Vinda da terra do Axé, a roqueira baiana Pitty surgiu em um momento em que o rock nacional perdia seu brilho. Na sua infância ouviu Beatles, Elvis e teve contato com uma fita de um conterrâneo, Raul Seixas. Mais velha, conheceu o peso de Faith No More, Nirvana e Metallica. Como vocalista do grupo underground Inkoma, Pitty teve oportunidade de entrar em contato com os palcos, e assim que surgiu a oportunidade de lançar ‘Admirável Chip Novo’, não hesitou. Após se consagrar como sucesso na TV e nas rádios de todos o Brasil, a roqueira da terra do Axé já conquistou um espaço mais do que respeitável na cena nacional. Pitty lançou recentemente o CD ‘Anacrônico’ e contou para o Virgula Música um pouco sobre seu show no Rock In Rio-Lisboa, suas influências, seu processo de composição, etc. Confira!

Virgula Música – Como foi o Rock In Rio-Lisboa? Você gosta de tocar em festivais desse porte ou prefere casas pequenas?

Pitty – Foi melhor do que eu esperava, achei que menos pessoas iriam se interessar de cara por uma banda mais desconhecida, mas a reação foi muito boa. Acho massa tocar em festival, rola aquela adrenalina de muita gente junta. Mas tocar em lugar menor tem o charme do olho no olho, e me deixa mais próxima das minhas raízes. Cada um tem seu atrativo.

Virgula Música – Após o sucesso de ‘Admirável Chip Novo’, rolou uma certa pressão na hora de fazer ‘Anacrônico’? Houve uma certa ‘obrigação’ de se superar?

Pitty – Não da nossa parte, a expectativa maior era externa. A gente estava tranqüilo porque tínhamos feito músicas que a gente realmente gostava e acreditava, e em nenhum momento eu pensei em superação no sentido de vendas ou popularidade. Queria superar no quesito musical; crescer. Mas isso é algo que na minha opinião deve existir sempre, senão você estaciona.

Virgula Música – Mesmo após o sucesso, você sente que ainda rola um preconceito com o seu estilo?

Pitty – Não necessariamente preconceito, mas é algo mais segmentado, não popularesco. Rock sempre foi uma coisa de minoria e isso não me assusta.

Virgula Música – O que você acha do cenário atual da música brasileira?

Pitty – Tenho visto uma coisa significativa e animadora, que é o fato de as gravadoras independentes e os selos estarem lançando bandas que vêm do meio alternativo, que já estão na estrada e têm uma história. Isso é bacana porque acabam aparecendo coisas verdadeiras, comprometidas com o som e com o conceito, e não necessariamente com a moda do momento, ou o comércio.

Virgula Música – Em entrevista ao Virgula, o Nasi elogiou muito a parceria que rolou no acústico do Ira!, o resultado te agradou? Tem alguma parceria em mente para o futuro?

Pitty – Foi foda, um momento realmente especial pra mim. Me senti lisonjeada e afortunada por estar ali com aqueles caras que eu já admirava tanto, e eles foram tão generosos comigo que possibilitou aquela química. Não tenho nenhuma parceria prevista, mas isso é algo espontâneo, qualquer hora pode rolar.

Virgula Música – Levando em consideração a referência de ‘Admirável Chip Novo’ a Aldous Huxley, você se inspira na literatura na hora de compor?

Pitty – Bastante, mas de forma natural, não é algo pensado, racional. Simplesmente leio algo que me dá vontade de escrever e aí vai.

Virgula Música – Quais são suas principais influências? O que você ouve no dia-a-dia?

Pitty – Muita coisa diferente, rolam umas fases. Ouço desde coisa nova até coisa antiga e também estilos diferentes. Ando muito apaixonada por coisas como Portishead e Kid A do Radiohead, mas adoro jazz e big bands, tem uns lances orientais que me encantam também. Tudo depende, e eu não tenho barreiras. Basta me tocar de alguma forma e eu ouço.

Virgula Música – ‘Anacrônico’ saiu faz pouco tempo, mas você já tem material novo? Você compõe constantemente ou determina épocas para isso?

Pitty – Não determino épocas. Na verdade, deixo rolar. Percebo que fico mais criativa quando estou de bobeira, o chamado ócio criativo é totalmente verdadeiro pra mim. Tenho alguns esboços de música pro próximo disco, mas como só penso em gravar daqui a um tempo, não tenho pressa.

Virgula Música – Nessas turnês que você faz pelo Brasil, tem alguma banda nova que chamou sua atenção?

Pitty – Tem várias, banda boa não falta por aí. Tem uns caras de Cuiabá que são massa, chamam Macaco Bongue. O Vanguart, de lá, é bem legal também. Eskimó, do Rio; Sangria, de Salvador. Vi outro dia uma menina cantando que achei foda, acho que era Blue Bell o nome.

Virgula Música – Você considera que a cena independente finalmente está sendo reconhecida ou é só indústria se aproveitando do momento?

Pitty – Acho que finalmente nego percebeu que essa história de fabricar o sucesso do momento não funciona mais. Não engana mais ninguém, e eles estão indo buscar na cena alternativa.

Virgula Música – Em todo começo de banda, a internet funciona como principal ferramenta, mas, e depois de estourar, muitos artistas a tratam como uma vilã, com você é assim também?

Pitty – Rsrsrs, de forma alguma! Considero a internet uma grande aliada, sempre. Acho um grande meio de pesquisa e informação sobre tudo. E ainda é um meio democrático e eficaz.


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'Queria superar no quesito musical, crescer', confira a entrevista com a roqueira Pitty