Se o seu radar pop anda bem calibrado, certamente o disco novo da cantora irlandesa Róisín Murphy, Hairless Toys, passou por seus ouvidos, certo?
Caso você tenha dormido no ponto e perdido o lançamento (um dos grandes discos de 2015, diga-se), que rolou em maio, não tem problema. Cata aqui um dos clipes do álbum, que faz a linha esquisito-eletrônico-chic que sempre foi a cara da cantora. Aliás, foi a própria Róisín quem dirigiu essa belezinha aqui.
VEJA O CLIPE DE EVIL EYES
Nascida Róisín Marie Murphy no condado de Wicklow, na Irlanda, essa canceriana de 42 anos toda trabalhada no fashionismo volta agora à cena depois de oito anos sem lançar um álbum (período durante o qual teve dois filhotes, Clodagh, 5, e Tadhg, 2). Em Overpowered, disco lançado em 2007, ela assumia uma persona meio escrava da moda, meio gente como a gente, que fazia um show totalmente montada e depois ia pra casa de busão, não sem antes comer um bom kebab de rua. Duvida? Veja o clipe aí.
VEJA O CLIPE DE OVERPOWERED
E claro que você lembra que Róisín era vocalista do Moloko, dupla que ela formou com o produtor/namorado Mark Brydon e estourou nos anos 90 no mundo todo como hits como Sing It Back e Fun for Me. Não lembra? Então pelamordedeus vê este clipe aqui, em que ela surge como uma enfermeira ruiva magia.
VEJA O CLIPE DE FUN FOR ME
Neste verão europeu, Róisín está com uma agenda cheia de shows em festivais bacanudos, como o Sónar, em Barcelona, onde a vimos fazer um show com trocentas trocas de figurinos e uma bela banda de apoio.
“Eu tentei manter uma estética antirrock’n’roll neste novo show. Não tem nada no meu visual em que se leia ‘rockstar’”, disse numa entrevista por telefone exclusiva ao Virgula, de sua casa, em Londres.
Se teremos a chance de finalmente ver seu show solo – ela esteve por aqui apenas com o Moloko, em 2000 – no Brasil?! Ela diz que tá nos planos, gente \oo/
Vamos de Róisín Murphy, então.
Róisín Murphy
Virgula – Vi sua apresentação no Sónar, você trocou de roupa umas dez vezes..
Róisín Murphy – Eu não planejei muito a parte visual do show. A gente ensaiou bastante a parte musical, mas quanto a mudanças de roupas eu não fiz nenhum ensaio e vou aprendendo conforme vamos fazendo a turnê. Cada show é diferente, um do outro. Até mesmo musicalmente, mas esse aspecto visual muda muito. Claro que eu venho reunindo esse figurino, mas até o último minuto eu incluí coisas, como as máscaras criadas pelo meu amigo Christophe Coppens, que fez os chapéus pra mim na turnê passada, ele é incrível. Eu tentei manter uma estética anti-rock’n’roll nesse show. Não tem nada no meu visual que leia rock star. Acho sempre interessante fazer a parte dos figurinos.
Virgula – Qual é o peso da moda no seu trabalho?
Róisín Murphy – Eu faço meu styling eu mesma. Overpowered foi mais centrado na moda, eu tinha vontade de usar as roupas do momento, de designers incríveis, eu adorava aquela ferveção. Aquilo me conectava à realidade de todo mundo, mesmo quando estava usando uma roupa totalmente louca, desenhada por Viktor & Rolf, aquilo de alguma maneira estava conectado às outras pessoas, porque elas podiam encontrar [a marca] Viktor & Rolf no duty free do aeroporto, então estava tudo conectado. Eu achei aquilo tudo muito interessante por um tempo, mas a moda ficou muito saturada nesses últimos oito anos, as coisas mudaram muito. Nunca achei que a moda fosse algo menor do que as outras formas de arte. Tem artistas ótimos e péssimos em todo lugar. Mas na moda… as coisas estão ficando fora de controle, com toda essa indústria de celebridades em volta.
Virgula – E por isso você se afastou?
Róisín Murphy – Tentei criar algo que não tivesse design assinado por ninguém, que não tivesse relação com nenhum perfume, com nenhuma marca. Tentei criar essa imagem sozinha em Hairless Toys.
Virgula – E esse trabalho visual se entendeu aos videoclipes, já que você dirigiu Exploitation e Evil Eyes… você já pensou em dirigir para outros artistas também?
Róisín Murphy – Pode ser, sim. Eu adorei dirigir. Foi um privilégio poder fazer isso, mas acho difícil prever pra onde isso vai. Mas gosto de pensar em mim mesma como uma artista multimídia. Desde que criança eu quis ser artista. Pensei em ir pra uma escola de artes. E agora me parece que é isso que eu estou me tornando. É muito mais divertido.
Virgula – Você ainda gosta de sair pra dançar?
Róisín Murphy – Muito! Infelizmente (risos). Agora que estou em turnê é mais difícil, às vezes vou com os meninos depois dos show, mas agora tenho que sair pra dançar na minha mente.
Virgula – Hairless Toys é bem diferente de Overpowered, seria ele um disco anti-pop?
Róisín Murphy – Talvez. É um jeito de olhar pra ele, sim. Mas no fim das contas é música pop, mas não do jeito que ela está aí. Mas sei lá, talvez não seja pop mesmo. Não tento fazer música estranha, tento fazer música que de alguma forma se conecte com as pessoas. Mas a música que não combina comigo é aquela que segue fórmulas. Isso não me agrada, então eu não faço.
Virgula – Este disco não é tão dançante, tem faixas mais deep e algumas até lentas. Nesse meio tempo você teve seus dois filhos. Você acha que a maternidade mudou a sua maneira de compor?
Róisín Murphy – Talvez sim, mas a verdade é que fazia oito anos que não compunha para um álbum. Claro que lancei faixas nesse meio tempo, mas compor para um álbum te leva para um lugar mais profundo na real. Você vai pro estúdio todo dia, escreve o tempo todo, você vai mais fundo. Mas eu teria mudado mais se eu não tivesse tido filhos, porque eu sempre quis tê-los. Eu sempre soube que ia ter filhos, então pra mim foi parte do curso natural da vida.
Virgula – Qual é a persona por trás de Hairless Toys? Em Overpowered tinha uma feeling de disco diva, agora uma italiana classuda?
Róisín Murphy – Não sei se eu penso exatamente num personagem. Não gosto de ficar limitada por isso. Então qualquer coisa é possível no âmbito de quem eu serei. Mas eu queria dar um feeling de nostalgia, de olhar para trás. Mas não de uma forma antiquada. Olhar para o passado recente. Com isso teve esse sentido de estar num outro tempo, dentro da própria consciência. Você percebe isso nos figurinos, na contracapa, nas fotos. A ideia era não deixar claro de quem tempo ela é. Mas certamente tem um feeling vintage aí. Uma saudade do passado, mas não de um passado específico.
Virgula – Imagino que essa pegada italiana nos visuais também tenha a ver com o seu parceiro (o DJ e produtor Sebastiano Properzi aka Brigante)?
Róisín Murphy – Com certeza eu fui muito influenciada pela cultura italiana quando estava fazendo meu EP Mi Senti. Acho incrível como especialmente as cantoras italianas de épocas passadas conseguiam criar uma atmosfera incrível em suas performances.
Virgula – Você e o produtor Eddie Stevens escreveram mais de 30 músicas para Hairless Toys e usaram oito. O que vai acontecer com essas faixas?
Róisín Murphy – Vamos lançar um novo disco daqui a um ano mais ou menos. Mas é impossível usar tudo o que a gente escreveu mesmo assim.
Virgula – Você disse que foi muito natural ter seus filhos. Mas a rotina, especialmente agora com os shows, o que mudou?
Róisín Murphy – Tem sido bem OK, porque eu sempre planejo de estar fora apenas nos finais de semana. Planejo os shows pra estar fora alguns poucos dias e depois voltar pra casa, em Londres. Então não fico tanto tempo fora de casa. Fiz o disco aqui mesmo em Londres, então não fico muito longe deles, não.
Virgula – Você vê vida inteligente na música pop mainstream?
Róisín Murphy – Eu vi FKA twigs ao vivo outro dia. Acho que ela é mainstream, num certo sentido. Fiquei passada com o show dela. Virei fã no mesmo instante.
Virgula – E o Brasil, está nos planos dessa nova turnê?
Róisín Murphy – Estamos trabalhando nisso, sim.