The Cure no Rio


Créditos: Marcos Hermes

Apesar do desfile de hits apresentados pelo The Cure nesta quinta (04) no seu primeiro show brasileiro da turnê de 2013, no Rio de Janeiro, o tom da noite teve mais a ver com a história dark do grupo inglês, uma das bandas de maior sucesso dos anos 80 no mundo todo.

Sim, o Cure tem hits para agradar até aos mais incrédulos e quando Robert Smith e companhia tocaram faixas como In Between Days, Boys Don’t Cry, Let’s Go To Bed, The Lovecats e Close to Me, ícones dos anos 80, ser gótico fez sentido mais uma vez.

A banda de Robert Smith, com seus 36 anos de estrada, tem tudo pra fazer a festa dos milhares que vão aos seus shows, mas, propositalmente, prefere fazer uma festa mais cabeçuda, interiorizada, reservando até na hora dos hits espaço para reflexão.

No telão do palco da HSBC Arena, que estava parcialmente cheia nesta quinta, a banda deu espaço a projeções “problemáticas”, como imagens da Guerra do Vietnã, de campos de concentração e outros vídeos de cunho pouco festivos. Mesmo enquanto diverte, Robert Smith gosta de fazer pensar, afinal, que “catzo” fazemos neste planeta.

Nem a irretocável fofice de Robert Smith, que se mantém com sua estética de bebê/ursinho de pelúcia aos 53 anos de idade, fez com que o show do Cure no Rio animasse por completo a galera que foi até a Barra conferir a apresentação dos ingleses. Exceto pelo colorido dos colares e pulseiras de plástico de Robert Smith, que lembravam as que minha filha de três anos usa, o visual dos músicos no palco era composto 100% por roupas pretas.

Apesar da alegria de ver uma das maiores bandas da terra em ação, fã do Cure que é fã de verdade prefere uma choradinha de emoção a rachar de sorrisos no meio da multidão. Lá do palco, Robert Smith com sua cabeleira que hoje mais parece uma teia de aranha, castigada por tantos produtos ao longo dos anos, não incentiva em nenhum momento que a plateia se exalte muito.

Com outros dois shows do Cure na bagagem (o histórico show de 1987 no Ginásio do Ibirapuera e a apresentação no finado Hollywood Rock, em 1996), além de incontáveis horas de shows ao vivo em DVD, conheço bem os trejeitos e caras e bocas do líder da banda. Mesmo que hoje Smith pareça um cosplay de si mesmo, em sua essência parece que muito pouco mudou nesses anos todos.

E, se a gente parar pra pensar, a estética dark que fazia tanto sentido nos anos 80, será que está tão ultrapassada hoje? Nunca fomos tão instrospectivos com nossas cabeças enfiadas em computadores, tablets e celulares. Nunca ouvimos tanta música solitariamente, munidos dos nossos fones de ouvido gigantes.

Frases como “It doesn’t matter if we all die”, do übberhit gótico 100 Years e “I’m lost in a forest, all alone”, de A Forest, canções escritas no auge do darkismo dos anos 80, nunca foram tão atuais. Não, Robert Smith não quer que a gente “tire o pé do chão”, nem quando timidamente sorri ao executar faixas mais felizes, como Friday I’m In Love, The Walk e The Caterpillar.

Certo que Smith não se arrisca mais em agudos muito exigentes, modula a voz para um tom mais baixo e confortável de cantar. Mas os gritinhos, os doodooodooo e outros cacos thecureanos estão todos ali.

Ao seu lado direito no palco está a figura impressionantemente conservada do baixista Simon Gallup, fiel escudeiro de Smith. Hoje em dia, Gallup mais parece um novato no palco, graças a um novo visual rock’a’billy e uma disposição de moleque.

Após mais de três horas de show (a apresentação começou às 22h e pouco e foi até quase 1h30), a lição que fica é: você pode até ter deixado de ouvir The Cure, mas o The Cure não sai de você. Ver um show de Robert Smith e companhia é como visitar um velho amigo que você não vê há anos. Nada mudou naquele sentimento, apesar da distância e da ausência.

Portanto, se você estava com preguiça ou sem dinheiro para ver o Cure em São Paulo no próximo sábado (06), pode parar com isso. Pegue dinheiro emprestado com um amigo, consiga uma tia para ficar com as crianças. Vale cada segundo e cada centavo. Veja abaixo o tracklist do show do Rio, compilado por uma repórter/fã emocionada:

Open
High
The End of the World
Lovesong
Push
In Between Days
Just Like Heaven
From The Edge of The Deep Green Sea
Pictures of You
Lullaby
Fascination Street
Sleep When Im Dead
Play for Today
A Forest
Banana Fish Bones
Shake Dog Shake
Charlotte Sometimes
The Walk
End
Friday I’m In Love
100 Years
The Lovecats
The Caterpillar
Close To Me
Hot Hot Hot
Let’s Go To
Bed
Boys Don’t Cry
10h15 Saturday Night
Killing an Arab 

SERVIÇO – THE CURE EM SÃO PAULO
Data: 6 de abril de 2013
Horários: Sábado, às 19h
Preços: Entre R$ 137,50 e R$ 500
Local: Arena Anhembi
Informações: www.livepass.com.br


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Robert Smith comanda festa dark em show do Cure no Rio de Janeiro