Já eram mais de 22h quando as pessoas começavam a entoar “S.T., S.T., S.T.” e o coro abafava o sistema de som da Clash Club nessa quinta-feira (29) pouco antes do Suicidal Tendencies entrar no palco. Às 22h35, então, o quinteto deu às caras e era impossível não perceber, além do som inconfundível, o empurra-empurra comum em shows deste gênero, que tomaram conta do lugar. O espetáculo durou pouco mais de uma hora, terminou com uma confusão entre o público na pista e os seguranças e sem a banda tocar alguns de seus principais sucessos. Mas o que se viu no final foi uma multidão em êxtase, totalmente satisfeita com uma apresentação sólida e fervente.
A reportagem do Virgula Música chegou no local por volta das 20h e poucos esperavam na porta. Alguns conversavam, outros só tomavam suas bebidas na rua ou nos poucos bares que cercam a casa. Meia hora depois e já era cerca de 100 pessoas. A maior parte dos que ali estavam já viu o Suicidal mais de uma vez, e era possível ouvir alguns expressarem a experiência, e muitos destes fãs sabem a trajetória da banda e têm por volta de 25, 30 anos, mas com o lema “still cyco” imperando no estilo – bermuda, camiseta, camisa listrada, bandana e tatuagens; alguns com o boné com a aba levantada, típico do estilo do hardcore de Nova York.
Desnecessário dizer que o Suicidal Tendencies ditou essa atitude “mais suja” do rock dos anos 1990 e foi uma das precursoras da cena hardcore da costa leste americana com sua mistura com o rap e guitarras pesadas, além de solos dignos de um bom thrash metal.
A primeira porrada da noite foi logo uma das clássicas e You Can’t Bring me Down deixou claro que nenhuma banda de abertura seria capaz de esquentar a galera como esta performance. Mike Muir, o vocalista, em forma, enquanto os músicos ainda esquentavam seus instrumentos, dava as mãos para os presentes, fazia sinais e balançava, e muito, a cabeça e os braços.
Como a turnê mundial é para divulgar o novo disco, 13, a música seguinte foi logo a nova, Smash It!. Muito poderosa e que fez a roda de mosh parecer um organismo vivo visto de cima.
A seguinte foi a classiquíssima War Inside my Head e a impressão é que as pessoas voavam ou não obedeciam à força da gravidade tamanha a homogeneidade de cabeças, braços e pernas que se mexiam na frente daquelas caixas de som, que filtravam a bateria alucinada de Eric Moore e a linha insana de baixo de um não menos insano Tim Williams como um perfeito transformador de música em movimento.
Bandanas se entreolhavam. Era visível a alegria dos presentes, que se abraçavam a cada novo acorde, que se encontravam no bate-cabeça com amigos e uma maioria de desconhecidos, vendo no palco uma de suas bandas preferidas fazendo uma apresentação consistente e sem firulas.
Mike subiu em uma das caixas de som para cantar Subliminal, que foi realmente uma mensagem entrelinhas antes do guitarrista Nico Santora pedir aos fãs que abrissem um espaço no meio da pista para que rolasse um mosh para ser lembrado. O que realmente aconteceu, ou continuou. Pois quando o Suicidal encavalou o hino dos skatistas – Possessed to Skate – ali continuou sendo pintado um quadro que ficará marcado na mente dos que ali se arriscaram.
Em seguida, mais pauladas com a nova I Wanna Know Something e a oldschool I Saw Your Mommy, com o vocalista ficando atrás da banda, não para fugir dos braços sedentos por um toque ou uma resposta, mas para dar espaço para o excelente guitarrista principal Dean Pleasants, que desfilava solos incríveis em meio àquela junção de bateria e baixo incansáveis, guitarra base poderosa e voz rouca que fazem do Suicidal Tendencies uma das bandas mais cultuadas há mais de 20 anos.
Não pense que acabou, pois quem estava lá sabia e queria mais. Mas não foi muito. Após Freedumb (que transformou de novo a roda de mosh em um invólucro inviolável de material humano), o grupo deu uma amansada em seus instrumentos e começou How Will I Laugh Tomorrow.
Nesta, que acabou sendo a saideira, conforme o peso ia crescendo em uma de suas canções mais conhecidas, o público que estava exaltado não se segurou mais e as três grades móveis que o separava do palco (cerca de meio metro acima do chão) foram retiradas por cima das pessoas sendo deixadas no bar, que fica a uns dois metros dali e iam sendo passadas por cima das pessoas. Daí, começou o fim que ninguém queria. Seguranças faziam o necessário (sem violência) para manter os fãs que subiram no palco longe dos músicos que, aparentemente acostumados, continuaram How Will I Laugh Tomorrow tranquilamente.
Ainda na pista, pessoas brotavam de dentro dos bolos de gente mais próximas ao palco e a única saída depois disso era o chão. Diversão pura.
Terminada a canção, gritos, palmas e mãos faziam o famoso sinal do demônio. O baterista Eric Moore foi à frente do palco e presenteou alguns felizardos com suas baquetas, assim como fizeram ambos os guitarristas, que muito bonachões distribuíram várias palhetas, mas não o bastante. Os outros integrantes já haviam se retirado dali.
Foram vistos alguns seguranças com partes de seus ternos rasgados, mas ninguém ferido, e também não houve reclamações e nem clima ruim. Três minutos após a incredulidade do término, o pessoal deu meia volta ainda com vontade de ouvir o maior sucesso dos americanos, Institutionalized, ou a divertida Go Skate, que não foram tocadas.
Não houve confirmação da produção, mas aparentemente o show teve que ser terminado às pressas após o incidente.
Porém, o show deixou a certeza da honestidade daqueles cinco integrantes e um sorriso na cara do público still and forever cyco.