O concreto vai rachar domingo (30) no Porão do Rock, em Brasília, quando a lendária banda local Plebe Rude voltar ao festival, quebrando um hiato desde 2015. Eles apresentam pela primeira vez no DF o show Primórdios, com canções de 1981 a 1983, a maioria nunca gravada.
Em sua 21ª edição, o festival, rola neste sábado e domingo, em Brasília, no estacionamento do Estádio Nacional Mané Garrincha. São 46 atrações que se apresentam em três palcos.
Entre os destaques estão Cordel do Fogo Encantado (PE), CPM 22 (SP), Devotos (PE), Francisco El Hombre (SP), Gangrena Gasosa (RJ), Korzus (SP), Krisiun (RS), Letrux (RJ), Pavilhão 9 (SP) e Plebe Rude (DF)).
Leia nossa entrevista com Philippe Seabra, cantor e guitarrista.
Vocês vão fazer o show do Primórdios? O que a galera pode esperar desse show?
Philippe Seabra – O projeto Primórdios nasceu quando tive a ideia de escrever minha autobiografia depois de ler o livro Meninos em Fúria do meu colega de banda, e líder dos Inocentes, Clemente com Marcelo Rubens Paiva. E durante a pesquisa do livro, trocava ideias com o co fundador da Plebe André X e começamos a lembrar de quão legal aquele repertório do início era, mesmo que soterrado embaixo do peso e impacto dos discos Concreto Já Rachou e Nunca Fomos tão Brasileiros.
Entre 81 e 83 a Plebe tocou nas quebradas de Brasilia, no underground paulista e até em Patos de Minas no lendário show da estreia da Legião onde todos foram presos. O repertório é cru, pesado mas espantosamente atual. Foi um projeto muito fácil e divertido para a gente montar e o momento era esse. Agora sim, os primórdios do rock de Brasília da década de 80 está registrada e entre as músicas do Renato do Aborto Elétrico e esse da Plebe, está tudo ali.
O DVD Primórdios resgata o começo do Rock de Brasília dos 80 da maneira mais direta e crua possível. Os shows entre 81 e 83 eram exatamente assim, com a gente contando histórias e descendo a pancada sonora na cabeça da plateia. E no final da apresentação filmada, da para sentir uma leve evolução na banda, com o instrumental mais intrínseca e as letras mais trabalhadas, porém sem perder o impacto. Volta e meia algum colega de outra banda chega na gente falando que deveríamos nos reinventar, sugestão que gentilmente declinamos, para não mandá-los a merda, mas mesmo assim é espantoso ver a renovação de público na plateia da Plebe. Aparece muita gente nova, e não porque os pais ouviam a banda. É porque nesse mar de música insossa eles têm sede de coisa boa, séria e contundente.
Já a importância da banda são os historiadores que vão dizer, mas é bacana ter passado esse tempo todo, 37 anos de cabeça erguida navegando tranquilamente entre o mainstream e o alternativo sem jamais perder o norte. Sim, vale a pena ter princípios.
Em que aspectos considera que a banda antecipou o futuro?
Philippe – Das duas, uma. Ou éramos videntes ou nada mudou no Brasil. Mas comparar quando começamos e os dias de hoje é difícil. São duas eras diferentes, mas recentemente até que os extremos das duas eras começaram a se encontrar. O que antes era censura federal agora é censura moral, de uma silenciosa maioria que se esconde atrás das redes sociais, onde todo imbecil tem uma opinião.
O inimigo era mais nítido naquela época, onde apanhávamos da polícia e mandávamos as músicas para a censura. Agora o linchamento é em praça pública quando algo sai da norma das redes sociais. Claro que tem exageros e sim tem que denunciar, mas no geral é preconceito e intolerância.
No nosso caso, sempre usamos a música para denunciar então não é nada novo para a gente, mas para quem nunca teve uma voz, e sempre algumas ideias equivocadas, a internet é a perfeita plataforma para espalhar esse ódio.
É uma pena que uma ferramenta tão poderosa, que seria indistinguível de magia nos anos oitenta, é usado para disseminar notícias falsas e ideias preconceituosas. O que torna a nossa missão inconsciente de usar o espaço que a Plebe tem na mídia de maneira responsável mais urgente ainda. E o triste é que as nossas denúncias, críticas e comentários sociais não envelhecem nunca. A maioria das letras poderiam ter sido escritas ontem.
Como artista me sinto feliz com a relevância das letras, da obra, mas como cidadão e pai, fico aflito a constatação que realmente nada mudou nesse país.
Que característica considera a mais marcante da sua geração?
Philippe – A curiosidade intelectual e a urgência de tentar fazer alguma diferença.
Que está rolando de mais interessante na música hoje?
Philippe – No underground tem muita coisa fervilhando que me lembra da entusiasmo dos artistas do começo da década de 80, mas no mainstream – o que chega à grande mídia é vergonhoso. Uma tragédia nivelada por baixo, muito baixo. Por isso que resolvemos gravar o DVD Primórdios para mostrar de onde veio todo o inconformismo da Plebe.
Confesso que queria ver mais inconformismo de artistas que tem espaço na mídia, mas todos parecem só estar preocupado com o leite das crianças. Todo período difícil na história da humanidade é refletida nas artes. E conosco em Brasília não foi diferente. Nossa arma para combater a repressão e a censura foi a música e o poder da palavra. E até hoje vejo arte da mesma maneira, especialmente nesse mar de complacência e idiotice que toma conta da mídia. Não faço mais que minha obrigação como cidadão e artista ao mostrar que não precisamos nivelar por baixo. Jamais.
Crê que exista algo tipicamente de Brasília no som da Plebe?
Philippe – Crescer numa cidade praticamente da nossa idade, sede do poder e ver toda essa baderna de perto fez toda diferença do mundo. Inspiração tivemos por todo lado mas a diferença é que tínhamos as ferramentas necessárias para expressar isso de maneira lúcida. Essa ferramenta era leitura e, mais uma vez, a curiosidade intelectual, coisa rara hoje em dia. Brasília inspirou muito o Renato Russo e a Plebe.
Sempre falava para o Renato, se não fosse Brasília nada disso teria acontecido. Se alguém tem uma tendência artística eventualmente ela se manifestará mas por ter sido em Brasília naquele momento no espaço tempo, saiu como saiu. E ressoa até hoje.
PROGRAMAÇÃO PORÃO DO ROCK 2018
29 de setembro
Palco 1:
16h: Ursa (DF)
17h: Clausem Vitrola Sound (DF)
18h20: Froid (DF)
19h55: Deb & The Mentals (SP)
21h30: O Tarot (DF)
23h05: Braza (RJ)
0h55: CPM 22 (SP)
Palco 2:
16h30: Matamoros (DF)
17h40: Drenna (RJ)
19h15: Monstros do Ula Ula (RJ)
20h35: Orquestra Brasileira de Música Jamaicana – OBMJ (SP)
22h10: Pavilhão 9 (SP)
00h15: Nuggetz (DF)
02h05: Nação Zumbi & Bnegão (PE/RJ)
Palco 3:
16h15: Desonra (DF)
16h55: Seconds of Noise (DF)
17h45: Deaf Kids (RJ)
18h35: Fallen Angel (DF)
19h25: La Raza (SP)
20h35: Cadibode (DF)
21h25: Project 46 (SP)
22h45: Agressivo Pau Pôdi (DF)
23h35: Gangrena Gasosa (RJ)
00h40: Deceivers (DF)
02h: Krisiun (RS)
30 de setembro
Palco 1:
16h: Ellefante (DF)
17h: Centropia (DF)
18h20: Lupa (DF)
19h55: Cordel do Fogo Encantado (PE)
22h15: Letrux (RJ)
00h30: Matanza (RJ)
Palco 2:
16h30: O Plantae (DF)
17h40: Molho Negro (PA)
19h: Francisco El Hombre (SP)
21h05: Plebe Rude (DF)
23h10: Barão Vermelho (DF)
Palco 3
16h15: Never Look Back (DF)
16h55: Damn Youth (CE)
17h45: P.U.S. (DF)
18h35: Bruto (DF)
19h25: Totem (DF)
20h15: Devotos (PE)
21h35: Device (DF)
22h25: Pense (MG)
23h25: DFC (DF)
00h25: Korzus (SP)