista Lauri Ylönen usando penas de pássaros no cabelo. Hoje, em 2017, o cenário é outro; de cabelos curtos e após um hiato de cinco anos eles estão de volta com o novo álbum Dark Matters, um dos mais elogiados da carreira e o mais dançante também, que promete agradar roqueiros, headbangers, indies e até fãs de música eletrônica.
Lauri e o baterista Aki Hakala estiveram em São Paulo para promover o lançamento do álbum e o Virgula levou um papo exclusivo com eles, direto do hotel em que estavam hospedados. Influências de Dark Matters, vivência em Los Angeles, carros, Lana Del Rey e o que os brasileiros possuem em comum com os finlandeses permearam a conversa. Os músicos também fizeram questão de adiantar sobre possíveis shows no Brasil em 2018, assunto que muito interessa aos fãs brasucas, que não são poucos.
Virgula: Como vocês definem Dark Matters?
Lauri Ylönen: Dark Matters é como o nosso diário. Tem muito de nossas vidas nas músicas e nas letras. Toda vez que eu leio as letras eu penso nas coisas importantes que aconteceram conosco. No som, desta vez nós tentamos implementar coisas diferentes, como a música eletrônica. Mas continuamos sendo uma banda de rock e tendo o poder da guitarra na linha de frente.
O The Rasmus já passeou pelo rock, gótico, alternativo e hoje segue uma linha mais indie e dançante, flertando com a eletrônica. Em qual estilo a banda se encaixa atualmente?
Lauri Ylönen: Eu estava pensando nisso estes dias. Acho que não há banda no mundo que faz o que estamos fazendo agora. Somos uma banda de rock que está usando elementos eletrônicos e dando ênfase nas melodias. As músicas são melancólicas, tristes e dançantes ao mesmo tempo. Talvez aja algo parecido na Finlândia, mas não exatamente como nós. Acho que as pessoas gostam da gente porque soamos originais.
Aki: Exato! As pessoas nos acham mais originais do que muitas bandas americanas, por exemplo.
Em qual momento do dia vocês aconselham os fãs a ouvirem Dark Matters?
Aki: Eu aconselho a ouvir por volta da meia-noite e se possível dirigindo um carro. É quando estará tudo escuro, as luzes do veículo estarão clareando as ruas e as músicas farão mais sentido.
Lauri: Muitas vezes quando estou compondo eu me pergunto: ‘Como será que isto vai soar dentro de um carro?’. Quando estou no meu carro, ouvindo música enquanto dirijo pelo trânsito de Los Angeles, que é onde estou morando atualmente, faço daquele o meu momento especial. É o meu espaço, sabe? Pra mim é naquele momento que o álbum acontece. Quando estou sozinho no carro.
Falando em Los Angeles, morar na cidade lhe influenciou no jeito de compor as novas músicas?
Lauri: Muito. Em Los Angeles eu ouço vários tipos diferentes de música, coisas locais como o hip hop, de Drake a Lana Del Rey, para sentir a ‘vibe’ do lugar. Assim eu tento entender melhor como os americanos são. Pra mim é uma aventura, um novo mundo cheio de novidades. É claro que sinto saudade da Finlândia, e em alguns momentos fico melancólico por estar longe, mas estou feliz de estar experimentando coisas novas em L.A.
Capa de Dark Matters
O Brasil é um país tropical, diferente da Finlândia. Por que vocês acham que os brasileiros se identificam tanto com o som do The Rasmus?
Aki: O Brasil é exótico para nós e a Finlândia é exótica para os brasileiros. Talvez por isso tenhamos tantos fãs aqui.
Lauri: Nós sempre fomos fãs de futebol. Muitas vezes assistíamos aos jogos do Brasil, mas não podíamos sair na rua para jogar por causa do tempo ruim. Então, ao invés de jogarmos bola íamos para a garagem e tocávamos guitarra, baixo e bateria. A nossa ‘conexão musical’ com o Brasil já existia (risos).
The Rasmus tem 23 anos de estrada. Tem algo que vocês nunca realizaram e gostariam?
Lauri: Nós temos uma incrível carreira. Além dos nossos próprios shows, já pudemos tocar com os nossos ídolos, Metallica, Red Hot Chili Peppers, Alice Cooper, ou seja, com as maiores bandas. Eu só quero que os próximos 23 anos do The Rasmus sejam como foram os últimos 23, bons iguais.
Aki: Nós já tocamos pelo mundo todo, menos na Austrália e Nova Zelândia. Gostaria muito de ir até lá. Também estamos ansiosos para fazer shows no Brasil, pois quando estivemos no país foi há 11 anos. Temos planos de voltar à América do Sul em maio de 2018, e passaremos pelo Brasil, é claro, para uns três shows, se possível.
Aki e Lauri em encontro com fãs brasileiros