Festival Vivo Eletronika, em Belo Horizonte


Créditos: Gabriel Nanbu

Antes de existir Pato Fu, John Ulhoa fazia barulho nos anos 80 ao lado do vocalista Rubinho Troll, na cultuada banda de Belo Horizonte Sexo Explícito. Após o fim do grupo, em 1991, Rubinho foi morar em Londres, constituiu família por lá, mas não deixou a música de lado. Suas composições viraram canções para o Pato Fu (como Mamãe Ama É o Meu Revólver e Menti Pra Você, Mas Foi Sem Querer) e, no começo de 2011, um ótimo disco em português chamado Stinkin Like a Brazilian, produzido por John. A única “promoção” do álbum foi um show intimista, energético e performático realizado no festival Vivo Eletronika, no último sábado 19, em Belo Horizonte – o primeiro de Rubinho em 20 anos.

John teve de insistir para que o amigo, hoje dedicado à exaustiva profissão de marido e pai de duas meninas pequenas, viesse ao Brasil para mostrar as músicas do disco solo. “Vou fazer o show a pedido das minhas viúvas que ficaram em Belo Horizonte, desde a época do Sexo Explícito. Não tenho expectativa alguma”, declarou Rubinho ao Virgula Música, pouco antes da apresentação. E quem compareceu à pequena Sala Juvenal Dias, no Palácio das Artes, pôde comprovar que Rubinho continua sendo um frontman de primeiríssima.

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A banda, convocada especialmente para o show, era composta por John Ulhoa na guitarra, o baterista do Tianastácia Glauco, Thiago Braga nos teclados e Gabi Lima no baixo, além de Roger, ex-Sexo Explícito, fazendo uma participação nas bateras. Mandaram muito bem, apesar de terem ensaiado apenas três vezes (Rubinho chegou apenas uma semana antes do show).

No setlist, entraram coisas do Sexo Explícito, como “A Obra” e “Vaporzinho da Calçada”, músicas tocadas pelo Pato Fu, como “Mamãe Ama É O Meu Revólver” e “O Filho Predileto do Rajneesh”, além, claro, de material novo de Rubinho. Alguns destaques entre as novidades foram a agitada canção de “autoconhecimento” Hoje Eu Me Vi Por Dentro (Endoscopia) e Alma Turbinada, que tem até videoclipe no Youtube.



Rubinho dançava, rebolava, fazia pose de rockstar e movimentos sexuais. Incorporava, nos vocais, desde um crooner refinado a um cantor de thrash metal. Cada vez que ia trocar de guitarra, incorporava um lorde inglês e estalava os dedos para que o roadie lhe entregasse o instrumento. Um senhor frontman, de fato.

Após o show, questionado se esse seria sua última apresentação no Brasil, ele respondeu: “Gostei da experiência, mas é muito difícil organizar um show. A parte logística é foda”. Além disso, Rubinho tem crianças para cuidar no velho continente, o que dificultaria a viagem. Por essa e outras razões, é muito provável que outras apresentações no Brasil não aconteçam tão em breve. Para quem quiser conferir o trabalho de Rubinho, no entanto, o CD está aí.

Vírgula Música – O disco, pela qualidade que tem, não deveria ser melhor divulgado?
Rubinho – O disco está fantástico, mas, do jeito que eu sou, não fiz divulgação alguma. Acho legal ter feito um disco e botado na roda para as pessoas, mas não prometo que vou fazer promoção. Este show é a única promoção que vou fazer.

Como recebeu o convite para tocar no festival Vivo Eletronika, em Belo Hoirizonte?
Rubinho – Quando recebi o convite, o primeiro impulso foi de não querer tocar. Faz mais de 20 anos que fiz um show na minha carreira. O último foi da banda Sexo Explícito, em 1991, quando o Pato Fu estava começando. Foi a apresentação de despedida, com todo mundo se abraçando.

John – Foi a única vez que o Sexo Explícito e o Pato Fu tocaram no mesmo evento. E, coincidentemente, foi o último do Sexo Explícito.

Rubinho – Eu não queria fazer porque não sou um músico itinerante. Hoje em dia, tenho minha vida arrumada lá em Londres, onde vivo há 18 anos. Hoje, sou um pai de família. Fico em casa cuidando das minhas crianças, faço minhas produções em meu estúdio caseiro, mas não toco ao vivo. Não tenho o objetivo de tocar ao vivo. Como meus amigos me pediram e o próprio John me incentivou, eu pensei, “quer saber, cara? Vou fazer”. E acho que foi legal.

Por que você compõe, hoje em dia?
Pelo mesmo motivo que as pessoas fazem coisa na vida. Não dá para só comer, beber, dormir e ir ao banheiro. Eu faço música.

Mas você escreve músicas em português, morando em Londres. Por quê? Quem você pretende atingir com a sua música?
Rubinho – Para você escrever músicas em inglês com a sutileza necessária, acredito que você tem de ser nativo ou ter morado fora desde a infância. Tem muita gente que escreve música em inglês e, ao meu ver, fica a desejar em termos de ironia e perspicácia. Eu prefiro escrever em português. Quando imagino uma música, penso que estou fazendo para os meus amigos em Belo Horizonte.

E quais são seus objetivos artísticos?
Acho que meu objetivo artístico já atingi: fazer um disco super legal, com uma produção super legal, com arranjos interessantes, letras interessantes, algo que você fica com vontade de ouvir mais de uma vez. Queria algo que não seguisse essas teorias de moda, de linha evolutiva da música popular brasileira. Quis fazer o meu negócio, sacou? Acho que consegui isso.

O Sexo Explícito tinha uma posição combativa em relação à produção musical mineira. Hoje, um dos principais nomes de Minas é o Pato Fu. Você acha que ainda existe caretice na cena local?
Rubinho – Estou por fora do que está acontecendo. O John teria uma posição melhor, porque ele mora aqui. O que conheço é aquilo que ouço pela Internet, e a maioria é uma bosta. Parece que Belo Horizonte é a capital das bandas ruins. Os caras do mainstram que a gente combatia, na época, eram o pessoal do Clube da Esquina (de Milton Nascimento e Lô Borges). E não era porque a gente não gostava da música, era porque, de certa forma, eles monopolizavam os espaços culturais na cidade. Havia três casas de espetáculo dominadas por panelinhas. Claro que você tem de se rebelar contra isso. Acho que não existe mais esse tipo de antagonismo. Hoje em dia, as bandas de BH são ruins por falta de originalidade, mas não conheço muito. Estou a fim de conhecer. Se conhecer algo bom, me manda.

Você, John, tem apresentado bandas ao Rubinho?
John – O Rubinho é que me mostra uns sons de vez em quando, das coisas que estão acontecendo na Inglaterra. Ele faz mais isso para mim do que eu para ele. Geralmente, ele escuta as coisas que eu apresento e não gosta (risos). Eu não sou muito bem sucedido quando tento apresentar alguma coisa brasileira (risos).

A conexão musical ainda continua forte?
Quando o Rubinho está com uma música nova, uma das primeiras coisas que faz é me mandar, não só para ouvir a música; pode ser tão legal que eu queira gravar com o Pato Fu. Ultimamente, como produzi o disco do Rubinho, virei um consultor tecnológico na parte de acabamento musical nas produções dele. Ele me consulta nos aspectos técnicos, porque na parte conceitual ele é o que é.

O que você vai fazer com as próximas músicas que compuser?
Rubinho – Provavelmente, no futuro, vou fazer outro disco. Eu não faço parte da indústria musical, então não tenho pressão. Faço quando tenho tempo. Meu trabalho em Londres é cuidar dos meus filhos. Minha mulher vai trabalhar, e eu tomo conta das meninas (de 3 e 1 ano). Apesar de ter estúdio em casa, não tenho tanto tempo para produzir e tocar. De certa forma, é até bom porque o meu tempo se torna mais precioso. Quando você tem todo o tempo do mundo, acaba não fazendo nada.

Demorou para lembrar as músicas do Sexo Explícito nos ensaios?
John – Foi bem fácil de lembrar, porque ensaiamos tanto essas músicas…  As novas do Rubinho são bem mais complexas, porque são cheias de negocinhos.

O que sentiram ao tocar as músicas do  Sexo Explícito ao vivo, novamente?
Rubinho – Eu prefiro tocar as minhas músicas, sinceramente. Não gosto de nostalgia, prefiro olhar para a frente. É legal tocar Sexo Explícito… a música que o povo pediu foi A Faca, que a gente não tocou.
 
John – Acho que, quando uma banda acaba e volta 20 anos depois, aquilo tem uma função de agradar os fãs, ganhar grana e encher lugares. É claro que as pessoas vão querer ver os hits. Mas isso não é o que está acontecendo agora. A gente só fez o show porque queríamos fazer. A escolha do setlist foi bem fácil, foi aquilo que queríamos tocar. Não pedimos a opinião de ninguém para isso.

Rubinho – Mesmo porque o Sexo Explícito nunca fez sucesso comercial. Ele continua underground.

Dá para dizer que daqui para frente não haverá mais show de Rubinho Troll no Brasil?
Rubinho – Eu gostei da experiência, mas fazer um show é foda, do lado logístico.
 
John – E para o Rubinho, com a carreira de “house husband”, toda a família teria de entrar de férias para que ele pudesse vir ao Brasil. Fazer show é complicado… Tem de ter alguém organizando, com dinheiro para viabilizar. O Rubinho não tem um compromisso com a indústria nem nada. Se ele quiser que eu toque em um show, no futuro, eu toco. Estou nessa. Mas também não vou ficar enchendo o saco para que ele venha ao Brasil.


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Rubinho Troll, ex-Sexo Explícito, faz show em Belo Horizonte após hiato de 20 anos