(Foto: Marcelinho Hora Jr / SNAPIC)

Novos Baianos com Jack White. Tame Impala com Gilberto Gil. Essa é a fusão sonora que a banda sergipana The Baggios alcança no quarto álbum da carreira, o excelente Vulcão, lançado no final de 2018. São canções que unem a psicodelia nordestina da década de setenta com guitarras envolventes do blues e o misticismo da cultura do oriente. Uma viagem das boas a cada audição.

Para compor esse som tribal, o vocalista e guitarrista Júlio Andrade mergulhou ainda mais no soul, funk, afrobeat e desert blues, gêneros musicais que o acompanham desde o início de sua trajetória. “O uso da escala musical mixolydian, que está muito presente nesse disco, é devido a essa intenção de juntar a cultura do oriente com a do ocidente e mostrar o quanto estamos conectados”, revela em entrevista ao Virgula.

“Apesar de ser um disco com uma certa leveza, creio que ‘Vulcão’ é o mais complexo”, diz Júlio. “Não pelos elementos citados, mas pela forma que foi construído, pelas passagens místicas e pelas aberturas que tivemos para experimentar nuances, texturas e nova linguagem nas melodias e guitarras”, completa ele. E comemora: “Vejo as pessoas comentando sobre o quão diferente está esse trabalho e fico com aquele riso por dentro de que ‘Era isso mesmo que eu buscava'”. 

Prestes a completar 15 anos de estrada, a The Baggios também celebra a extensa turnê europeia que fará em 2019: são 22 shows que passarão por Itália, França e Suíça. Aliás, conquistar ouvintes gringos é uma das especialidades do grupo brasileiro, que já excursionou outras vezes pelo exterior. “Se tem algo que me encanta na música é o poder de tocar as pessoas independente da língua”, diz Júlio, e explica: “Eu escuto musica japonesa, árabe, turca, africana, indiana e não entendo nada, mas me emociona, sabe? Quando tocamos no México, EUA e Canadá e vi as pessoas se deixando levar pelo som, fiquei feliz por isso”. 

Saiba mais sobre a viagem sonora do The Baggios na entrevista abaixo. Mas, avisamos que não há volta e você irá nos agradecer. Confira o papo:

(Foto: Marcelinho Hora Jr / SNAPIC)

Virgula: Como nasceu essa mistura de blues com música africana e psicodelia brasileira do álbum Vulcão? Onde vocês foram buscar essa fusão?

Júlio Andrade: Minha essência na guitarra está na música negra. O blues foi quem me fez me apaixonar pelo som do instrumento, e através dele cheguei ao soul, funk, afrobeat e até sons mais experimentais. Assim como o blues, as raízes da nossa música vem da África e não é difícil encontrar conexões da música brasileira com a de lá. Esse interesse pela origem do blues veio da adolescência, assistindo a documentários e pesquisando em blogs. Assim me deparei com sons tribais que deram origem a outros segmentos, descobri o próprio afrobeat, o desert blues.

Numa dessas descobertas, enxerguei uma forte conexão da música oriental com a nordestina. O uso de escala mixolydian, que está muito presente nesse disco, é devido a essa intenção de juntar a cultura do oriente com a do ocidente e mostrar o quanto estamos conectados. 

A música brasileira é uma paixão ainda mais antiga. Cresci ouvindo os clássicos da MPB com minha família, depois foi só questão de tempo para redescobrir e me aprofundar. Andei pesquisando a obra de Ednardo, Alceu Valença e Zé Ramalho nos últimos anos e me encontrei demais com os elementos roqueiros e psicodélicos aplicados com muita originalidade. E ainda tem o fator Gilberto Gil que me pegou forte nos últimos anos.

Vulcão possui músicas com instrumentos de sopro, orquestra, violão e batidas tribais. É o trabalho mais audacioso da banda?

Apesar de ser um disco com uma certa leveza, creio que é o mais complexo. Não pelos elementos citados, mas pela forma que foi construído, pelas passagens místicas e pelas aberturas que tivemos para experimentar nuances, texturas e nova linguagem nas melodias e guitarras. O sopro é um elemento que nos acompanha desde o primeiro disco, é uma forma de me manter conectado com o soul. A orquestra de ‘Vulcão’ é diferente da de ‘Brutown’, que foi um disco mais denso. ‘Vulcão” é conduzido por uma leveza no discurso: falo de amor, respeito, empatia, fé e um mundo melhor como nunca falei antes. E, apesar dos fuzz nas guitarras, o disco é o menos roqueiro.

Vejo as pessoas comentando sobre o quão diferente está esse trabalho e fico meio com aquele riso por dentro de “Era isso mesmo que eu buscava”. O maior tesão de compor é ter consciência da imensidão de possibilidades que temos para criar e, como eu nunca parei de pesquisar música e novas referencias para viver, isso reflete diretamente em cada novo trabalho que produzo.

Como aconteceu as participações de Céu e Russo Passapusso, do Baiana System, no álbum? 

A Céu foi a um show nosso em julho do ano passado no Sesc Pompeia. Ela demonstrou gostar muito e eu fiquei bestão. Sou muito fã do trabalho dela e ficamos lá trocando elogios. No dia seguinte a banda foi para o Rio de Janeiro gravar o disco, e como tínhamos umas demos das músicas eu mandei para ela por email. Dias depois ela me respondeu que amou “Bem-te-vi” e que estava ouvindo sempre. Foi dai que a convidei. Quando compus, imaginava uma voz feminina nessa música, e se fosse para convidar uma cantora no Brasil, Céu sempre foi a minha primeira opção, mas sinceramente eu não imaginava que rolaria nesse disco. Me deixou muito feliz de verdade.

Com o Baiana System foi um pouco diferente: eu já era fã também do trabalho deles, mas já tinha contato com o Beto Barreto e logo depois com o Russo. Eu sacava que eles curtiam a The Baggios e quando fiz a demo de “Deserto”, mandei pra eles ouvirem e sentir se caberia uma participação ali. Eles se amarraram e botamos pra frente. Encontrei com eles em Salvador por dois dias e fizemos uma pré junto com Seko Bass, quem criou a base na parte em que Russo canta, e tudo rolou de forma mágica. Nem sei como agradecer por ter meus ídolos nesse disco (risos). 

The Baggios irá completar 15 anos em 2019. Como vocês comparam a banda hoje em dia com a de quando começou? 

Eu vivo tão dentro da parada que às vezes nem noto que passou tanto tempo. É doido isso. Muitos momentos especiais, como a indicação ao Grammy e tocar no Lollapalloza, me vem àquele filme de 2004, tocando pra quatro amigos nas madrugadas doidas do interior de Sergipe. Acho que isso é um mecanismo que criei para não me desligar da minha origem. Como minha vida na música é conectada com a pessoal, se evoluo como ser humano me vejo evoluindo na música também. A cada ano me vejo com a mente ainda mais aberta para ouvir música, apenas música, independente de sua origem e gênero. Gosto de sentir e quando me toca é foda! Respeito e compartilho.

Me dedico à música há 18 anos e, se tem uma certeza que tenho nesse mundo é que amo muito fazer isso. Se insisto por tanto tempo em produzir, mesmo com altos e baixos, mesmo passando por vezes despercebido, é porque não há sentimento no mundo que supere o amor de fazer o que fazemos.

Aproveitando que você falou do Grammy, como foi ser indicado ao Grammy Latino em 2017? A indicação mudou algo para a banda?

Além de ter uma indicação ao Grammy no release? não! (risos). Claro que as pessoas parecem dar mais atenção para nós quando tocamos em um grande evento ou somos indicados a algum prêmio importante, mas quero mesmo é que as pessoas nos notem e vão aos shows pelo que somos e fazemos há tanto tempo, e não por apenas um acontecimento.

Vocês já fizeram algumas turnês internacionais. Como o público gringo reage à música da banda, principalmente por ser cantada em português?

Se tem algo que me encanta na música é o poder de tocar as pessoas independente da língua. Eu escuto musica japonesa, árabe, turca, africana, indiana e não entendo nada, mas me emociona, sabe? Quando tocamos no México, EUA e Canadá e vi as pessoas se deixando levar pelo som, fiquei feliz por isso.

Além da turnê europeia agendada, quais os outros planos para 2019?

Muita coisa em mente. Primeiro vamos terminar de rodar dois clipes em janeiro e creio que esse disco tem muita brecha para desenvolver o lado imagético do conceito. Logo depois faremos a turnê pela Europa de 22 shows pela Itália, França e Suíça. Na volta dessa turnê temos shows em vista não só pelo Brasil, mas pela America Latina. Queremos lançar “Vulcão” em vinil também. Espero de verdade cumprir com todos esses planos.

A turnê da banda The Baggios, que em 2017 foi nominada na categoria Melhor Álbum de Rock ou Música Alternativa por seu álbum Brutown, na 18º edição da premiação mais importante da música latina,o Grammy, conta com parceria e produção da BRAIN Productions Booking (Brasil), Zuma Bookings (Itália, Espanha, USA) e Yummy Truffles Collective (Itália). Todas as agências de booking são grandes atuantes no ramo de turnês não só na Europa, mas também Estados Unidos, Canadá e Ásia.

 


int(1)

The Baggios une psicodelia nordestina e misticismo oriental em novo álbum