Michael Jackson tinha tanto dinheiro que não sabia o que fazer com ele, dizia quem o conhecia, tanto que decidiu construir um paraíso privado onde pode fantasiar e ser feliz, um lugar de conto de fadas chamado “Neverland” que agora se desvanece cinco anos depois da morte do “rei do pop”.
O imenso rancho californiano de 1.300 hectares procura um novo dono e foi avaliado em US$ 30 milhões, uma quantia que, de acordo com analistas imobiliários consultados pela revista “Forbes”, poderia disparar até US$ 100 milhões se as grandes fortunas se sentirem tentadas em comprar o que restou do sonho de Jackson.
O cantor adquiriu a propriedade, anteriormente conhecida como Sycamore Valley Ranch, em 1988 das mãos do magnata de campos de golfe William Bone por US$ 17,5 milhões, segundo algumas fontes, e até US$ 30 milhões, segundo outras, e deu corda a seus desejos de infância.
Jackson rebatizou o lugar como “Neverland”, a “Terra do Nunca” descrita pelo escocês J.M. Barrie em seus romances sobre as crianças que nunca cresciam e cujo líder era Peter Pan, personagem que o próprio “rei do pop” tentou imitar.
“Eu sou Peter Pan”, declarou o artista em uma entrevista ao jornalista britânico Martin Bashir publicada em 2003, antes que os escândalos de abusos sexuais a menores lhe fizessem abandonar sua suntuosa morada para sempre.
Existem poucas reportagens sobre “Neverland” e quase todas são parciais. As imagens de seu interior escasseiam, e em sua maioria são aéreas, mas os testemunhos acumulados ao longo dos anos permitem formar uma ideia do rancho em seu apogeu.
Encravado no vale de Santa Ynez, locação do filme “Sideways – Entre Umas e Outras” e a duas horas e meia de Los Angeles em carro, o rancho descansa entre colinas e estradas secundárias.
Passada sua entrada principal, o visitante tem ainda que percorrer um quilômetro e meio antes de descobrir o que o rancho esconde em seu interior.
“À medida que avança, as coisas vão surgindo: o lago, os carvalhos gigantes que protegem uma casa enorme, as casas para convidados, as vias do trem, uma estação de ferrovia, estátuas, e ao longe, na distância, mais edifícios e, claro, o parque de diversões e o zoológico”, lembrou Brad Sundberg, técnico de som de Jackson durante 18 anos.
Sundberg decidiu contar no Facebook suas sensações sobre “Neverland” após saber da notícia de sua venda. “O lugar era mágico”, afirmou o ex-empregado de Jackson.
Para seu divertimento, e o de seus visitantes, o “rei do pop” instalou uma roda-gigante, um carrossel, um salão com jogos de fliperama, um palco para shows ao ar livre e um cinema, além de sua própria confeitaria.
Os cuidados jardins estavam coroados por um relógio floral aos pés da casa principal de estilo vitoriano que o artista herdou do proprietário anterior.
O trem e os carros de golfe eram o meio de transporte utilizado por quem transitava pelo complexo, inclusive Jackson, que chegou a ter em seu zoo desde leões, macacos e alpacas, até elefantes, um deles presente de sua amiga, a atriz Elizabeth Taylor.
Em 2003 e após décadas de rumores e acusações de abusos sexuais a menores ocorridos em “Neverland”, as autoridades emitiram uma ordem de detenção contra Jackson por pedofilia. A bolha fantasiosa na qual tinha transformado seu rancho arrebentou quando a polícia entrou ali.
O artista, que terminou sendo inocentado das acusações em um julgamento realizado em 2005, declarou que nunca retornaria a “Neverland” porque seu paraíso tinha sido violado por aquele processo judicial.
E assim foi. Jackson abandonou fisicamente o vale de Santa Ynez, mas seguiu mantendo a propriedade. Em 2008, suas desmesuradas despesas lhe obrigaram a pedir ajuda à empresa de investimentos Colony Capital para que assumisse uma dívida de US$ 23 milhões.
O “rei do pop” se aferrava em vida a qualquer opção para manter seu sonho voando, talvez com a esperança de voltar ali algum dia.
Michael Jackson morreu em junho de 2009 aos 50 anos por uma overdose de um anestésico e sua família, muitos de seus fãs, e os donos do Colony Capital pensaram em Neverland para enterrá-lo e transformar o lugar em um local de peregrinação e negócio, assim como a Graceland de Elvis Presley.
Mas Jackson escolheu seu rancho justamente para que estivesse afastado do mundo, difícil de chegar, longe de vias principais, para que ninguém lhe incomodasse.
O cantor foi finalmente enterrado em Los Angeles e “Neverland” continuou fechado nestes cinco anos, representando um custo de manutenção milionário para a Colony Capital, que decidiu enfim que é hora de vendê-lo.