Uma sexta-feira qualquer no festival Sónar pode começar com um bailinho disco animado ao ar livre e terminar com um show sufocante e intenso num palco que te faz crer que o inferno é ali. Pois este é o Sónar, e nesta sexta (19) o grande destaque foi a dupla sul-africana Die Antwoord. Se você já viu algum clipe deles por aí, esqueça. A dimensão ao vivo é a de que você está dentro de um parque temático do Satanás, mas por algum motivo muito estranho você não quer sair de lá. É apavorante, chocante, visceral, enfim, qualquer clichê para colocar o show da dupla em palavras demoníacas é pouco.
Entre 1h e 2h da manhã deste sábado enquanto a dupla Yolandi Visser e Watkin Tudor Jones enchiam o palco SonarClub com sua música que mais parece uma patotinha dus infernus, um pós-punk industrial grudento, com vocais de Telletubie da vocalista, o público sabia que estava ali participando de uma ritual avançado de escalpelamento virtual, mas ninguém arredava pé.
O show do Die Antword faz outras apresentações eletrônicas de arena que estão por aí parecerem uma sessão da tarde do Discovery Kids. Diplo e Major Lazer? Perto do show do Die parecem monitores de bufê infantil. No telão imagens perturbadoras como a de um Gasparzinho colorido com um pau gigante em ação ou de uma criança com a cabeça em forma de cone ajudam a criar o clima de Sodoma e Gomorra.
Veja clipe de I Fink U Freeky
A energia da dupla é um caso à parte. Eles passam o tempo todo pulando, mostrando seus corpos rasgados usando um peças de roupas que já foram hit dos clubblers dos anos 90, só que repaginados para a estética apocalíptica do Die Antwoord. É a vitória dos cybermanos. Me pergunto o que puseram na mamadeira desses dois quando crianças.
ELEGÂNCIA IRLANDESA
Se na porção dia do Sónar nesta sexta já tinha rolado um bailão disco com o mestre americano Arthur Baker, que do alto de seus 60 anos bem vividos colocou os xóvens pra requebrar ao som de clássicos das pistas, à noite foi a vez da irlandesa Roisin Murphy mostrar com quantos looks se faz um show elegantésimo.
A apresentação de uma hora focou no novo disco, Hairless Toys, e ela mostrou o quanto esse álbum vale a pena. Com influências fortíssimas na disco e ítalo disco, mas sempre com um pé na house dos anos 90, a cantora fez um show fervido, com mais de 10 trocas de figurinos, um melhor do que o outro. Um som fino e elegante, como manda o manual da irlandesa.
A noite ainda teve shows arrasadores como Totally Enormous Extinct Dinousaurs e o repeteco do Hot Chip, que já havia se apresentado no Sónar Dia na quinta. Mas o melhor, pelo menos para quem buscava um DJ set inspirador para fechar a noite, ainda estava por vir. O inglês Jamie XX começou com soulmusic, passeou pelo techno de Detroit, tocou disco, funk, anos 90. Foi absurda a combinação de bom gosto da seleção e dinâmica no seu set. Se que fosse empresária dele aconselharia o rapaz a largar a banda e ficar com o emprego de DJ fulltime, porque fazia tempo que não via alguém tão inspirado tocando.
A noite, pelo menos pra mim, terminou com Daniel Avery mostrando por que é um dos DJs mais requisitados da Inglaterra no momento. Ufa. Hoje tem a última rodada dessa maratona linda. Deixa eu tomar um energético aqui…