LOS ANGELES (Reuters) – Estes são tempos confusos para os fãs do heavy metal, pessoas que gostam de temperar seu rock’n’roll com guitarras trovejantes e algumas doses de referências satânicas.

O cantor do Black Sabbath, Ozzy Osbourne, o auto-intitulado Príncipe das Trevas, virou astro de sitcom na TV, e seu colega do Led Zeppelin, Robert Plant, deu de aparecer por aí cantando velhas canções hippies. Qual será a próxima surpresa? Britney Spears de vocalista do AC/DC?

Enquanto Ozzy Osbourne representa o papai confuso mais amado da América, o também britânico Plant está em turnê, apresentando seu primeiro álbum solo em nove anos, “Dreamland”, composto em grande medida de canções cover.

Plant, cujas longas madeixas loiras lhe valeram o apelido de “Golden God” (Deus Dourado), foi o vocalista de uma das maiores bandas de rock dos anos 1970, que se inspirou abertamente nos velhos artistas do blues para criar hinos como “Whole Lotta Love” e “Stairway to Heaven”.

Quando a banda se desfez, após a morte do baterista John Bonham, em 1980, Plant partiu para uma sólida carreira solo e, em meados dos anos 1990, uniu-se ao guitarrista do Led Zeppelin, Jimmy Page, para fazer dois álbuns e algumas turnês importantes.

“Dreamland”, da Universal, no qual ele é acompanhado por sua nova banda, Strange Sensations, contém apenas duas canções originais. Muitas das outras faixas estão ligadas aos anos 1960: “Hey Joe”, uma canção popularizada por Jimi Hendrix, “Song to the Siren”, de Tim Buckley, “Darkness Darkness”, do The Youngbloods, e “Morning Dew”, associada ao Grateful Dead.

OS ANOS 1960 NÃO FORAM TÃO RUINS

Será que realmente precisamos de mais um tributo a uma época turbulenta que, vista hoje, parece envolta num saudosismo irritante da época do “flower-power”?

Em entrevista recente à Reuters, Robert Plant, 54 anos, disse: “De fato, todo o sentimento daquela época hoje dá a impressão de ser algo que só serve para fazer propaganda de iogurte… com grupos de mocinhas dançando por aí de camisetas tingidas em casa.”

“Mas na verdade havia muito mais do que isso: era a cultura jovem ganhando responsabilidade e os músicos ecoando tudo isso, juntamente com as crises e a guerra do Vietnã… Eu achei que foi uma era muito forte e eloquente.”

De qualquer maneira, Plant acha que quem comprar seu CD não vai passar muito tempo pensando sobre tudo isso, já que “quem não esteve lá não entende a mensagem”.

Plant conhece muito bem os perigos implícitos de se usar música fora de seu contexto. Ele jamais teria imaginado, em 1974, que a música oriental “Kashmir”, que compôs em parceria com Page e Bonham, seria usada sem autorização, 18 anos mais tarde, para acompanhar uma cena em que uma freira é violentada no filme “Vício Frenético”, de Abel Ferrara. “É triste, na realidade”, ele comentou.

Desde então o Led Zeppelin vem se mostrando mais disposto a licenciar suas canções, tendo autorizado o uso de sua música no filme “Quase Famosos”, de Cameron Crowe, no documentário “One Day in September”, sobre as Olimpíadas de Munique, e numa série de comerciais de uma montadora de Detroit.

Outras canções do álbum “Dreamland” incluem um cover de “One More Cup of Coffee” (Bob Dylan, 1975) e versões radicalmente retrabalhadas de melodias de blues de Bukka White, John Lee Hooker, Arthur “Big Boy” Crudup e Robert Johnson.

Plant descreve o álbum como um “trance psicodélico” que funde os estilos musicais de povos pré-saarianos, como os tuaregues e os gnaouas, com os sons assustadores das bandas britânicas nas quais seus colegas de banda tocavam antes, como o The Cure ou o Portishead.

Mas o resultado talvez seja um pouco demais para o grande público, haja visto que o álbum ficou apenas quatro semanas nas paradas norte-americanas.

CHEGA DE CANÇÕES NOVAS

Plant estima que, em seus 34 anos de carreira, já teve seu nome creditado em 130 canções. Assim, ele não teve vontade de adicionais mais a esse total na hora de criar “Dreamland”. Mas disse que não sofreu de “bloqueio de compositor”.

“Simplesmente achei que já compus o suficiente”, explicou.

Ele se sente confuso com o rock moderno, dizendo que grupos como Pearl Jam, Linkin Park e Korn contribuem para “a bagunça digitalmente gravada, insubstancial, limpinha demais” que se ouve no rádio. Sua aprovação é reservada para bandas mais ousadas, como Flaming Lips e White Stripes.

Na condição de membro do establishment do rock, talvez seja apenas uma questão de tempo até ele se unir a Mick Jagger e Paul McCartney, virando cavaleiro do reino britânico. Isso se a rainha Elizabeth não tiver lido “Hammer of the Gods”, o espalhafatoso livro de memórias do Led Zeppelin.

Mas ele não parece preocupado com isso e ainda guarda alguns objetivos musicais. Em janeiro, pretende fazer uma viagem arriscada ao Mali para participar do terceiro Festival no Deserto anual, que vai incluir apresentações do povo tuaregue numa parte explosiva da nação africana.

“E eu bem que gostaria de compor outro grande hino do rock”, ele conclui.


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Robert Plant faz 1o disco solo depois de nove anos

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