Saulo Duarte nasceu no Pará, cresceu em Fortaleza e se radicou em São Paulo há nove anos. Com produção de Curumin, um dos nomes de ponta da nova música brasileira, Cine Ruptura, o terceiro álbum de Saulo traz o amadurecimento do cantor e compositor ao lado da banda A Unidade. Com este trabalho, Saulo se firma com uma sonoridade contemporânea, em que a brasilidade nunca surge de maneira estereotipada e de graça.
“O Curumin teve um papel fundamental nesse disco, ele e o Victor Rice, que mixou o disco, foram determinantes para alcançarmos essa sonoridade. Eu já sabia que queria trabalhar com essa dupla desde o início, primeiro porque eu queria fazer um disco de música brasileira e o Curumin sabe muito de música brasileira, mas o papel mais fundamental dele foi nos questionar, nos tirar da zona de conforto, eu e a Unidade já tocamos juntos há bastante tempo e o Curumin chegava para trazer outras possibilidades de execução, ele também determinou um número pequeno de takes por música no estúdio, então várias músicas são o primeiro ou segundo takes o que traz todo um frescor pro álbum”, afirma, em entrevista ao Virgula.
Neste sábado (16), o álbum que certamente estará em muitas listas de melhores do ano, ganha lançamento no Centro Cultural Rio Verde. Além de Curumin, outros dois monstros da MPB indie participam do disco. “Eu queria que a Ava cantasse exatamente a canção Angorá que é uma poesia do Giovani Baffô, poeta paulistano incrível, porque é um texto meio surreal, meio fantasioso e a voz da Ava tem um quê de sonho, de surreal também”, comenta.
“A música que o Russo Passapusso participa, eu comecei a escrever a letra lá em Salvador numa das temporadas que passei lá com ele, fala muito da força do povo, da libertação que a música é e o Russo é, um dos representantes mais autênticos da nova música baiana. Eu sou fã incondicional do trabalho dele”, diz Saulo.
Sobre os artistas da nova cena que o paraense mais gosta e indica, além de Russo e Ava Rocha, ele elege Rodrigo Campos e Anelis Assumpção. “Tem Oto Gris também que é uma banda cearense que eu tive a alegria de produzir o disco de estreia deles”, afirma.
Já em relação à pegada mais contemporânea do trabalho, com letras, arranjos e sonoridades mais densas, Saulo bate a fita. “Surge da vontade de falar de outros assuntos mesmo, de mostrar que a gente é do Brasil e o Brasil é gigante na sua diversidade e complexidade musical, queremos nos banhar de tudo isso”, diz. “Eu queria muito que as minhas raízes estivessem presentes no disco, sou um grande entusiasta da música paraense e nascido na terra do açaí, inclusive meu disco anterior, o Quente, tem seu conceito todo fechado na música amazônica. Mas nesse disco eu queria evidenciar outras cores e apontar para outros caminhos das nossas referências. Então é um disco mais abrangente no seu conceito geográfico”, completa.
Saulo revela ainda que a chave para ser universal foi cantar sua aldeia. “Quando fui revisitar Belém, convidei o Arraial da Pavulagem, que é um grupo que resgata e preserva a cultura paraense. Aí, decidimos explorar ritmos diferentes do carimbó e da guitarrada, na vinheta Arraial, por exemplo, o ritmo explorado pelos percussionistas do Arraial da Pavulagem é o samba de cacete, ritmo característico das regiões de Bragança e Cametá, no Pará”, afirma.
“O conceito do disco se resolve no próprio título. Cine é de cinema mesmo e completa a ideia do disco ser todo interligado, sem pausa entre as canções, e todas as referências visuais que o Curumin trouxe com os recortes de MPC, existem algumas falas de alguns filmes, alguns ruídos, tudo na ideia de um plano-sequência. E ruptura vem desse atual momento do nosso país de romper com conceitos antigos mesmo, de quebrar antigos padrões, de romper com essa sociedade patriarcal, arcaica e ultrapassada para propormos o que quisermos ser. A primeira música do disco chama “quem quer que seja” e os primeiros versos complementam a ideia de que você pode ser quem você quiser mesmo”, dá a letra.
Como escreveu Anelis Assunção sobre o disco: “Voa, Saulo, corre pra Júpiter que quero bater uma foto sua no planeta que te rege o juízo. Já tô é lá, grita ele de dentro da sua nave mistério”.
SERVIÇO
Saulo Duarte e a Unidade no lançamento de Cine Ruptura
Centro Cultural Rio Verde
Data: 16 de julho de 2016, sábado
Horário: a partir das 22h
Ingressos: R$ 20 (aceita cartões de débito e crédito)