(Por André Nespoli)
Uma das bandas mais f*das da atualidade no stoner e em todo rock underground está retornando ao nosso grande Brasa basicamente porque pedimos. Sim, fãs espalhados pelo mundo souberam que o Stoned Jesus ia comemorar a até modesta marca de cinco anos do já clássico Seven Thunders Roar com alguns shows no Leste Europeu e quiseram também ouvir na íntegra as cinco faixas que consagraram o trio. Foi meio como quando sua mãe preferia dar o copo de Coca-Cola mais cheio pro seu primo, você ficava puto da cara, e pedia também. Só que os caras ouviram os pedidos, diferentemente da sua mãe, e resolveram rodar o mundo com esse rolê pra agraciar a todos com as pauladas Bright Like the Morning, Electric Mistress, Indian, I’m the Mountain e Stormy Monday, nomeando a turnê de Five Thunders Roar Tour.
E eles estão mesmo na pegada de tocar disco inteiro nos shows. Pelo menos no Brasil, vão apresentar, além daqueles cinco hinos, versões de novidades ainda nem lançadas. Depois de ler essa entrevista, dê uma pesquisada na hashtag #StJFourthLP (algo como “o quarto álbum do Stoned Jesus”) e você vai saber do que estamos falando. Sim, Igor Sidorenko (vocal e guitarra), Sergii Olegovich (ou “Sid”, baixo) e Dmytro Zinchenko (bateria), que substituiu Viktor Kondratov nessa turnê, são fodões de calibre grosso e sabem que uma apresentação ao vivo vale mais do que mil palavras, ou álbum físico (pelo menos por enquanto), e vão dar esse presente pra nós.
Contando com o esquema sempre de muito respeito e responsa da produtora Abraxas, a mesma que já nos trouxe nomes como Kadavar, Radio Moscow, Truckfighters e Mars Red Sky, eles retornam às nossas terras pelo segundo ano consecutivo e se apresentam neste mês de agosto em Florianópolis (SC), depois no Rio de Janeiro (RJ) e Belo Horizonte (MG). Ainda teremos o rock do Jesus Chapado em São Paulo (SP) neste próximo final de semana e depois eles rumam à capital de Goiás para a alegria de quem for ao tradicional Goiânia Noise Festival (serviço completo da tour no final do texto).
Mandamos umas perguntas para o vocalista e líder Igor e o cara mostrou que dá pra ser gente boa demais até por meio da fria comunicação on-line. Abaixo dá pra você sacar a entrevista completa e sentir bem o que ele pensa do mercado musical, de músicos da geração dele que louvam Tony Iommi, um pouco de política e vai sentir que, apesar do nome, o Stoned Jesus é até um pouco careta quando a questão é trabalho sério.
Vamos começar com uma pergunta forte, mas posso prometer que este não será o tom da entrevista. É só para tirar esse assunto do caminho. Aqui vamos nós. Aquele som que fecha o The Harvest (2015) é bem loucura, o que chama “Black Church”. Dá pra galera mais desavisada pensar sim que o nome da banda é esse porque tem três caras bem chapados curtindo fazer um som (Ok, alguns que estão lendo já podem ter percebido que esse nome é uma ironia às bandas do gênero, e você mesmo já disse em outras entrevistas que é isso mesmo). Diga-me, já fez ou faz uso de alguma substância psicoativa pra criar música? Acha que isso é ou pode ser útil pra criações um tanto diferentes e mais fora da caixa?
Igor Sidorenko: Haha, essa é uma boa pergunta! Isso ajuda pra manter o adereço da ironia do nome do Stoned Jesus. Voltando para a sua pergunta: não, nunca faço isso (usar drogas para criar). Fazer uma jam apenas por diversão é uma coisa, mas tocar o show ou escrever as coisas precisa de concentração. Também já li sobre músicos que tentaram isso antes, e a maioria deles ficou seriamente desapontada com os resultados obtidos. Falando sobre essa parte experimental em “Black Church”, ela foi fortemente inspirada naquela quebra da canção “The Crown of Sympathy”, do My Dying Bride, naquele mesmo sentimento estranho. E o nosso baixista é um grande fã de bateria eletrônica, então ele insistiu que colocássemos algo do tipo em algum lugar do disco.
Tem algumas músicas que encaixam bem um coro com plateia, tipo a “Rituals of the Sun”. Vocês as criam já pensando na força que ela pode ter ao ser apresentada ao vivo?
Às vezes sim. Mas, geralmente, coisas assim surgem ao ensaiar as músicas. Todos esses pequenos arranjos e detalhes aparecem do nada.
Após o show do ano passado em São Paulo, presenciei você falando com um vendedor de rua que estava comerciando camisetas não oficiais da sua banda. Aquilo realmente te deixou puto. Você chegou a citar que fica horas em avião, dedica sua vida na coisa e nem sempre tem um retorno financeiro pra todo esse rolê. E eu concordo plenamente com você e com a sua opinião nesse sentido. Não sei nem se você lembra desse episódio meio chato. Mesmo assim, você, um ano depois, ainda tem essa mesma opinião/impressão?
Ah, sim, lembro totalmente deste episódio! Para ser sincero, passei bastante tempo pensando a respeito, porque me deixou com um gosto azedo na boca. É uma situação muito conflitante, você sabe o que quero dizer? Eu meio que posso entender o cara – ele só queria um dinheiro rápido, porque o Brasil não é o país mais rico do mundo. Mas ele estava basicamente roubando de nós, e a Ucrânia está fazendo muito pior do que o Brasil economicamente. Você vê, ele não me deixou nenhuma escolha para não se irritar – ele pegou nosso logotipo sem uma permissão, colocou-o em camisetas com qualidade de merda e foi vender aquilo sem nosso consentimento, mesmo sabendo disso! É exatamente como você diz – estamos dedicando nossas vidas a essa banda, tocamos em quase 200 shows nos últimos 27 meses, não temos amigos ou vidas pessoais por causa da vida na estrada, sobrevivemos apenas com o básico, não podemos comprar nosso próprio backline, nem carros nem mansões -, e aqui está esse cara, diminuindo nossas chances de conseguir algum dinheiro para cobrir as despesas dos nossos voos. Tenho certeza de que bandas como Iron Maiden ou Slayer não se importam com o merchandise falso, mas quando você está tentando ganhar a vida em uma pequena banda como a nossa, e isso acaba acontecendo na sua frente, você pensa: “…droga!”
Em entrevistas suas e declarações que posta no seu Facebook é possível perceber que você é muito atento aos detalhes e a números do mercado da música, de como andam as coisas pra artistas do seu meio, que é o rock underground. Como você vê o negócio da música para uma banda como o Stoned Jesus?
Sim, tento acompanhar. Eu faço todas as coisas de marketing e redes sociais para a banda, todas as postagens, também todas as coisas relacionadas ao merch, à logística, à maioria das reservas de passagens, e é cansativo. Mas essa é a única maneira por enquanto, infelizmente. Ninguém (da indústria musical) vai fazer nada por você, a menos que eles tenham certeza de que eles vão fazer uma fortuna com a sua arte. As gravadoras não jogam mais dinheiro fora. Produtores não te convidam para tocar apenas porque seu vídeo do YouTube tornou-se viral. Tente mais, seja mais inteligente, trabalhe mais!
A propósito, o cover que vocês fizeram de “The Writ”, do Black Sabbath, ficou excelente (está na coletânea Sweet Leaf, de 2015, e é uma homenagem de várias bandas stoner ao quarteto inglês com canções da era Ozzy). Não tem como não sentir a ligação que esse som tem com a maravilhosa “I’m the Mountain”, até pela melodia e pela forma como você canta o trecho final de “The Writ” em comparação à sua criação original. Diga-me, como é que você sente ter absorvido a criação musical de deuses como Tony Iommi e Geezer Butler em relação à fase que você viveu quando jovem, com o Nirvana e aquela galera que chamam de grunge do início dos anos 1990?
Obrigado! Na real, essa é a minha música favorita do Sabbath! Esta banda basicamente moldou a música pesada como a conhecemos: Black Sabbath não se compara a Metallica, Soundgarden, Rage Against the Machine, Melvins, Sleep ou Electric Wizard… É foda, porque até bandas de rock mais atuais, como King Gizzard & The Lizard Wizard (adoro esses caras) ou Royal Blood (essa nem tanto) devem muito ao Pai Iommi.
Falando em Nirvana e anos 1990, quais os seus ídolos no rock? Sei que você curte outros estilos, mas falemos do rock aqui.
Sim, nós do Stoned Jesus escutamos praticamente qualquer coisa, e gastar metade da sua vida em turnê, ouvindo música pesada, principalmente com guitarras (nem sempre boas, diga-se) todas as noites pode transformar alguém em um hater do rock. Felizmente, só vemos isso como uma oportunidade para descobrir outros gêneros, em vez de odiar guitarras altas – parabéns para nós! Também sempre amei o rock progressivo, especialmente o vintage, como Marillion, Van Der Graaf Generator, King Crimson, Genesis, Rush e coisas do tipo. Recentemente, nós estávamos ouvindo muito krautrock, industrial mais antigo e no wave na nossa van, tipo Can, This Heat, Killing Joke, Swans, etc., o que provavelmente influenciou minhas criações um pouco…
A Five Thunders Roar Tour é uma comemoração ao sucesso da banda?
Ela é, mais especificamente, uma celebração deste álbum em particular, o Seven Thunders Roar. Inicialmente pensamos que seria uma semana ou duas, toda essa coisa de “vamos-tocar-esse-álbum-do-início-ao-fim”… E agora vamos passar um ano inteiro fazendo uma “re-turnê” dele!
Você pensa que, visto o cenário atual em que muitas bandas não conseguem sobreviver aos primeiros anos, uma que tem um álbum muito bem recebido pelos fãs – como o Seven Thunders Roar – já é digno de comemoração?
Bem, foi a reação positiva dos fãs e os incansáveis pedidos que fizeram essa turnê crescer de algumas semanas para um ano inteiro de turnê! Não era como se estivéssemos “Hey, vamos fingir que o Seven Thunders é importante e todos precisarão lidar com isso”. Na minha não tão humilde opinião, Seven Thunders Roar é um futuro clássico, daí a resposta que recebemos para fazer turnês. Eu sei, parece ridículo no papel – “O quê, um quinto aniversário? Eles não poderiam esperar mais cinco anos?”-, mas vemos o resultado pelo tamanho dos locais que estamos vendendo esta turnê. Se tudo for bem, espero que em breve não ligaremos muito pra esses caras que vendem merchandise falso, haha!
E esse quarto álbum? Podemos ter alguma novidade nos shows aqui no Brasil?
Claro! Como criamos uma hashtag agora, a #StJFourthLP está 99% escrito e ensaiado, então está praticamente como se tivesse sido lançado. Só precisamos gravar, mixar e masterizar, e então encontrar uma gravadora legal para divulgá-lo e promovê-lo. Dessa forma, você adivinhou, faremos isso nessa turnê, e é nela que você ouvirá todas essas sete novas músicas ao vivo. Sim, apenas sete, mas este será o nosso álbum mais longo até agora – de 50 a 52 minutos de música! E, sim, estamos planejando tocar tudo ao vivo, porque amamos essas músicas novas e as alimentamos com as antigas, para ser honesto.
Muito obrigado pelo seu tempo e vontade. Mal podemos esperar pelas apresentações!
O prazer é meu! O mesmo aqui, meus caros. Odeio apenas sentar em casa e aguardar a turnê. Odeio ainda mais do que estar sem sono, sem banho e sem descanso durante a turnê, haha!
SERVIÇO:
STONED JESUS no Rio de Janeiro
Data: 17 de agosto de 2017
Horário: a partir das 19h
Bandas: Red Mess (19h30) + Blind Horse (20h30) + Stoned Jesus (21h30)
Local: La Esquina
Endereço: Avenida Mem de Sá, 61
Ingressos: antecipado promocional / meia-entrada: R$ 60 / On-line: Sympla / na hora: R$ 80.
Pontos físicos:
Rocksession (Rua Conde de Bonfim, 80, loja 3 – subsolo; 3168-4934)
Tropicália Discos (Praça Olavo Bilac, 28 – Sala 207 – Centro; 2224-9215)
Hocus Pocus DNA – apenas em dinheiro (Rua 19 de fevereiro, 186 – Botafogo; 3452-3377)
STONED JESUS em Belo Horizonte (Festival Rock do Deserto)
Data: 18 de agosto de 2017
Horário: a partir das 21h
Bandas: Stoned Jesus + Muñoz, Red Mess, Blackdust e Duna, Brisa e Chama
Local: Stonehenge Rock Bar
Endereço: Rua dos Tupis, 1448, Barro Preto
Ingressos: promocional até 18 de agosto: R$ 40 – Online: https://www.sympla.com.br/
STONED JESUS em São Paulo
Data: 19 de agosto de 2017
Horário: a partir das 18h
Bandas: Red Mess (18h30) + Cobalt Blue (19h30) + Stoned Jesus (20h30)
Local: Clash Club
Endereço: Rua Barra Funda, 969
Ingressos: antecipado promocional / meia-entrada: R$ 70 / Online: https://www.sympla.com.br/
Pontos físicos:
Yoga Punx (Rua Doutor Cândido Espinheira, 156, Perdizes, (11) 94314-7955)
Volcom (Rua Augusta, 2490; apenas em dinheiro, (11) 3082-0213)
Loja 255 na Galeria do Rock, (11) 3361-6951
Ratus Skate Shop (Rua Dona Elisa Fláquer, 286, Centro, Santo André, (11) 4990-5163)
STONED JESUS em Goiânia (23º Goiânia Noise Festival)
Data: 20 de agosto de 2017
Horário: 20h
Local: Jaó Music Hall
Endereço: Av. Quitandinha, 600
Ingressos: https://meubilhete.com/