Camila Garófalo mudou de lado. A cantora ribeirão-pretana de 25 anos estudou publicidade e trabalhou como jornalista antes de passar a se dedicar exclusivamente à música. O resultado veio rápido e com seu disco de estreia lançado este ano, Sombras e Sobras, ela passou a frequentar blogs, sites e revistas, despontando como revelação do novo rock brasileiro.
Esse mesmo maltratado rock, de bandinhas cover que que fazem grandes personalidades já falecidas darem piruetas em seus túmulos. Uma vergonha para a estirpe fundada pela aristocracia de Chuck Berry, Little Richards, Elvis Presley, Howlin’ Wolf.
Camila não concorda. “Não vejo crise no rock nacional. Vejo crise no mercado do rock nacional. Sinto que esse mercado fonográfico tem medo do novo, do contemporâneo”, diz.
A cantora se apresenta no Prata da Casa no Sesc Pompeia, na terça (25), às 21h, grátis. No repertório, estarão surpresas e músicas do seu álbum, que teve produção conjunta com Thiago França (Metá Metá), Dustan Gallas (Céu), Bruno Buarque (Anelis Assumpção, Lucas Santtana, Karina Buhr) e Danilo Prates. O disco pode ser baixado (aqui).
No papo com a gente, Camila contou como conheceu os expoentes da MPB indie que farão participação em seu show e tocaram no seu disco e fala, entre assuntos, de feminismo. “Abordar o assunto e perpetuar ideias feministas nas letras, por exemplo, é uma maneira de contribuir para a desconstrução do machismo, que ainda é tão presente na literatura musical brasileira”. Dá um confere nas ideias da moça.
Como conheceu Dustan Gallas, Bruno Buarque e Thiago França que participam do seu disco e Tatá Aeroplano e Verônica Ferriani que vão cantar com você no Pompeia?
Durante o tempo em que trabalhei com jornalismo cultural e escrevia sobre música independente conheci diversos músicos e artistas desse cenário, como o Dustan, o Bruno, o Thiago e o Tatá. Aos poucos tive a oportunidade de mostrar minha música para eles até conciliarmos parcerias.
Já a Verônica é um causo do interior. Somos conterrâneas de Ribeirão Preto , interior de São Paulo, e sempre admirei a música dela, especialmente agora que lançou seu primeiro disco autoral Porque a Boca Fala Aquilo do que o Coração tá Cheio e que se mostrou também uma ótima compositora. Apesar de estarmos inseridas nessa mesma cena, nossos laços se deram pelos nossos pais. O pai dela é cliente de longa data da padaria do meu pai. Papo vai, papo vem e…sabe como é o interior, né?
Crê que esse momento atual da música brasileira é comparável com os anos 60 e 70 ou é pretensão?
Considero que a criatividade é presente em qualquer cenário, porém, acredito que estou inserida num bom momento para a música, assim como nos anos 60 e 70, em que os manifestos se comunicavam em todas as formas de expressões artísticas. Também me sinto inspirada e inserida numa geração que busca mostrar, demonstrar, divulgar, provar ou reprovar.
Há tempos que não vimos uma renovação no cenário do rock nacional com propostas criativas que saiam do retrô, das referências de Beatles, Stones, Dylan, The Who, Doors, Janis… A que você atribuiu a crise do rock nacional?
Não vejo crise no rock nacional. Vejo crise no mercado do rock nacional. Sinto que esse mercado fonográfico tem medo do novo, do contemporâneo. Por isso a repetição e o amor ao retrô(cesso). Não nego tudo que aprendi ouvindo Jim Morrison e Janis Joplin, mas acima deles admiro ainda mais o Thiago Pethit e a Karina Buhr, por exemplo. Porque são artistas que fazem a diferença mesmo depois de ter existido Jim Morrison e Janis Joplin.
O que significa ser rock and roll nos dias de hoje para você?
Acho que ser rock and roll nos dias de hoje é uma questão de sobrevivência. Significa quebrar paradigmas e assumir uma posição perante o mundo. Significa sair de cima do muro.
O Prata da Casa deste mês foi dedicado às cantoras. Na sua opinião, em que aspecto as mulheres poderiam contribuir mais com a luta pela igualdade de gênero por meio da música?
Abordar o assunto e perpetuar ideias feministas nas letras, por exemplo, é uma maneira de contribuir para a desconstrução do machismo, que ainda é tão presente na literatura musical brasileira. O fato de ser mulher e cantar sobre essas questões pode vir a ser uma metalinguagem interessante.