Nascido no Recife, Siba é um dos principais estudiosos e defensores da cultura popular do interior de Pernambuco, mais especificamente da Mata Norte. De Baile Solto (YbMusic), lançado em maio, marca um retorno do músico aos ritmos da música de rua de Pernambuco como elemento central de seu trabalho.
O álbum é sucessor do primeiro disco solo de Siba, Avante, de 2012, em que o pernambucano acenava ao rock e teve produção do guitar hero Fernando Catatau, do Cidadão Instigado.
Como integrante da banda Mestre Ambrósio, Siba foi um dos nomes fundamentais que chamaram a atenção das novas gerações para tradições como maracatu e ciranda. Em 2002, depois de morar em São Paulo por sete anos, formou o grupo Fuloresta, formado por músicos tradicionais de Nazaré da Mata.
O álbum de estreia deles, Fuloresta do Samba, foi lançado em 2003. O sucessor, Toda Vez que Eu Dou um Passo o Mundo Sai do Lugar, veio em 2007. Com o grupo, Siba fez oito turnês europeias entre 2004 e 2011.
Para o músico, no entanto, a cultura popular ainda é um gênero “marginal”. “Esta condição de exclusão está diretamente ligada ao fato dela se constituir basicamente de referenciais africanos e indígenas, o que diz muito do racismo velado tão marcante no Brasil”, diz Siba ao Virgula. “Quanto ao estigma, ele não só continua como está mais escancarado, basta acompanhar a história recente de repressão aos maracatus de baque solto, as investidas constantes contra o povo dos terreiros de matriz africana”, completa.
Vem ler nossa conversa com o ícone pernambucano:
Esse é um disco que marca seu retorno à cultura popular, por que decidiu fazer esse movimento?
Siba – De Baile Solto é marcado por um retorno a uma rítmica que pertence às culturas populares de rua em Pernambuco, especialmente o maracatu de baque solto e a ciranda, que sempre foram a base principal de meu trabalho mas estiveram menos evidentes no eu último disco, Avante.
Esta retomada se deu por uma necessidade de recuperar uma organicidade musical que me é difícil de conquistar sem o suporte rítmico que domino.
No mundo de hoje, na sua opinião, a cultura popular tornou-se mais contracultural ou isso é algo que apenas poderia passar batido antes quando existia um estigma e uma dicotomia maior entre tradição versus modernidade?
Siba – Prefiro dizer que a cultura popular é marginal. Esta condição de exclusão está diretamente ligada ao fato dela se constituir basicamente de referenciais africanos e indígenas, o que diz muito do racismo velado tão marcante no Brasil.
Quanto ao estigma, ele não só continua como está mais escancarado, basta acompanhar a história recente de repressão aos maracatus de baque solto, as investidas constantes contra o povo dos terreiros de matriz africana… a lista é sem fim.
Qual é a melhor maneira de combater o preconceito contra a cultura popular, na sua opinião?
Siba – Falando assim, genericamente, acho que falta postura política de combate na cultura popular. Existe uma longa tradição de dependência e aparelhamento dos modos de organização populares que tem conseguido esvaziar toda e qualquer possibilidade de um discurso afirmativo e questionador da situação de indigência de toda uma cultura.
Este é o primeiro disco que você produziu? Por que tomou essa decisão e qual considera o resultado do ponto de vista estético e emocional?
Siba – Sempre produzi meus discos sozinho até o ponto de saber bem o que queria e o que esperar de um parceiro. Mas neste De Baile Solto mantive o processo até o fim, o que me custou um enorme crédito de energia. Mas aprendi muito no processo e acho que foi bom para o disco ter um produtor assim meio… caótico, no fim das contas.
Que artistas da nova cena mais gosta e indica?
Siba – Os artistas que eu mais admiro estão fora até da “nova cena”: Mestres Barachinha, Joao Paulo, Zé Galdino, Anderson Miguel, a lista é enorme. Mas voltando pro mundo real, Alessandra Leão, Grupo Bongar, Kiko Dinucci, Juçara Marçal, Catatau… a lista não tem fim.