Um dos principais encontros do mercado de música da América Latina, entre 5 e 9 de dezembro, a Semana Internacional de Música de São Paulo ocupa a capital paulista com palestras, apresentações, rodadas de negócio, entre outras atividades focadas no novo mercado do meio.
Na sexta edição, ele tem patrocínio da Oi, apoio da Oi Futuro, Natura Musical e TNT Energy Drink.
A programação de showcases diurnos, que acontece de 6 a 8 de dezembro, na Sala do Adoniran Barbosa (Centro Cultural São Paulo), é sempre um dos pontos altos da programação e um nome que deve se destacar é o da rapper, cantora e compositora Drik Barbosa, ícone da nova cena de São Paulo.
Leia nossa entrevista com Drik:
Qual é o conceito de Espelho e em que momento ele surgiu?
Drik Barbosa – O EP Espelho nasceu da minha necessidade de ter um trabalho concreto. Eu faço música há mais de 10 anos, mas não tinha um material que apresentasse esse trabalho de maneira completa. Não havia um compilado de temas e mensagens que eu queria passar em um material só e eu sentia falta disso. Já tinha lançado singles, tinha participações com outras MC’s, mas ainda faltava esse trabalho para eu chamar de meu e com a Laboratório Fantasma eu consegui realizar.
O conceito de Espelho é me abrir através das faixas e dos temas. Muitas letras são a minha vida, o que eu passei ou o que eu quero passar. No caso de “Camélia”, por exemplo, a música fala sobre a negritude e o que outras mulheres negras passam. É um trabalho bem íntimo. A ideia é se olhar no espelho de uma forma sincera e sem máscaras, olhar pra si mesmo e falar: “Essa sou eu e não vou me moldar para caber na sociedade”. A intenção é que esse disco vá além de mim, do que eu enxergo no meu espelho.
O que tá rolando de mais interessante na música atual, na sua opinião?
Drik – A música é atemporal e é muito nítida a mudança que vem acontecendo na música através das gerações. O que eu mais reparo e mais me agrada hoje em dia é que nós colocamos mais verdade nas letras que estão sendo escritas. O mais legal é que isso não está acontecendo só no rap, até porque essa é a essência dele, mas na música em geral. Você consegue ver no pop ou no sertanejo, mulheres falando sobre o empoderamento ou sobre ocupar os espaços que também são femininos. A negritude canta cada vez mais, não só dentro do rap, mas em outros gêneros musicais. E, também tem os homossexuais falando sobre a homofobia. Todas essas verdades que têm sido colocadas, tornam as letras mais sinceras e consequentemente toca muito as pessoas e, transforma as vidas de quem ouve.
Quais são seus valores essenciais?
Drik – Os meus valores são a minha honestidade e minha sinceridade, o amor próprio, a empatia comigo e com os outros. Eu fui ensinada a ver mundo da melhor forma possível e tratar as pessoas como eu quero ser tratada. A fé que eu tenho move muito a maneira como eu trato o próximo. Eu tenho o pé no chão, corro atrás das coisas, quero encontrar um equilíbrio entre a razão e a emoção.
Em que aspectos o racismo na música é mais evidente, na sua opinião?
Drik – Sobre a minha referência estética, eu me vejo em toda mulher negra. Eu sou um pouco de cada mulher preta que alcançou e tem dado passos para lugares que a gente sabe que é nosso, mas não é ocupado por nós. Eu acredito que isso acontece porque nossa autoestima foi muito pisoteada e ainda é. A gente tem na música a Iza, a Ludmilla, a Elza Soares, a Ellen Oléria que foram conquistando o seu próprio espaço. Tem muita mulher preta incrível, de traços pretos que não necessariamente foram tão miscigenadas e tem traços finos para serem aceitas como mulheres bonitas, como referências de beleza. Eu me enxergo em cada uma delas.
O racismo na música é o racismo no mundo. Não tem jeito, nós somos afetados em todos os lugares. A partir do momento que a gente existe como um corpo negro, sofremos racismo. Nós temos menos reconhecimento do que outros artistas. A questão estética que é uma que conta muito nesse meio do entretenimento e da música e o fato de ser uma mulher negra, limita meus passos dentro dessa indústria. Outra, é a de classe social que também fala muito dentro da música, isso porque, quanto menos dinheiro você tem, maiores são as suas dificuldades para divulgar seu trabalho e fazer ele acontecer. Para nós, negros, isso é um fato, exatamente porque a gente vive nas margens, por consequência de tudo que a nossa negritude passou. Mas, a gente está lutando para que isso mude.
Quais são suas maiores influências?
Drik – Minhas maiores referências de resistência e de existência, em primeiro lugar, são as mulheres da minha família, principalmente a minha mãe. Ela que luta até hoje para que eu e minhas irmãs nos sintamos seguras, que tenhamos sempre o apoio dela, que nunca falte nada para nós, mesmo que nós mesmas já andamos com as nossas pernas. Eu aprendi com ela a ter essa independência financeira e não depender dessa questão que a gente vive na sociedade de que você tem que ter um marido para ele pagar tudo para você e ser dona de casa. Para mim foi muito importante eu ser ensinada assim, ainda uma artista.
Dentro da música, são muitas as minhas referências. Eu tenho a Erykah Badu e a Lauryn Hill como artistas internacionais que eu admiro muito e são influências no meu trabalho. Além delas, a Beyoncé que eu sou muito fã e ela é uma referência como cantora e como mulher independente que gera seu próprio trabalho. Mesmo que ela tenha uma equipe, a decisão parte dela e eu sigo muito isso, porque eu quero que tudo tenha a minha verdade e a minha opinião. Outras MC’s são também referência para mim como a Mc Stefanie e a Negra Lee. É difícil escolher e falar só algumas, porque eu tenho muitas referências de mulheres incríveis.
SERVIÇO
SIM São Paulo 2018
Onde: Centro Cultural São Paulo + 42 casas de shows
Quando: 5 a 9 de dezembro Programação: festa de abertura, showcases diurnos, programação noturna, conferência, networking & business PRO-BADGE (credencial): R$ 350,00 (terceiro lote – a partir de 01/12) Credenciados têm acesso livre à programação completa da SIM.