“Fazemos um rap mais para o cérebro do que para o estômago”. A frase é de Paulo Napoli, um dos artistas mais experientes dentre os presentes na coletânea Direto do Laboratório, lançada pela Trama. O álbum se propõe a expor o novo hip hop nacional e mostrar que os artistas desse gênero são capazes de fazer boas experimentações musicais e de atingir o público sem a violência das letras e das batidas mais antigas.

Vendido por um preço incomum para os padrões atuais (R$15, em média), o álbum traz uma mistura entre artistas veteranos, como SP Funk e Potencial 3, e outros novatos, como Projeto Manada e Elo Corrente. Assim como afirma Munhoz, produtor do Ascendência Mista, “alguns desses grupos têm um estilo mais próprio, enquanto outros estão se achando, brincando de mexer com a música brasileira”. Entretanto, apesar das diferenças, “o que ajuda é o mesmo estado de espírito, bastante gente absorvendo as mesmas informações”, como diz Napoli.

O rapper apresenta um perfil diferenciado dentro do grupo. É branco, filho de classe média, formado em jornalismo. Ainda assim, afirma que sua condição social e o diploma não o distinguem musicalmente dos demais.

O lançamento da coletânea foi uma iniciativa da Trama para resgatar dentro da gravadora seu núcleo de hip hop. E quem realmente se deu bem com o projeto foram os artistas. Apesar de não receberem cachê, todos eles são unânimes em dizer que possuir uma faixa no álbum garante uma ótima exposição, uma vez que a gravadora oferece uma boa infraestrutura e divulgação.

Para Munhoz, Direto do Laboratório vai desmistificar uma série de coisas em relação ao hip hop. Paulo Napoli acredita que esse e outros projetos podem dar uma nova dimensão ao estilo. “Hoje, usamos a língua portuguesa mais do que se fazia antigamente. Ela é ampla, versátil. Não queremos só protestar. O caminho está aberto para falarmos de novos assuntos. Fazemos do rap Ritmo e Poesia, o seu exato significado”.

O rapper reclama muito da posição atual da imprensa em relação ao hip hop. Por ser jornalista, mostra que tem mais credibilidade para falar sobre esse tema: “Também sou jornalista. A mídia fala de fora para dentro, com um olhar meio deslumbrado. A mídia é pautada pelo que vem de fora e deixa passar coisas interessantes que acontecem aqui dentro. Já vi ‘papagaiadas’ na Folha e no Estado, gente que não entende. Falta gente capaz de falar sobre o assunto”.

Pois bem, a Trama está querendo exatamente romper essa barreira, esse preconceito contra o rap nacional. Será que vai conseguir? Paulo Napoli responde: “A coletânea tem tudo para dar certo. É uma coisa nova, diferenciada dentro do rap”.


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RESENHA: Direto do Laboratório

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