“A única coisa que eu me dediquei na vida foi ao Pearl Jam” , diz Alexandre Carvalho, alguns minutos antes do show da banda começar no Morumbi. A camisa de flanela amarrada na cintura mostra que ele é um seguidor true, mas diante da temperatura senegalesa naquele momento é duro ser grunge no Brasil. “Vim do Rio. Passei frio no show de 2011”, lembra, justificando o adorno.
Mais tarde, um pé d’água deu dimensões épicas e simbólicas ao show, lavando a alma das questões emocionais próprias das 65 mil testemunhas presentes no Morumbi, no sábado (14), e também das chagas que brotam de Paris e Mariana.
“Sentimos que precisamos estar com pessoas hoje e estamos felizes por estarmos aqui. Nosso amor vai para Paris. Temos ainda muito a entender e superar juntos “, discursou Eddie Vedder, em português, lendo anotações. O bumbo da bateria também fez uma menção à tragédia.
Conduzido entre picos e vales de intensidades e climas diferentes, as sonoridades vão do rock rasgado com timbres setentistas aos passeios pelo território do blues e do folk que o quinteto tem empreendido com maestria e carisma. “É a melhor banda do mundo ao vivo” , resume o sueco Martin Grundeberg, que já viu 23 shows ao redor do mundo.
Muita gente se pergunta qual é o segredo do sucesso e da longevidade do Pearl Jam, que não sobrevive de saudosismo e tampouco segue modinhas. Talvez a resposta seja a dedicação mútua entre a banda que faz shows de três horas curtindo a vibe e os fãs que retribuem com ainda mais força, em um ciclo virtuoso. Citando Gil: “Mistério sempre há de pintar por aí/ Se eu sou algo incompreensível/ Meu Deus é mais”.
“Deve ter alguma coisa”, deixa no ar o fã carioca, dando a entender que a compreensão é restrita aos iniciados. Quando a banda toca, a excitação é tão grande que parecem surgir faíscas. Uma coisa é certa, dormir ontem foi difícil pra muita gente.