Ronnie Von sofre de juventude, como Tom Zé já se definiu. Aos 69 anos, ele é ao mesmo tempo ícone de elegância e também de rock’n’roll e psicodelia. Por esses últimos, pode-se atribuir a sua fase mais experimental, entre o final dos anos 60 e começo dos 70. São dessa época três discos clássicos, que foram relançados este ano em vinil: Ronnie Von (69), Minha Máquina Voadora (69) e A Misteriosa Luta do Reino de Parassempre Contra o Império de Nuncamais (70).
Mais conhecido hoje por ser aprensentador do Todo Seu, da TV Gazeta, ele não perde a pose, mas deixa transparecer opiniões fortes sobre o atual estado da indústria fonográfica e o mercado musical. “Eu acho que o grande tiro no pé da indústria fonográfica foi a digitalização. Claro, a gente não vai remar contra a maré, isso é inevitável. Mas acabou a indústria fonográfica aí. Porque piratear CD é a coisa mais fácil do mundo. Você pega uma capa 30cm x 30cm, com aquele livro que tem nos encartes, aquelas fotos maravilhosas, praticamente, se for um close, é o nosso rosto em tamanho natural. As músicas, você pode escolher, a agulha, é toda uma coisa tão psicológica quanto física”, avalia em entrevista ao Virgula Música, nos estúdios da rádio Joven Pan.
Ronnie lembra também que o reconhecimento da sua fase psicodélica veio do exterior. “Existe uma publicação austríaca que determina quais foram os mais importantes discos do mundo, e aparece lá o meu como o melhor disco de rock psicodélico do mundo. Imagina eu, coitadinho, brasileirinho. Os colecionadores correram em cima. Um amigo meu chegou a comprar em Tóquio esse vinil por US$ 4.800, isso é um absurdo”, diz.
O Príncipe, que esclarece nunca ter sido da Jovem Guarda e aponta a existência da prática de jabá – pagamento em troca de execução de música -, admite ter vontade de voltar a compor, mas não o faz por falta de tempo e por não compactuar com o atual estado da indústria. “Hoje eu tenho vergonha, honestamente, se o tempo me permitisse fazer show, eu ia ter uma certa dificuldade de fazer uma gravação porque se você não tem milhões no banco, você está fadado a ser um grande fracasso”. Leia a seguir a entrevista na íntegra.
Ronnie, você surgiu como uma espécie de Justin Bieber da música brasileira. Tinha uma coisa da beleza que chamava atenção… (ri, desconcertado) E depois você deu uma guinada em direção à psicodelia.
Não, na verdade…
Onde eu queria chegar é no seguinte. Que artistas de hoje você acha que poderiam fazer essa transição? De uma opção de estética musical radical?
A minha pergunta é, ainda existe mercado fonográfico? Porque isso é passível de todas as discussões. Jamais apareci como um Justin Bieber, eu tinha outra proposta. E nada me incomodava mais que menininho bonitinho, não sei o quê.
Príncipe…
Me incomodava profundamente. A minha visão é aquela, não da psicodelia em si, mas da tentativa de levar um conteúdo, talvez, na época, de contestação. Também não é uma coisa tão subterrânea, tão underground, não.
Eu queria, por exemplo, a grande vingança que eu tive em termos musicais foi dada pelos Beatles com o arranjo do George Martin para uma música chamada Eleanor Rigby, no disco mais emblemático que eles fizeram para mim, que é o Revolver. Muito mais que Sgt. Pepper’s (Lonely Hearts Club Band) e quetais.
A minha ideia era tentar de alguma maneira essa fusão, do erudito com o extremamente popular. Com o extremamente popular, com a eletrônica, que na época se chamava música eletrônica, guitarra elétrica…
Jimi Hendrix…
Talvez. Esse um craque de bola, esse um ídolo também meu.
A minha geração, de fato, conseguiu uma mudança de comportamento do mundo. Isso é revolução, só que a nossa não teve tiro, não teve sangue, não teve nada. Foi uma revolução de mudança de comportamento social, sem sangue, com música. Eu tenho muito orgulho de ter vivido isso.
Mas esse é um país rotulador, você não consegue se desvincular nunca disso. Onde quer que você vá, por mais informada que seja a situação, em termos de televisão ou de música, vão dizer, o Ronnie, o príncipe da jovem guarda.
Eu nunca fiz parte da jovem guarda. Já não tenho nem voz para dizer isso. Não adianta. Esse é um país rotulador, eu sou o Ronnie da jovem guarda. Nunca fui ao programa da jovem guarda, que era um programa de televisão. Não é que eu tivesse alguma coisa contra, pelo contrário, Era até um tipo de leitura mais ingênua. Eu já queria trazer uma contribuição intelectual, essas bobagens de garoto que acabou de sair da faculdade.
E o fato de eu ter já uma formação acadêmica, isso fazia com que as pessoas me cobrassem também. Quer dizer, os meus pares. Mas para o público em si, ou a mídia, principalmente a impressa, eu era, como você falou, Justin Bieber, ou hoje, como se fala, emo. Eu não tive essa visão, jamais passei por esse tipo de pensamento. Eu queria levar alguma coisa com conteúdo. Eventualmente, hoje, eu até consigo com o programa de televisão.
Ronnie Von – Viva o Chopp Escuro, 1970
Te incomoda de alguma maneira, no momento em que seu material é relançado, e você tem uma discografia sólida, importante, de você para as crianças de hoje ser o Ronnie apresentador?
Não necessariamente, até por que existe um aspecto que deve ser colocado aí, que é a cronologia, isso é uma coisa inexorável, não tem jeito. Eu tive minha juventude devolvida e isso me foi mostrado pelo meu filho, o mais novo (Leonardo, Léo Vonn), que ele é músico.
E o Léo, imagina, bacharel em propaganda e marketing, pós graduado, tudo, quer ser músico. Não tem jeito, aconteceu comigo, igual. Bom, o que acontece em relação a história da psicodelia que foi redescoberta é que criaram-se comunidades, que meu filho me mostrou, assim: Eu amo tio Ronnie, Tio Ronnie é rock and roll na veia, Tio Ronnie é psicodelia pura, Eu vejo tio Ronnie. É claro que tem uma, Tio Ronnie o primeiro emo, também tem. Tudo isso, de certa forma, me devolve essa juventude que está sempre adormecida.
A cronologia não conta numa hora dessas. Meu pai tem 96 anos e ele diz, você vai ter, eternamente, no máximo 20. É que seu corpo não vai entender. Se você estiver com a tua cabeça funcionando, você vai ter 20. O corpo não aceita isso de jeito nenhum. Quer dizer essa é a minha visão. Eu apareço como apresentador, mas sempre tem alguma coisa de música. E sempre tem alguém que lembra, lembra daquilo?
Essa história do relançamento do disco, ele aconteceu de uma forma bastante inusitada. Esse foi um aspecto na minha vida de de vingança emocional porque eu nunca tive quem me orientasse, eu nunca tive quem me dissesse como me comportar, o que gravar…
O que gravar, sim, o departamento de vendas da gravadora dizia, olha, grava isso aqui, que isso aqui vende. Eu era ignorante e muitas vezes forçado a fazer aquilo que eu não queria, aliás, a vida inteira eu engoli sapos. Ouve uma época em que eram sapos escorregadios, dava para você engolir de alguma maneira. Quando começaram com a ideia de eu engolir crocodilo com aquele rabo assim (mostra), aí ficou chato.
Trocaram a presidência da gravadora na época, o presidente da gravadora foi para a Itália e o dos Estados Unidos veio para cá. Houve uma defasagem de um mês até que isso se estabelecesse. E eu tinha uma obra a cumprir, como se falava. Entrei no estúdio com Damiano Cozzela, fizemos o disco psicolédico, que foi sequência de um que eu havia feito com (Rogério) Duprat e os Mutantes antes. Mas aí quebraram o disco, disseram que eu era um louco, que eu estava jogando o dinheiro da gravadora no lixo, foi um terror, um absoluto filme de terror.
Ronnie Von – Silvia: 20 horas, Domingo
Foi o A Misteriosa Luta…?
Esse aí foi o segundo… Isso aí foi o seguinte, a gravadora dizia, sempre o pessoal de vendas, dizia o seguinte, você não dá nome aos seus discos, é tudo Ronnie Von. Precisa dar nome. Diziam, não, tem de ter um conceito, me atormentavam.
Não tem, então, está bom. Botei o nome do disco de A Misteriosa Luta do Reino de Parassempre Contra o Império de Nuncamais. E os títulos das minhas canções também achavam que eram muito curtos. Perfeitamente: De Como Meu Herói Flash Gordon Irá Levar-me de Volta A Alfa do Centauro, Meu Verdadeiro Lar.
De Como Meu Herói Flash Gordon Irá Levar-me de Volta A Alfa do Centauro, Meu Verdadeiro Lar
Queria ver um disc-jockey um comunicador, dar esse nome. O nome é maior que a própria música.
De repente, isso foi descoberto, porque o disco foi uma grande fracasso comercial, para colecionadores e pessoais ligadas a vinil. Existe uma publicação austríaca, que determina quais foram os mais importantes discos do mundo, e aparece lá o meu como o melhor disco de rock psicodélico do mundo. Imagina eu, coitadinho, brasileirinho. Os colecionadores correram em cima. Um amigo meu chegou a comprar em Tóquio esse vinil por US$ 4.800, isso é um absurdo.
Aí começaram a piratear isso. E a melhor de todas as edições foi a Argentina, um CD, mas com um libreto dento, tudo que você puder imaginar. Muito bem feito, impecável, contando a minha vida inteira, cheia de fotografias, fotos de estúdio. Aí resolveram lançar aqui.
Quando eu digo inusitado foi pelo seguinte, entrou uma moça e disse, olha, eu fui incumbida de trazer isso aqui para você. Os três disco de vinil que foram lançados e me deram um de cada. Eu nem sei o que eu ia fazer com tanto disco, fiquei muito feliz de qualquer maneira, eu nem sabia que estavam fazendo isso. Eu tenho vitrola, aquelas coisas todas, achei o máximo, estou adorando essa ideia e, repetindo mais uma vez, que como colecionador de vinil e como amante dessa fase, eu estou vingado, muito feliz e com a juventude devolvida.
Na sua opinião, o que um ouvinte perde em relação ao arquivo musical, de não ter o objeto para colecionar, para se construir uma memória afetiva?
Olha, o aspecto físico se confunde com o psicológico numa hora dessas. Para alguém que tem uma certa idade, a memória visual é muito importante. Existem capas absolutamente emblemáticas, que você vê a capa, você se lembra, o próprio Sgt. Pepper’s, que nós falamos agora há pouco, para falar de Beatles, que também lança um disco em 68 que não tem nada, é uma capa branca.
Pink Floyd, você olha, puxa, vida. Levei o Yes outro dia ao meu programa, parecia que eu tinha 20 anos de idade de novo. Levo todo o pessoal que fazia parte dessa turma. O Deep Purple, que hoje tem integrantes que fazem carreira solo, do próprio Pink Floyd, fazem carreira solo.
Eu levo esse pessoal todo no meu programa e eu fico naquele encantamento com a memória afetiva devolvida. Mas um CDzinho que você vai ter que ler com lente, aquela coisa digital, é só botar numa copiadora, aquilo é a matriz, você faz quantas você quiser, não tem o valor de uma peça única porque ninguém consegue reproduzir um vinil, a não ser numa prensa, que pesa parece que sete toneladas, não tem como. É uma outra realidade.
Eu acho que o grande tiro no pé da indústria fonográfica foi a digitalização. Claro, a gente não vai remar contra a maré, isso é inevitável. Mas acabou a indústria fonográfica aí. Porque piratear CD é a coisa mais fácil do mundo. Você pegar uma capa 30cm x 30cm, com aquele livro que tem nos encartes, aquelas fotos maravilhosas, praticamente, se for um close, é o nosso rosto em tamanho natural. As músicas, você pode escolher, a agulha, é toda uma coisa tão psicológica quanto física.
É como ler jornal e livro. Eu em nenhuma época da minha vida imaginei ou possa imaginar que vá ler um livro digital. Eu tenho que pegar, abrir, ver, sei lá, ilustrações, mas gráficas. Jornal, igual, leio todo dia jornal e dessa maneira.
O que você acha dos caras da sua geração como Paul McCartney, Neil Young, que estão na ativa, de vez enquando não te dá vontade de subir no palco, fazer uma música, gravar um disco?
Vontade de fazer música, vontade de gravar, tenho. Palco é uma coisa complicada porque eu não tenho tempo mais. Eu trabalho de domingo a domingo praticamente e tenho um negócio paralelo, da comunicação, embora não seja tão fora assim. Hoje eu tenho quatro entrevistas, dois programa de televisão e a gravação de um vinheta para fim de ano que a emissora precisa. Ainda tem o meu programa que é ao vivo. Amanhã, tudo de novo e mais e ainda fiquei sabendo ainda que tem uma homenagem para mim em uma escola de samba, vou ter que ir lá para quadra conhecer o pessoal, conversar com eles e tudo.
Domingo tem o dia inteiro tomado, também de trabalho. Que horas eu poderia subir num palco para cantar? E hoje, se alguém investe em você, ele vai ter que ter um retorno disso, disco não vende mais. Ele vai ter que ter esse retorno com show. Show eu não faço. Então é o cachorro correndo atrás do rabo porque eu não posso gravar porque se eu gravar eu vou ter que devolver em show. E show eu não posso fazer.
É rock and roll de outra maneira…
Bem rock and roll e cada dia mais porque você vai ficando com mais idade e você começa a ter uma seletividade. E você começa a ouvir normalmente só as coisas que você gosta. Para você descubrir, garimpar coisas novas é um pouco mais difícil. Mas como eu tenho filho músico, ele vai me induzindo por certos caminhos e eu acabo entrando. Então, ouço hoje praticamente tudo, mas só o que eu gosto.
Rose Ann – Ronnie Von
Os amigos do seu filho pedem opinião se alguma música ficou boa?
Pedem, claro, ele também pede sempre. É por aí? A visão mercadológica, ela pode mudar, mas a parte musical, de conteúdo, é permanente porque é a verdade. Os movimentos não são musicais mais, os movimentos são comerciais.
Hoje eu tenho vergonha, honestamente, se o tempo me permitisse fazer show, eu ia ter uma certa dificuldade de fazer uma gravação porque se você não tem milhões no banco, você está fadado a ser um grande fracasso.
Na minha época, o processo era inverso. Você tinha que ter uma origem extremamente humilde, você tinha que vir de uma comunidade muito miserável para que as pessoas te valorizassem. Aí você tinha um trabalho pronto…
Você sofreu preconceito por isso?
Nossa. Preconceito às avessas o tempo inteiro. Filhinho de papai, calcinha de veludo, você não pode imaginar o que eu passei. Eu ouvia em rádio que eu estava ocupando o lugar de alguém que precisava. Quem precisava era eu, que a família me execrou, fui morar aqui na praça Júlio de Mesquita, num hotelzinho daqueles que você sabe, com aquelas moças de vida difícil, que aquilo não é vida fácil. Rufião, polícia, tiroteio, facada, e eu ali o menininho, calcinha de veludo, como as pessoas me diziam…
E isso influenciava sua música, certamente?
Ah, sim, claro, porque eu tentava sublimar o meu cotidiano. Muito bem, eu vi essas histórias todas. Hoje, a coisa virou, se você não tem de fato muito dinheiro ou não tem um patrocinador ou um investidor, eles chamam de investidor hoje, se não tem um investidor para bancar execução em rádio, por exemplo, você está rachado em banda.
Eu estou aqui numa emissora de rádio e abro o peito para te dizer isso, eu sei porque tenho filho músico. Tem tabela. Tem ta-be-la. Se você é sertanejo, porque hoje qualquer coisa é sertanejo, não tem mais música, é difícil. Sertanejo não é sertanejo, música urbana com acordes de música sertaneja, duplas, etecetera, o preço é muito alto. Se você é pop, diminui, se você é MPB vai diminuindo cada vez mais as tabelas para você fazer sucesso.
Isso é uma coisa que me parece, sei lá, eu não teria adjetivos para dizer isso. Ou seja, o conteúdo não interessa mais, interessa quanto você vai pagar. Pagou mais, toca mais, aparece mais, faz mais sucesso. Não pagou, tchau e benção, vai tocar na noite, no botequim.
O talento é uma coisa que não existe hoje. Talento hoje é uma coisa passível de discussão. Não adianta você ter talento, isso é bobagem. Não aqui.
Ronnie Von – Você de Azul
Você dizia que o grande desafio nos anos 60 era unir o erudito e o popular, um caminho que os Beatles abriram, isso foi resolvido esteticamente ou tem outra questão agora no ar, como é o seu feeling em relação a isso?
De qualquer maneira permitiu algo que foi, de fato, o último movimento musical do Brasil, a tropicália. Vou tentar explicar, eu tive muito envolvido com eles, cheguei a fazer parte do grupo, mas os empresários entenderam e eu fui convencido, imagina, que era um movimento efêmero, que ia passar, não ia dar em nada. E, eu, ingenuamente, acreditei nos corretores, não é?, Que ninguém tem empresário, que cuida de carreira, isso não existe. Tem os corretores que administram o seu sucesso e vende você, vende você para fazer shows. É isso.
Na época, (Gilberto) Gil estava numa situação bastante confortável com a MPB, fizeram até passeata contra a guitarra elétrica, e o Gil, inclusive, estava nessa. De repente, ele não deu ouvidos a isso e passou a dar ouvidos à modernidade, ao up-to-date, ao que estava acontecendo. E ele misturou MPB ao que se chamava de música eletrônica na época com uma coisa antológica, que foi Domingo no Parque, música pela qual eu tenho paixão. Aí, nasceu a tropicália, era a fusão de uma forma que eu tinha um respeito de quase erudição, que era o jazz, e o jazz teve como filhote a própria bossa nova, junto com rock and roll ié, que era a minha escola, era o que eu gostava mesmo, rock and roll.
Esse tipo de movimento conseguiu me vingar, de certa forma me senti confortável vendo que isso estava acontecendo. Não foi com o erudito clássico, que é Eleanor Rigby, uma música do século 18, com uma letra corretíssima, mas de certa forma eu consegui fazer isso no disco psicodélico.
Uma faixa pelo menos eu fiz, quarteto duplo de cordas e madeiras, regência do Damiano Cozzela com uma arranjo primoroso, com uma letra que você não sabe se é um quadro do Salvador Dalí ou do René Magritte, a coisa mais surrealista que eu fiz na minha vida, um texto de um produtor musical, compositor, que hoje as pessoas não imaginam que seja tão antenado como era. Que é o Arnaldo Saccomani. Todo mundo pensa que ele é produtor de música sertaneja, nada. É um intelectual.
Como chama essa faixa?
Espelhos Quebrados. Talvez seja a música que eu mais goste e a que eu mais tenha orgulho de ter gravado. Não é
tecnicamente a melhor, tecnicamente a melhor que eu gravei até hoje na minha vida chama-se Visagem. É uma música do Fagner e do Fausto Nilo, com arranjo de Cesar Camargo Mariano. E essa música eu gravei na Som Livre.
Ronnie Von, Visagem
Por que você considera importante resgatar esses seus trabalhos para as gerações atuais?
Olha, a minha visão é muito simples, hoje não existe mais a coisa experimental, ninguém tem mais coragem de fazer isso. Hoje, o mainstream, como eu falei agora pouco, é música que chamam de sertaneja, e que não é sertaneja, música sertaneja é uma outra coisa. O que o Almir Sater faz, o que o Renato Texeira faz, o que o Tonico & Tinoco faziam, são essas coisas que acontecem eventualmente com Rolando Boldrin, com Inezita Barroso. Esse tipo de música, é música do sertão, moda de viola, são coisas primorosas e é Brasil puro.
Agora, você usar, acorde de terças e de sextas, com uma dupla cantando música absolutamente urbana, com problemas absolutamente urbanos, e chamar de sertanejo é discutível. Mas isso tudo hoje é sertanejo. É só isso, não tem outra vertente em que você possa se inspirar.
Claro que existem heróis e quixotes ainda fazendo música de qualidade. Rock, até mesmo pop rock. Não estou dizendo que não tenho qualidade em música sertaneja, estou dizendo que é só uma coisa.
Monocultura…
É monocultura. E a MPB também sofre muito. Essas coisas. E ninguém tem coragem de fazer coisas experimentais. Isso é para mostrar que uma megaloucura dessas que eu fiz há 45 anos, acabam sendo redescobertas. Acho que é isso que vale na vida. Você tem que ser de alguma maneira lembrado por aquilo que você fez.