Diante de um sol inclemente no palco Interlagos do Lollapalooza no domingo (06), as meninas do Savages mostraram que não são vampiras. Apesar da palidez, dos corpos frágeis e da referência propositadamente datada, os góticos dos anos 80, elas mostraram presença e confirmaram a aposta de maior revelação do festival.
A situação explicita o fato de que uma das tensões abertas pela crise do macho e as discussões recentes sobre o preconceito do brasileiro, com a malfadada pesquisa que confirmou o óbvio, como o machismo está irraigado na sociedade.
A banda formada pela francesa Jehnny Beth (vocal) e pelas inglesas Gemma Thompson (guitarra), Ayse Hassan (baixo) e Fay Milton (bateria) chegou sob a expectativa do álbum de estreia, Silent Yourself, que saiu pela Matador Records no ano passado, e rendeu comparações a Joy Division e Siouxsie and The Banshees.
Em Fuckers, faixa que encerrou a enérgica apresentações das meninas impecavelmente de preto: Jehnny deu o recado em português, inspirado no refrão da música: “Não deixe os filhos da puta te colocarem para baixo”. É antídoto perfeito para conscientização de meninos e meninas contra o machismo endêmico.
Como diz o mote da Ninfomaníaca, de Lars Von Trier: “Mea maxima vulva”. É tempo das riot grrrls, como é chamado o movimento feminista radical, que envolve, fanzines, festivais e bandas de hardcore punk rock.
Outra mulher ouvida em sua ausência foi Kim Deal, do Pixies. Substutuída pala argentina Paz Lenchantin, o som da banda fluiu mais redondo, mas sem a divisão de forças entre Kim e Black Francis, pendeu para o lado do macho. Ainda mais que Paz é extremamente domesticada, faz tudo que seu “mestre” manda. O equilíbrio ficou penso, ainda que o show tenha sido impecável e emocionante.
Alguém que os tenha visto pela primeira vez pode, talvez, ter sentido os que testemunharam o milagre de Curitiba em 2006, show que muitos lembram com carinho. No caso deste repórter, tive essa epifania no SWU, em 2011.
A guitarra cheia de efeitos de Joey Santiago, também domesticada por Black Francis e a bateria elegante e simples de David Lovering – tal qual um Charlie Watts indie -, soaram perfeitamente no Lolla. O líder, marrento, não deu oi, nem boa noite para o público. Isso não é nada, no entanto, para alguém que deu muito mais: uma forma de levar nossas vidas com mais som e fúria.
Por fim, outra mulher, também pôs a vagina na mesa: Régine Chassagne, do Arcade Fire, com sua voz de soprano, emulou heroínas como Bjork, tal qual uma sereia, seu vestido colado e psicodélico, realçando suas curvas, era a prova de que nenhuma mulher merece ser estuprada, merece, sim, ser escutada. Vai lavar a louça, Win Butler!