Com três discos lançados pela Far Out Recording, Sabrina Malheiros chega a mais um lançamento pela gravadora inglesa Clareia. O álbum já chegou entrando em rankings do Japão e Europa e conquistando o primeiro lugar no top chart do Bandcamp.
Leia nossa conversa com a pioneira da nu-bossa, que começou a carreia há mais de dez anos, que conta ainda buscar ampliar seu público no país e que vê resultados com os números de conterrâneos crescendo nas plataformas de streaming.
Ela falou também sobre tendências e indicou Thundercat e Hiatus Kaiyote como alguns de seus artistas preferidos da atualidade.
A música brasileira com beats e synths esteve muito na moda há um tempo, mas muitos artistas sumiram ou mudaram de estilo. Por que você se mantém fiel a estas origens? – Já que seu pai é um herói do fusion (ela é filha do baixista do Azymuth, Alex Malheiros).
Sabrina Malheiros – Quando lancei o meu primeiro disco em 2005, essa mistura de música brasileira com elementos eletrônicos estava realmente em evidência no mundo. Apesar da minha essência musical ser orgânica pois cresci ouvindo João Gilberto, Baden Powell, Tom Jobim, Marcos Valle, Tamba Trio (e claro Azymuth), a nu-bossa é minha identidade. Eu me encontrei bem cedo e sempre caminhei por esse universo da bossa jazz e suas vertentes. Meu segundo álbum, por exemplo ‘New Morning’ de 2008, teve uma sonoridade bem mais acústica e o disco contou com a participação luxuosa do maestro Arthur Verocai que fez os arranjos de cordas e metais. Mas sempre com uma pitada eletrônica. O povo quer dançar.
Que características acha que sua música tem que agrada o mercado japonês e europeu, já que seu selo é inglês?Sabrina – Eu acredito que essa linguagem contemporânea atrai um público mais eclético e curioso, mente aberta …é interessante ver aquela geração que começou a ouvir a nu-bossa no início do movimento, hoje se tornarem grandes conhecedores e colecionadores de Lps brasileiros. Tenho amigos estrangeiros com uma coleção incrível de discos brasileiros, só raridade…e hoje, sou eu que aprendo sobre música brasileira com eles.
Como é para você fazer mais sucesso fora do Brasil que aqui?
Sabrina – É uma honra ter a minha música reconhecida em tantos lugares por aí. Mas eu continuo na luta e na esperança de poder inspirar também o público brasileiro. Buscando oportunidade de distribuir meus discos no Brasil através de um selo nacional mas, eu percebo que mesmo sem um lançamento formal do meu trabalho no Brasil está havendo uma crescente no número de brasileiros que vem descobrindo minhas músicas nas plataformas de streaming. Isso é maravilhoso.
Que acredita que esteja acontecendo de mais novo na música hoje?
Sabrina – Acho que a maior revolução da música é o fácil acesso que as plataformas digitais estão dando ao público. Essa possibilidade de conhecer uma infinidade de músicas na palma da mão, é fascinante. Hoje se você tiver o mínimo de curiosidade, você mesmo cria sua playlist, super bacana e cheia de música boa que você jamais escutaria na rádio ou TV. Nada mais democrático.
Que nomes da nova cena, não apenas brasileira, mais gosta de indica?
Sabrina – Atualmente tenho acompanhando o trabalho do Thurdercat, Hiatus Kaiyote – ambos tem uma sonoridade bem única e experimental. Tem um músico britânico chamado Jack Garratt que faz um som interessante também. Ouço muito o pianista de jazz Robert Glasper que caminha pelo universo do hip-hop, soul e R&B. E artistas da cena R&B mais alternativa como o D’angelo, Jill Scott, Raphael Saadiq, Erykah Badu. No Brasil, a música do Lucas Arruda me entusiasma bastante.